Bolsonaro convidou o ex-juiz e ex-ministro da Justiça para o debate de domingo por meio de um telefonema na semana passada; senador eleito passou a apoiar ostensivamente a reeleição do atual presidente contra o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva
Após pedir demissão do Ministério da Justiça e acusar Bolsonaro de interferir na Polícia Federal, Moro saiu de crítico para o papel de apoiador da reeleição de Bolsonaro, sob o pretexto de evitar a volta do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ao Planalto. O maior gesto foi concretizado no domingo, 16, com sua ida de Moro para o debate realizada pela Band TV. O senador eleito auxiliou Bolsonaro no programa e foi reapresentado como uma linha auxiliar do atual governo no combate à corrupção.
O convite para Moro ir ao debate foi feito pelo próprio presidente em um telefonema na semana passada. O ex-juiz havia sido convidado para uma reunião com senadores eleitos no Palácio do Planalto, no último dia 5, mas optou por não estar no encontro. Desta vez, porém, ele aceitou o convite para ir ao confronto com Lula e muniu o chefe do Executivo de perguntas sobre os esquemas de corrupção do PT e a transferência de líderes do crime organizado para presídios federais.
A conversa entre Bolsonaro e Moro ocorreu segundo Daniel Weterman, após intermediação do ex-secretário de Comunicação Social do governo Fabio Wajngarten, que coordena a comunicação da campanha de Bolsonaro. A deputada federal eleita Rosangela Moro (União Brasil-SP), mulher do ex-juiz, também foi entusiasta da reaproximação, com o discurso de unir forças para derrotar Lula no segundo turno.
De acordo com interlocutores, o gesto de Moro serviu para reaproximar o senador eleito do núcleo bolsonarista. O ex-ministro poderá agora realimentar expectativas de ser nomeado ao Supremo Tribunal Federal (STF) se Bolsonaro for reeleito. No próximo ano, duas vagas serão abertas na Corte. A indicação é feita pelo presidente da República e precisa ser aprovada no Senado.
As pretensões de Moro vão além e podem até render uma candidatura ao Planalto em 2026. Com a reaproximação, o senador eleito tenta consolidar um papel de liderança na direita e reforçar seu próprio nome nesse campo. “Para o Moro, foi uma tacada de mestre”, afirmou o deputado federal Junior Bozzella (SP), vice-presidente do União Brasil em São Paulo e responsável pela filiação de Moro no partido.
Na opinião do dirigente partidário, a aliança traz ganhos para o senador eleito, mesmo que não atraia novos votos para Bolsonaro.
E se Lula ganhar?
Interlocutores afirmam que uma vitória de Lula nas urnas dificultaria a vida de Moro no Congresso. O ex-juiz teme ser alvo de tentativas de cassação do mandato no Senado e de uma nova onda de questionamentos de sua atuação como magistrado da Lava Jato. O senador eleito foi convencido de que fazer campanha para Bolsonaro reforça a posição de que ele sempre foi contra o PT e o recoloca como nome da direita no cenário nacional
“Isso é para mostrar que o inimigo do meu inimigo é o meu amigo”, disse Pablo Marçal, que se juntou à campanha de Bolsonaro e pode assumir uma vaga Câmara em 2023 após decisão da Justiça. Marçal também motivou o presidente a fazer a reaproximação após ter contatos com o senador eleito. “Conhecendo um pouco do Moro, acho que ele não descartou a possibilidade do STF e, se fizer tudo direitinho, tem tudo para ser um grande nome para a Presidência da República.”
A aliança com Moro também é vista na campanha de Bolsonaro como uma forma de mostrar que críticos do PT devem estar juntos para derrotar Lula no segundo turno e foi vista como contraponto ao apoio do ex-candidato do Novo à Presidência João Amoêdo a Lula.
Por outro lado, ex-integrantes da Lava Jato manifestaram preocupação com o posicionamento do senador eleito e afirmam não terem entendido o gesto. O orçamento secreto, mecanismo de pagamento de emendas parlamentares criado no governo Bolsonaro, é um dos esquemas mais criticados por investigadores no momento.
Já no primeiro turno, Moro colou sua imagem na campanha de Bolsonaro e venceu a eleição para o Senado no Paraná, derrotando o deputado federal Paulo Martins (PL), outro aliado do atual presidente, e o veterano Alvaro Dias (Podemos), que perdeu a cadeira na Casa.
Após o debate, os dois justificaram o aceno como uma nova fase do “casamento”. “Você nunca brigou em casa, não, com o marido? De vez em quando, um pouquinho, uma briguinha acontece. Divergências tivemos algumas, mas nossas convergências são muito maiores”, disse Bolsonaro ao lado do ex-ministro. O senador eleito negou ter negociado algum cargo no Executivo, sem responder a uma pergunta sobre indicação ao STF. “Meu plano é representar a população paranaense no Senado. Não tenho intenção de integrar o Poder Executivo, não fui convidado e nem me convidei para isso.”