Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas em diversas cidades do país, no terceiro final de semana seguido de protestos contra o extremismo. Atos coincidiram com o Dia em Memória das Vítimas do Holocausto.Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas em várias cidades alemãs neste último sábado (27), no terceiro final de semana seguido de protestos contra a extrema direita e a crescente popularidade do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Houve atos em pelo menos 30 cidades em diversos estados da Alemanha. No maior deles, em Düsseldorf, capital do estado da Renânia do Norte-Vestfália, a polícia informou que cerca de 100 mil pessoas participaram.
A onda de manifestações ocorre após a revelação de uma reunião realizada em Potsdam com a participação de neonazistas e membros da AfD na qual foi apresentado um plano para a deportação em massa de milhões de imigrantes e “cidadãos não assimilados”.
As manifestações deste sábado coincidiram com a comemoração do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, que marca a libertação do campo nazista de concentração e extermínio Auschwitz-Birkenau, na Polônia.
O que aconteceu nos protestos?
O ministro da Defesa, Boris Pistorius, participou de uma manifestação em sua cidade natal, Osnabrück, no noroeste da Alemanha, que reuniu cerca de 25 mil pessoas, segundo a polícia.
Em seu discurso, ele alertou sobre os perigos da extrema direita e disse que a democracia no país está sob pressão. Pistorius abordou em especial o que ele chamou de planos da AfD para mudar o sistema, citando a postura anti-imigração do partido.
“Isso não significa nada além de que eles querem voltar aos tempos sombrios de loucura racial, discriminação, desigualdade e injustiça”, disse Pistorius a cerca de 25 mil manifestantes.
Ele comparou a Alemanha que a AfD estaria tentando criar ao 3º Reich de Adolf Hitler. “Hoje sabemos melhor, não podemos permitir que a história se repita”, disse, sob aplausos dos manifestantes.
O prefeito de Kiel, Ulf Kämpfer, também se dirigiu aos cerca de 10 mil manifestantes que se juntaram ao comício na principal praça da cidade portuária do Mar Báltico. “Nossa democracia é mais estável do que a democracia de 100 anos atrás, mas não estejamos muito certos”, disse.
Em Aachen, na Renânia do Norte-Vestfália, cerca de 20 mil pessoas participaram, inclusive o ministro das Finanças, Christian Lindner. Houve também atos em Kiel, no norte do país, bem como em Frankfurt, Lübeck e várias outras cidades menores e vilas em todo a Alemanha.
Por que os alemães estão protestando?
A onda de protestos foi desencadeada por uma reportagem publicada em 10 de janeiro pelo veículo de jornalismo investigativo Correctiv, que revelou que os membros da AfD se reuniram com extremistas de direita em Potsdam em novembro para discutir a expulsão de imigrantes e “cidadãos não assimilados”.
Os participantes da reunião discutiram a “remigração”, um termo frequentemente usado nos círculos de extrema direita como um eufemismo para a expulsão de imigrantes e minorias.
A notícia da reunião chocou muitos na Alemanha, em um momento em que a AfD está em alta nas pesquisas de opinião. Neste ano haverá três importantes eleições estaduais no leste da Alemanha, onde o apoio do partido é mais forte e a legenda tem chances de eleger seu primeiro governador.
Em um vídeo divulgado neste sábado a respeito do Dia em Memória das Vítimas do Holocausto, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, saudou os protestos que vêm ocorrendo contra a extrema direita e “por democracia, respeito e humanidade”.
Ao lembrar a derrota do nazismo, Scholz afirmou: “’Nunca mais’ requer que todos nós estejamos vigilantes. Nossa democracia não é dada por Deus. Ela é feita pelos homens.”