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quarta-feira 22 de março de 2023 às 18:00h

Aliados de Bolsonaro fazem associação entre fala de Lula sobre Moro e plano de facção alvo da Polícia Federal

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Nas redes sociais, parlamentares bolsonaristas adotaram a estratégia de fazer uma associação entre uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em entrevista na terça-feira, sobre o senador Sergio Moro (União-PR) e a operação deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira contra um grupo criminoso acusado de planejar a morte do parlamentar e de outras autoridades. Um levantamento feito por Marlen Couto, do O Globo, com base em dados do CrowdTangle, plataforma de monitoramento da Meta, aponta que o tema apareceu em postagens de ao menos oito políticos e influenciadores do campo bolsonarista nas últimas horas no Instagram.

Juntas, suas postagens tiveram pouco mais de 300 mil curtidas e comentários na rede social. No Facebook, a tática se repetiu, mas alcançou menos engajamento. O conteúdo com maior impacto na plataforma, por exemplo, gerou menos de 20 mil interações, desempenho inferior ao habitual no campo bolsonarista.

As investigações apontam que a retaliação a Moro pela facção criminosa alvo da operação seria motivada por mudanças no regime de visitas em presídios implementadas durante sua gestão no Ministério da Justiça e Segurança Pública, no governo de Jair Bolsonaro (PL). Em 2019, Moro editou uma portaria que baniu o contato físico entre detentos e visitantes, estabelecendo que os encontros só ocorreriam no parlatório, onde um vidro separa os presos de familiares e amigos, que passaram a só se comunicar por meio de interfone.

Na entrevista à TV 247, enquanto comentava sobre o período em que esteve preso em Curitiba por decorrência da Operação Lava-Jato, Lula contou que quando era visitado por procuradores na sede da Polícia Federal e eles perguntavam se estava tudo bem, respondia:

— Não está tudo bem. Só vai ficar tudo bem quando eu f* esse Moro. Eu sempre dizia que estava lá para me vingar dessa gente. Sempre que entrava um delegado, eu falava: Se prepare que eu vou provar (a inocência).

Quem mais gerou engajamento com a associação foi a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). A parlamentar fez duas postagens com mais de 150 mil curtidas e comentários com uma montagem que junta a frase de Lula a informações sobre operação desta quarta-feira. “Troquem os personagens e imaginem se fosse Bolsonaro no lugar de lula. A imprensa lulista estaria pedindo a prisão dele. Hoje, ela tenta passar pano para a fala criminosa de lula que, segundo ele, não foi de ontem, era recorrente. E por ela ele deve ser responsabilizado!”, escreveu.

Postagem de Carla Zambelli — Foto: Reprodução

Postagem de Carla Zambelli — Foto: Reprodução

Os deputados do PL Filipe Barros (PR) e Carlos Jordy (RJ) e o ex-deputado Fernando Francischini (União-PR) também lançaram mão da estratégia. Barros afirmou em uma postagem que a declaração de Lula era “a autorização” que a facção criminosa “precisava para executar o plano”.

Uma página de apoio do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) também recorreu a montagens para associar a declaração ao plano contra Moro. Em uma delas, a conta destacou que a facção criminosa envolvida quer “f…” Moro, mesma palavra usada por Lula na entrevista.

Na legenda, a página afirma que busca “mostrar todo o mal que o Lula está causando ao Brasil” e faz uma falsa acusação de que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PCdoB), teria ligação com uma facção criminosa por participar de uma agenda pública na favela da Maré, no Rio, na semana passada. No início da semana, Dino encaminhou queixa-crime ao ministro Alexandre de Moraes contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), além de outros parlamentares, por postagens na mesma linha.

Já o deputado federal Deltan Dallagnol (União Brasil-PR) relacionou os dois episódios, mas de forma menos explícita. No texto, afirmou que “os criminosos querem vingança. Querem “ferrar” Sergio Moro, cada um com suas armas”, uma referência à fala de Lula.

Não contabilizado no levantamento, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez uma vinculação mais ampla à esquerda. O ex-chefe do Executivo fez uma publicação em suas redes sociais em solidariedade ao ex-ministro da Justiça e juiz da Lava-Jato e, sem provas, fez uma associação do caso ao assassinato em 2002 do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, e à facada contra ele mesmo, em 2018.

Em meio à ofensiva nas redes, Flávio Dino reagiu e criticou nesta quarta-feira tentativas de politização da operação da Polícia Federal.

— É vil, leviana e descabida qualquer vinculação a esses eventos com a política brasileira. Eu fico realmente espantado com o nível de mau caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria. Investigação essa que é tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo — afirmou o ministro.

Preso por planejar atentado a Moro foi solto por ministro do STF em 2020

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