Em 47 cidades de países de quatro continentes, inclusive no Brasil, cientistas encontraram novas substâncias psicoativas. Efeito é similar a anfetaminas ou cocaína, mas alterações moleculares contornam leis antidrogas.O exame dos esgotos de 16 países revelou 18 novas substâncias psicoativas (NSP) com efeitos semelhantes aos de drogas urbanas conhecidas. Estima-se tratar-se de uma estratégia do narcotráfico para se manter na dianteira da lei, contornando as restrições legais que, em diversos países, estão associadas a substâncias e composições químicas específicas.
Uma equipe liderada por cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, analisou em três períodos de Ano Novo, entre 2019 e 2022, amostras das águas usadas de 47 cidades da Europa, América, Ásia e Oceania, entre as quais Brasil, Estados Unidos, Espanha, Itália, França, China e Coreia do Sul.
As 18 novas drogas detectadas são análogas a psicotrópicos vendidos ilegalmente, porém com a estrutura molecular ligeiramente alterada. “Essas substâncias são sintetizadas para substituir as banidas, dificultando a aplicação da lei para controlar sua circulação”, explica o estudo.
Narcotráfico aproveita lacunas legais
A pesquisa mostrou que NSPs estão sendo usadas em todo o mundo, porém não revelou tendências regionais fortes. As catinonas sintéticas – relacionadas ao estimulante encontrado na planta khat (Catha edulis), nativa da África Oriental e da Península Árabe – foram a classe química mais frequente.
Uma delas, a 3-metilmetacatinona (3-MMC), foi isolada em níveis especialmente elevados na Europa, sobretudo na Espanha e Eslováquia. Detectada no continente nos primeiros exames, de 2019, ela se espalhou para a América do Norte e Oceania nos anos seguintes.
Feniletilaminas, cujo efeito é semelhante ao das anfetaminas e benzodiazepinas sintetizadas, também apareceram com frequência. Sete substâncias psicoativas com efeitos comparáveis aos do ecstasy e da cocaína – entre as quais mefredona, etilona e eutilona – foram detectadas exclusivamente na Austrália.
Nos Estados Unidos, encontraram-se nos esgotos cargas especialmente pesadas do opioide de origem vegetal mitraginina. A FDA, departamento americano para controle de alimentos e substâncias, tem advertido sobre os perigos da planta kratom (Mitragyna speciosa), mas atualmente a mitraginina não está submetida a controle federal,