Diante da homologação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Barbosa Cid, a cúpula do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entrou em campo para minimizar o impacto da medida.
Nos bastidores, segundo Cristiano Zaia, Andrea Jubé e Marcelo Ribeir, do jornal Valor, outra ala de bolsonaristas admite preocupação com os desdobramentos das investigações que envolvem o ex-mandatário, que o PL vê como ativo eleitoral.
“Não há a menor preocupação nossa [com a delação]”, disse ao Valor o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, reafirmando que Bolsonaro será o principal cabo eleitoral do partido nas eleições municipais de 2024. Ele adiantou que quando tiver alta das cirurgias a que se submeterá nesta semana, Bolsonaro ficará em São Paulo, em agendas pré-eleitorais com prefeitos e filiados.
“Existe preocupação é com o exagero do Poder Judiciário [na condução das investigações]”, ressalvou. O dirigente do PL criticou as prisões de pessoas que participaram dos atos de vandalismo às sedes dos Poderes em 8 de janeiro, que considera abusivas.
Valdemar argumentou, ainda, que “não existe nada que envolva dinheiro público” contra Bolsonaro. Questionado sobre o suposto esquema de venda ilegal de joias e outros presentes de chefes de Estado estrangeiros ao governo, que alcança Mauro Cid e o pai dele, general da reserva Mauro Lourena Cid, o dirigente do PL alega que não há regulamentação sobre o assunto, e minimizou a venda de um relógio Rolex, do acervo de presentes oficiais, em transação que envolveu Mauro Cid, o pai dele, e o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef.
Em contrapartida, um deputado da bancada bolsonarista ponderou que é preciso ficar atento porque a ofensiva contra Bolsonaro está ganhando ritmo, e Cid era praticamente a “sombra” do ex-presidente. Então é preciso ter algum receio do que ele possa ter revelado às autoridades, embora não acredite que algo possa comprometer o ex-presidente.
Já pessoas próximas da família e do entorno do ex-presidente temem que parte da delação respingue na ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. A apreensão é de que a delação possa resgatar e revelar, com mais detalhes, o episódio dos pagamentos de cartão de crédito de Michelle feitos por Cid.
Há receio de que se isso se confirmar, leve ainda mais desgaste à imagem da ex-primeira-dama, que tem pretensões políticas e não abandonou a participação em eventos do PL, e junto ao público evangélico.
A mesma fonte acrescentou que há temor de repetição do que houve na Operação Lava-Jato, quando diversas delações movimentaram o Judiciário e o noticiário, e depois caíram por terra. “Foram denúncias que não se comprovaram, mas que causaram muita turbulência”, disse a fonte do entorno do ex-presidente.
Bolsonaro ainda mantém o receio de ser preso. A leitura é de a delação de Mauro Cid seria mais um capítulo da suposta trama para prendê-lo. A estratégia, no entanto, continua sendo sustentar que Bolsonaro e Michelle estão “tranquilos” e vêm sendo alvos de perseguição. Na noite de quinta-feira, 7 de setembro, Michelle, acompanhada de Bolsonaro, adotou essa linha. Ela chorou e reiterou que sua família está sendo perseguida durante culto religioso em Taguatinga, no entorno de Brasília.