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terça-feira 11 de fevereiro de 2020 às 13:03h

Aliados de Bolsonaro se dividem sobre comando do Aliança

DESTAQUE, POLÍTICA


Afastados do PSL e determinados a criar o ‘Aliança pelo Brasil’, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro divergem sobre nomes para liderar seu campo político em São Paulo e ainda buscam um candidato à prefeitura para chamarem de seu.

Se o primeiro racha no bolsonarismo afastou deputados paulistas como Joice Hasselmann (PSL), Júnior Bozzella (PSL) e Alexandre Frota (PSDB, ex-PSL), aqueles que se mantiveram fiéis ao presidente e constroem a Aliança enfrentam nova divisão, dessa vez envolvendo Paulo Skaf (MDB) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL).

Enquanto Bolsonaro estreita a relação com Skaf e o presidente da Fiesp (Federação da Indústria do Estado de São Paulo) é cotado para presidir a Aliança em São Paulo, a militância de movimentos de direita rejeita o nome do empresário e prega que Luiz Philippe assuma a sigla.

A indefinição sobre o comando partidário afeta o cenário nebuloso de nomes cotados para a prefeitura paulistana. Hoje aquele com possibilidade de receber a bênção de Bolsonaro é o apresentador José Luiz Datena, mas sua candidatura é incerta e ele também enfrenta resistência da ala à direita.

Embora Bolsonaro tenha dito que, caso a Aliança não se viabilize para 2020, ele não apoiará candidatos a prefeito, aliados do presidente em São Paulo acreditam que não faz sentido ele se abster na principal disputa do país.

Em evento no último sábado (8) que reuniu representantes de movimentos conservadores, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) chegou a cogitar Luiz Philippe não só como dirigente regional da Aliança, mas como candidato a prefeito de São Paulo.

Segundo reportagem do jornal O Globo, a deputada levantou a bandeira de uma chapa formada por Luiz Philippe e por Tomé Abduch, empresário e ativista do Nas Ruas, grupo do qual ela fazia parte. Ela também demonstrou insatisfação com Skaf.

O encontro, que teve a presença de Luiz Philippe, Zambelli e Karina Kufa, advogada e tesoureira da Aliança, reuniu os militantes de direita num hotel na zona norte de São Paulo para incentivá-los na coleta de assinaturas e para tirar dúvidas sobre o processo de criação do partido.

Os movimentos, ao lado de cartórios e evangélicos, têm sido importante ferramenta na aquisição das 492 mil assinaturas necessárias para colocar a Aliança de pé.

Os militantes preparam, para o dia 15 de março, uma manifestação na avenida Paulista a favor da prisão em segunda instância e da criação do partido. Representantes de cartórios irão até o ato para fazer o reconhecimento de firma.

Foi esse público que ovacionou Luiz Philippe como futuro presidente estadual da legenda. O deputado agradeceu os elogios, mas evitou “assumir” o posto – tudo depende do aval de Bolsonaro. Procurado pela reportagem, Luiz Philippe não comentou.

Quanto a Skaf, a postura dos militantes é outra. No último dia 4, o Movimento Conservador chegou a fazer uma enquete em sua página no Facebook sobre a possibilidade do empresário liderar a Aliança em São Paulo e a reação dos seguidores foi negativa.

“Skaf não se encaixa nos nossos ideais. Ele foi citado em investigação da Lava Jato, é do MDB. Queremos alguém sem vícios da velha política. A militância não o vê com bons olhos, isso é unânime praticamente”, diz Edson Salomão, presidente do Movimento Conservador.

Investigação da Polícia Federal concluiu que Skaf recebeu verba ilícita da Odebrecht em sua campanha ao governo de São Paulo em 2014. A assessoria de Skaf afirma que todas as doações recebidas foram registradas na Justiça Eleitoral.

Procurado pela reportagem, Skaf não comentou a posição dos militantes de direita.

O empresário Gabriel Kanner, presidente do Brasil 200, grupo de empresários alinhados a Bolsonaro, minimiza a resistência a Skaf na Aliança.

“Não tenho visto essa rejeição. Acho que se tiver um nome forte, conhecido e que tenha o apoio de Bolsonaro, haverá união. Mais importante que o nome, é a pessoa defender ideias alinhadas com as pautas do governo federal”, diz.

O mesmo vale para um candidato a prefeito, seja Datena ou Luiz Philippe. Os empresários aguardam a indicação de um nome pelo presidente. “Vamos rejeitar só quem for de esquerda, se a pessoa escolhida estiver alinhada com Bolsonaro provavelmente terá nosso apoio”, afirma Kanner.

O elo entre Bolsonaro e Skaf se fortaleceu a ponto de o presidente dizer em evento na Fiesp, na semana passada, que o empresário “conseguiu um emprego” de porta-voz em seu governo. Skaf, entusiata da Aliança, tem acompanhado o presidente em seus compromissos em São Paulo e é apontado como um possível candidato para o Governo de São Paulo em 2022.

O alinhamento ao presidente, conforme publicou o jornal Folha de S.Paulo, provocou insatisfação de associados com o comando da Fiesp.

Para Salomão, Luiz Philippe é uma boa opção para a direção da Aliança e para a Prefeitura de São Paulo. “É um nome de consenso, pela capacidade, por ser ponderado”, resume.

O presidente do Movimento Conservador, porém, ao contrário de Zambelli, acha que Luiz Philippe e Tomé formariam uma chapa pouco diversa, pois ambos são empresários. Salomão, que no ano passado se colocou à disposição do bolsonarismo para ser o candidato em São Paulo, diz que poderia compor como vice do deputado por liderar um movimento que tem mais força na periferia.

Além de Salomão, outros nomes surgiram ou se promoveram no vácuo bolsonarista em São Paulo, como o deputado estadual Gil Diniz (PSL), que é próximo do deputado federal Eduardo Bolsonaro, mas é investigado após um ex-assessor denunciar prática de “rachadinha”, o que ele nega.

Também já foram mencionados em rodas de apoiadores de Bolsonaro o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e os evangélicos Marco Feliciano (sem partido) e Celso Russomanno (Republicanos), embora a militância veja os dois últimos com poucas chances. Feliciano, por exemplo, diz que não se coloca como candidato e apoia Datena.

O apresentador também sofre rejeição. Direitistas não esquecem que ele já foi filiado ao PT e o classificam como socialista. Datena, no entanto, agrada a família Bolsonaro, mas também não dá certeza de que irá concorrer neste ano.

Quanto à Aliança em São Paulo, o nome de Eduardo Bolsonaro também aparece como natural para a direção partidária. Ele era o presidente do PSL paulista antes do racha com Luciano Bivar e seria aceito pela militância.

Kufa, a tesoureira da Aliança, não descarta a possibilidade de Eduardo assumir o diretório, embora parte dos ativistas considere que ele pode não ter tempo para isso.

“Pode ser uma decisão dele não assumir, mas quando estava no PSL conseguiu gerir o partido e fazia atendimentos toda segunda-feira em São Paulo, mostrando que sabe gerir bem o seu tempo mesmo diante de muitos compromissos e responsabilidades”, diz Kufa.

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