A moeda digital brasileira, o Drex, ainda não foi lançada, mas já enfrenta um desafio imenso no âmbito da comunicação. Nos mais de 95 mil grupos públicos de WhatsApp analisados pela Palver, é possível identificar ataques ao Drex que remetem a agosto do ano passado. A campanha de desconstrução faz uso de desinformação para criar medo na população.
Os ataques empregam analogias envolvendo a China e controle governamental para destruir a reputação do Drex. No vídeo de maior repercussão, o interlocutor aponta que, após a China ter implementado a moeda digital, a população não tem mais liberdade para comprar os produtos que deseja, mas apenas aqueles que o governo autoriza.
A Yuan Digital, que foi apelidada nos grupos de WhatsApp como o Drex Chinês, é pioneira nas moedas digitais, ou CBDC (Central Bank Digital Currency), registra Felipe Bailez e Luis Fakhouri, da Folhapress. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump proibiu o desenvolvimento de uma moeda digital na última quinta-feira (23), buscando impulsionar a utilização das criptomoedas. Curiosamente, o republicano lançou sua própria criptomoeda no dia 17 de janeiro.
No monitoramento da Palver, observa-se que a oposição utilizou parte desse sentimento de medo e aversão à moeda digital e direcionou ao Pix, principalmente por conta do monitoramento das transações. A questão da taxação foi a cereja do bolo.
O Drex deve ser lançado pelo Banco Central em 2025, mas o contexto não é nada favorável. A enorme repercussão negativa envolvendo o Pix ligou um alerta vermelho na comunicação do governo federal. Na primeira reunião ministerial do ano, realizada no último dia 20, o presidente Lula cobrou seus ministros e ordenou que as medidas governamentais passem pela Casa Civil antes de serem publicadas.
A decisão visa evitar novas derrotas na disputa de narrativas, tal como aconteceu com o caso do Pix. Contudo, essa orientação tende a reduzir a eficiência do governo e criar gargalos no dia a dia da gestão. Toda e qualquer medida estruturada pelos ministérios, por mais simples que seja, está sujeita ao escrutínio da Presidência, por meio da Casa Civil.
A preocupação do presidente Lula é legítima, uma vez que o impacto na população, e, mais do que isso, a percepção da população, pode determinar o sucesso ou fracasso das medidas governamentais. No entanto, o método escolhido dificilmente produzirá resultados positivos ao governo.
Com as medidas passando pelo Palácio do Planalto, um grupo de pessoas terá que antecipar como será a percepção da opinião pública e tentar antever possíveis ataques da oposição. Sem critérios objetivos de escolha, esse processo tende a criar bastante desgaste no próprio governo e aumentar o poder da Casa Civil.
Quem irá se beneficiar com isso é a oposição, que a toda medida lançada continuará fazendo um trabalho de comunicação contrária. Cada recuo do governo será celebrado como uma conquista, tal como foi no caso do Pix, enfraquecendo o governo.
Se Lula é comparado a Getúlio Vargas, com todas as ressalvas Nikolas Ferreira (PL) é o seu Carlos Lacerda. Com uma máquina de comunicação nas mãos, procura direcionar o sentimento das pessoas contra qualquer medida governamental. No caso do Pix, um dos vídeos de Nikolas viralizou e foi o segundo mais assistido de todo o Instagram.
Nas situações em que o tema for aquecido previamente, como está acontecendo com o Drex, a discussão pública já nasce decidida. Se não houver uma estratégia objetiva de monitoramento das redes, qualquer turbulência causada pela oposição colocará o governo contra a parede, e as decisões de recuo ou enfrentamento vão encontrar respaldo apenas na aleatoriedade.