Auxiliares do presidente Lula da Silva (PT) dizem que o mandatário não deve reagir nem fazer qualquer movimento político por causa do discurso de Arthur Lira (PP-AL) com cobranças ao governo na abertura do ano Legislativo, na segunda-feira (5). A intenção de Lula é deixar a temperatura baixar para procurá-lo.
Nesta segunda-feira, o deputado afirmou que “errará” quem apostar na omissão do Congresso por causa do ano eleitoral, disse que parlamentares não são meros carimbadores de decisões do Executivo e cobrou “cumprimento de acordos” por parte do governo.
Lula não pretende segundo Sérgio Roxo e Jeniffer Gularte, do O Globo, se encontrar com Lira antes do carnaval. O presidente cumpre agendas no Rio e na quinta-feira irá a Minas Gerais. Um ministro com gabinete no Palácio do Planalto diz que o presidente da Câmara fez uma fala para agradar aos seus colegas deputados e manter seu bloco de apoio unido.
A leitura dominante no entorno de Lula é que Lira tenta compactar a sua base para ter forças na definição do seu sucessor no comando da Câmara, em fevereiro do próximo ano. O entendimento no Planalto é que o poder do comandante da Casa Legislativa vai se reduzindo conforme o fim de seu mandato fica mais próximo. Um auxiliar de Lula diz que a ampulheta virou e agora há uma contagem regressiva para acabar o seu período à frente do comando da Câmara.
Lira também estaria, na visão do Planalto, incomodado por alguns ministérios estarem tratando da liberação de recursos para parlamentares de forma direta, sem passar pelo presidente da Câmara. Diante desse clima, o governo pretende tentar postergar a apreciação dos vetos de Lula aos R$ 5,6 bilhões de emendas de comissão no Orçamento e ao estabelecimento de um cronograma para o pagamento de emendas na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
A ideia é fazer a negociação diretamente com os líderes das bancadas, sem a intermediação do presidente da Câmara, que rompeu o diálogo com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
A avaliação é que Lula não cogita a hipótese de tirar Padilha da articulação política. Caso fizesse um movimento neste sentido, estaria cedendo à pressão e dando poder ao presidente da Câmara, que não é visto pelo governo como um aliado.
Lira manda recados
Em discurso de abertura do ano Legislativo, ocorrido na segunda-feira, Lira enviou vários recados ao governo, como a necessidade de um controle maior do Legislativo sobre o Orçamento.
— Errará, insisto, errará grosseiramente qualquer um que aposte numa suposta inércia desta Câmara dos Deputados neste ano de 2024. Seja em razão das eleições municipais que se avizinham, seja, ainda, em razão de especulações sobre eleições para a próxima Mesa Diretora, a ocorrerem apenas no próximo ano — afirmou o presidente da Câmara.