O presidente Lula da Silva (PT) e a coordenação política do governo esperam o fim da eleição para fazer um balanço mais detalhado da disputa municipal. Já é certo que a esquerda saiu derrotada, mesmo que ganhe alguns embates importantes no segundo turno, e que o Centrão, a direita e o conservadorismo se fortaleceram. A dúvida segundo Daniel Pereira, da Veja, é sobre a elasticidade do placar final.
Numa avaliação preliminar feita após o primeiro turno, diante da constatação do revés sofrido, governistas retomaram a ladainha de que é preciso melhorar a comunicação do governo. Há uma insatisfação com o fato de a melhora de indicadores econômicos, como crescimento da economia, do emprego e da renda, não ter gerado pontos positivos na avaliação do governo — nem votos nas urnas.
Em São Paulo, por exemplo, o deputado Guilherme Boulos (PSol), apoiado por Lula, enfrenta dificuldades para conquistar o eleitorado mais pobre, que, desde o início da campanha, era visto como a sua principal aposta para crescer e derrotar o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição. Segundo pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, 17, Nunes tem 51% de intenções de voto nas projeções de segundo turno, contra 33% de Boulos.
Inspiração no bolsonarismo
Além de reforçar a divulgação de dados positivos da economia, aliados de Lula alegam ainda conforme a revista, que o governo precisa eleger bandeiras capazes de promover engajamento e mobilização popular, exatamente como fazem Jair Bolsonaro (PL) e segmentos da direita. Há o diagnóstico de que a agenda petista, sustentada por retomada do PIB e programas sociais, já não basta e, por isso, é preciso avançar.
O problema é escolher as bandeiras e torná-las convincentes. Ex-ministro da Casa Civil e dirigente histórico do PT, José Dirceu acha que o governo deveria priorizar o debate na área de segurança pública, onde os bolsonaristas nadam de braçada. A sugestão de Dirceu é priorizar o trabalho de inteligência — e não a repressão, como faz a direita — para enfrentar desde as grandes organizações criminosas até os crimes cotidianos que atormentam a população, como o roubo de celulares.
Há meses, Lula prometeu um plano ambicioso para a área, mas a chamada “PEC da Segurança Pública” está em banho-maria. Até hoje, o presidente e o PT não encontraram um jeito para lidar com esse tema. Por isso, ministros sugerem outras bandeiras mobilizadoras, como a educação em tempo integral, que permitiria a mais mulheres, que formam a maioria do eleitorado, dedicar mais tempo para a carreira profissional. Outra ala defende investimento pesado no empreendedorismo, considerada uma nova e potente demanda social. Por falta de rumo, esse debate ainda vai longe.