O Alzheimer é a forma mais comum de demência entre idosos. Embora seja amplamente estudada, a causa da doença ainda é desconhecida. Em um artigo publicado nesta terça-feira (20), o professor de química Donald Weaver, diretor do laboratório Krembil Research Institute, parte da University Health Network, no Canadá, sugere segundo Bethânia Nunes, do Metrópoles, que a condição seja uma doença autoimune que afeta o cérebro.
“Com base em nossos últimos 30 anos de pesquisa, não pensamos mais na doença de Alzheimer como principalmente uma doença do cérebro. Em vez disso, acreditamos que é um distúrbio do sistema imunológico dentro do cérebro”, escreve Weaver, em artigo publicado no portal Science Alert.
Alguns medicamentos sendo desenvolvidos para a doença concentram esforços no bloqueio da formação de blocos da proteína cerebral beta-amilóide, acreditando que ela seria a causa da doença. Weaver tem a teoria de que a substância não seja produzida em escala exagerada nos pacientes com Alzheimer, mas sim de forma normal, fazendo parte do sistema imunológico do cérebro. A chave pode estar em como o corpo reage.
“Quando ocorre um trauma cerebral ou bactérias estão presentes no cérebro, a beta-amilóide é um dos principais contribuintes para a resposta imune abrangente do cérebro. E é aqui que começa o problema”, sugere.
As semelhanças entre as moléculas de gordura presentes nas membranas das bactérias e as membranas das células cerebrais faria com que a proteína atacasse por engano as células cerebrais que deveriam ser protegidas, causando um processo autoimune. A consequência seria a perda crônica e progressiva da função dessas células, ocasionando na demência.
A artrite reumatoide é um exemplo de doença autoimune, e é tratada com terapias baseadas em esteroides. O professor explica que, embora o caminho para desenvolver novos medicamentos para o Alzheimer pareça óbvio com suas descobertas, o cérebro é um órgão muito completo e a abordagem não deve ser eficiente — porém, mais estudos devem ser feitos com o novo direcionamento.
“Embora as drogas convencionalmente usadas no tratamento de doenças autoimunes possam não funcionar contra a doença de Alzheimer, acreditamos fortemente que direcionar outras vias de regulação imunológica no cérebro nos levará a novas e eficazes abordagens de tratamento para a doença”, afirma.
Aproximadamente 1,2 milhão pessoas vivem com alguma forma de demência no Brasil e, em todo o mundo, o número chega a 50 milhões de pessoas. A organização sem fins lucrativos Alzheimer’s Disease International estima que os diagnósticos globais chegarão a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050.