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O ministro do Supremo, Alexandre de Moraes Carlos Moura/SCO/STF
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quarta-feira 10 de agosto de 2022 às 06:11h

Aliados de Bolsonaro costuram trégua com Alexandre de Moraes

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A proximidade das eleições e da posse do ministro Alexandre de Moraes no comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) podem produzir segundo a jornalista Malu Gaspar, em sua coluna no O Globo, um acordo tido como impossível até outro dia.

Aliados de Jair Bolsonaro vêm articulando uma trégua na guerra pública com Moraes, que assume a presidência do TSE no próximo dia 16. Segundo três ministros ouvidos pela equipe da coluna, a iniciativa foi autorizada pelo próprio Bolsonaro, que acompanha de perto o desenrolar das negociações.

A expectativa no Palácio do Planalto é de que o “armistício” se dê em torno de uma ou duas propostas sobre a segurança do sistema eleitoral entregues pelos militares ao TSE.

Por essa razão, o diálogo mais direto tem se dado entre o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Bruno Bianco, Moraes, e o chefe de gabinete do ministro – e futuro secretário-geral do TSE –, José Levi, que tem bom trânsito entre os militares. Levi foi advogado-geral da União de Bolsonaro entre abril de 2020 e março de 2021.

Os dois pontos em que os militares esperam alguma concessão do TSE são o teste de integridade e o Teste Público de Segurança (TPS). No TPS, as urnas são colocadas à prova por ataques de hackers, com experts tentando violar as barreiras de segurança do sistema eletrônico.

Os militares querem que as novas urnas compradas pelo tribunal passem pelo TPS, tal como os aparelhos de modelos mais antigos, com a participação de especialistas e empresas credenciadas. No teste realizado em maio pelo TSE, os novos modelos não foram submetidos a esse procedimento.

Já no teste de integridade, destacado pelo ministro da Defesa em julho em uma audiência no Senado, é feita uma espécie de votação paralela à oficial, com cédulas em papel.

Esses votos depois são registrados em um sistema eletrônico para confrontar se o que foi registrado nas cédulas foi devidamente contabilizado na urna. Os militares querem a realização do Teste de Integridade em urnas aleatórias, no dia da votação, com eleitores voluntários usando a biometria para se registrar.

Segundo relatos de aliados de Bolsonaro, inicialmente o presidente queria de Moraes o compromisso de encerrar o inquérito das fake news – que tem entre os alvos Carlos e Eduardo Bolsonaro.

Sobre esse ponto, porém, não houve sequer abertura para conversa. O presidente, então, topou concentrar a negociação em torno do sistema eleitoral e das urnas eletrônicas.

Nas últimas semanas, o núcleo político da campanha à reeleição e lideranças do Centrão têm constatado nas pesquisas qualitativas que os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas afastam o eleitor médio, que está mais preocupado com a economia e rejeita a radicalização.

No governo, é grande a torcida para que se chegue a um denominador comum até a próxima segunda-feira, dia 15. Essa foi a condição imposta por Bolsonaro para comparecer à posse de Moraes, na terça (16), para a qual foram convidadas 2 mil pessoas. O presidente, porém, tem dito que só vai se houver acordo.

Em se tratando de Bolsonaro e Moraes, porém, nada é tão simples. Fontes que acompanham as discussões afirmam que a principal dificuldade de chegar a um consenso é que os dois lados têm a preocupação com as consequências de ceder em algum ponto e parecerem derrotados aos olhos do eleitorado (no caso de Bolsonaro) e da opinião pública (do lado de Moraes).

Por isso, além do acordo em si, é preciso combinar a narrativa em torno dele. Um dos pontos que vem sendo repetido pelos interlocutores do presidente nas conversas de bastidores é que Moraes, diferentemente de Fachin, não é de esquerda ou “comunista”.

Portanto, as divergências que o ministro acumulou com Bolsonaro ao longo do tempo não seriam ideológicas e sim fruto de desentendimentos pessoais – o que tornaria o conflito mais fácil de ser superado.

O futuro presidente do TSE, no entanto, já foi chamado de “canalha” e “totalmente parcial” pelo atual ocupante do Palácio do Planalto.

Vieram de sua caneta algumas das decisões que mais incomodaram bolsonaristas, como a prisão do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), e a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem para a chefia da Polícia Federal. Moraes também comanda os inquéritos das milícias digitais e o das fake news – este, aberto há mais de três anos.

Já interlocutores de Moraes alegam que, no fundo, algumas das exigências dos militares são banais e não faria diferença nenhuma atendê-las.

Contudo, ainda não está claro nem para os interlocutores de Moraes e do ministro da Defesa ouvidos pela equipe da coluna quais seriam os termos exatos do armistício.

Procurado pela equipe da coluna, o gabinete de Moraes não se manifestou.

O diálogo entre emissários de Bolsonaro e de Alexandre de Moraes tem sido frequente desde junho deste ano, quando os dois tiveram um encontro a sós durante um jantar promovido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, em homenagem ao ministro do Supremo Gilmar Mendes.

“Ele falou 90%, eu falei 10%”, disse Bolsonaro à época. “Eu falei para ele: ‘vamos conversar na próxima semana com mais tempo’. Pode ser em qualquer lugar… Para ver se chega num entendimento, para ver se consigo entendê-lo e ele me entender também.”

Desde então, Moraes também já se reuniu com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI). Acertada a disposição em negociar, entraram em campo o que os aliados políticos do presidente da República chamam de “técnicos” — os militares.

Segundo interlocutores de Bolsonaro, o presidente tem repetido que, se os militares garantirem a ele que não há mais risco de fraude, ele ganha as eleições — argumento que também parece sob medida para justificar um eventual recuo do chefe do Executivo.

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