Em seu discurso de posse, o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acentuou o papel solitário de sua pasta em Brasília: “Vocês sabem quão isolada a equipe econômica fica na Esplanada [dos Ministérios]. É sempre o patinho feio da Esplanada. Nós aceitamos esse cargo, mas para fazer o bem para a população.”
Trata-se de um comentário surpreendente. Pois na maioria dos governos, na verdade, a Fazenda é considerada um dos órgãos mais poderosos. Permanecendo nas metáforas ornitológicas: em vez de “patinho feio”, esse ministério é uma temida águia – quando faz seu trabalho direito.
É significativo que Haddad minimize sua futura importância, pois depende do próprio ministro o grau de força ou debilidade de seu cargo.
Explicando: hierarquicamente, o ministro da Fazenda está sempre sob o comando do presidente, subordinado a suas diretrizes. Porém um ministro forte, com uma linha clara para sua pasta, tem um grande campo de ação para decidir que verbas liberar ou bloquear.
Ministro forte ou mero executor de ordens?
Um exemplo da Alemanha: de 2009 a 2017, sob a chefe de governo Angela Merkel, Wolfgang Schäuble era um dos ministros mais poderosos do gabinete. Ele implementou sua política de austeridade e saneou as finanças do país – embora a maioria dos demais ministros e ministras preferisse ter um orçamento maior à disposição.
Também o Brasil teve ministros da Fazenda fracos e fortes: Pedro Malan (1995-2003) mostrou força sob Fernando Henrique Cardoso, concentrando-se em conter a inflação e sanear o setor financeiro. Eram diárias suas brigas com ministros que queriam mais verbas. Mas FHC lhe deu respaldo por saber que uma moeda forte e inflação baixa lhe dariam mais força política.
Diferente de Guido Mantega (2006-2015), que deteve o cargo sob Luiz Inácio Lula da Silva e sob Dilma Rousseff, aplicando o que seus chefes exigiam dele. Sem perfil próprio, ele sacrificou as metas inflacionárias e endividou fortemente o país. Por ordens de Dilma, não fez nada para impedir a inflação de subir.
É exatamente este o dilema de Haddad: no momento, não parece que ele seja capaz de se impor frente a seu partido ou, sobretudo, a Lula. Isso explica a desconfiança dos investidores em relação aos anúncios que fez em sua posse. A bolsa de valores segue caindo, o dólar sobe.
O verdadeiro “superministro da Economia”
Por um lado, isso se deve ao fato de seus colegas de gabinete e o presidente já o terem colocado diante de fatos consumados.
Por exemplo, primeiro Haddad anunciou que o governo daria fim à isenção de impostos sobre combustíveis – afinal, o que se deixa de arrecadar com eles resulta em um quinto do déficit orçamentário. No entanto, Lula – temendo o possível protesto da classe média pela alta da gasolina, e o dos caminhoneiros – prorrogou a subvenção, com a opção de mantê-la até o fim do ano.
Quando agora Haddad se refere a uma reforma tributária e a uma nova âncora fiscal, investidores saúdam seus anúncios. Porém estão céticos de que o PT ou o próprio Lula vão sustentar as decisões e as propostas de reforma do ministro, em vez de lhe dar uma nova rasteira. Também os irrita que Haddad quase não mencione a intenção de manter a meta inflacionária.
Agora não há mais um “Posto Ipiranga”, explicou o chefe de pasta – a fim de marcar a diferença em relação ao antecessor Paulo Guedes, que Jair Bolsonaro nomeou “superministro da Economia”, para depois retirar gradativamente seus poderes. Agora há toda uma rede de ministérios para a economia, completou Haddad.
É bem possível que ele esteja ignorando que o novo superministro da Economia se chama Lula.