Conforme a DW, o Robert Habeck, ministro alemão da Economia, afirma que guerra da Rússia contra a Ucrânia mostrou necessidade de diversificar parceiros comerciais e que ataque chinês a Taiwan seria “muito mais catastrófico” para o mundo.
“É claro que estamos interessados em comércio com a China, mas não em comércio estúpido com a China”, afirmou o vice-chanceler federal e ministro de Economia e Proteção Climática da Alemanha, Robert Habeck, à DW neste domingo (13/11).
Em declarações dadas à margem de uma conferência em Singapura focada em diversificar investimentos alemães na Ásia, Habeck afirmou que a invasão da Ucrânia pela Rússia mostrou a Berlim e ao mundo os perigos de uma dependência excessiva de um parceiro comercial.
Habeck contestou a alegação de que a postura da Alemanha em relação à China esteja confusa em meio à adoção de um tom mais cauteloso por políticos nos últimos meses, ressaltando que o gigante asiático continua sendo o segundo maior mercado para exportações do país europeu e sua principal fonte de importações.
“A estratégia geral é totalmente clara”, disse Habeck, que viajou à 17ª Conferência Ásia-Pacífico de Negócios Alemães junto com o chanceler federal Olaf Scholz. “Queremos proteger nossa infraestrutura crítica. Queremos proteger nossos setores em que bens e conhecimentos críticos são desenvolvidos. Além disso, queremos, é claro, ter uma relação comercial com a China. Não há uma dissociação.”
Nesse contexto, Habeck afirmou que a abordagem alemã é um pouco mais branda que a dos EUA. “Eu sei que os Estados Unidos às vezes dizem palavras mais duras, e este não é o caminho que adotamos”, disse. “Onde não há problemas, não é um problema comercializar com a China. Mas nas áreas problemáticas, temos que ser mais cuidadosos do que fomos anteriormente.”
Foco na proteção de bens críticos e propriedade intelectual
Na semana passada, o governo da Alemanha barrou duas aquisições chinesas de empresas nas indústrias de semicondutores e chips de computador, afirmando haver o risco de uma perda de know-how em um setor crítico, no qual Pequim está expandindo rapidamente sua influência.
“Os produtos de setores críticos como telecomunicações, energia, chips e semicondutores devem ser protegidos”, disse Habeck. “Isso não significa que não haja possibilidade de fazer negócios, mas temos que tomar cuidado para que tenhamos nossa própria soberania nessa área. E é assim que estamos agindo agora.”
Habeck também citou certas infraestruturas centrais como exemplos de investimentos chineses que poderiam ser “problemáticos em algumas áreas, como portos, aeroportos, hospitais”.
Tais declarações vêm após a compra de partes de um terminal no porto de Hamburgo, o maior da Alemanha, pela empresa chinesa Cosco, apesar da resistência da Habeck e de vários ministérios. Habeck apontou que o escopo da aquisição foi reduzido, mas que preferia que não tivesse ocorrido.
“Eu acho que é apenas uma meia medida, meia vitória de certa forma, mas precisamos ter unidade no gabinete de governo”, afirmou.
No entanto, Habeck disse que o que está acontecendo deve ser visto como “um processo”, após cerca de 30 anos ou mais, de políticos alemães dizendo que o mercado chinês era o futuro e deveria ser o alvo de muitos, se não a maioria, dos grandes investimentos.
“Portanto, o que estamos fazendo é algo grande neste momento. Estamos mudando as práticas de nossa estratégia e política na China. E isso é, é claro, é uma fase. E temos que aprender e pensar sobre isso. E, a partir da análise geral, entrar nos detalhes às vezes é complicado”, afirmou.
Ataque chinês a Taiwan seria “catastrófico”
Questionado sobre a perspectiva de uma investida chinesa contra Taiwan, como o exemplo mais extremo de eventos que poderiam afetar dramaticamente o comércio com a China, Habeck disse que “é um cenário para o qual ninguém pode realmente se planejar”.
“Isso é algo muito ameaçador, que teria um efeito desastroso sobre o mundo inteiro. Vimos que um conflito regional, como a guerra russa contra a Ucrânia, causou turbulências no mundo todo”, disse Habeck. “[Um ataque chinês a Taiwan] seria muito mais catastrófico. Portanto, isso é algo que definitivamente temos que evitar. E eu espero que a China saiba que o mundo inteiro está observando.”
Algumas empresas alemãs têm uma forte presença na China. O país asiático abriga cerca de 40 fábricas e responde por cerca de 40% das vendas globais da gigante automobilística Volkswagen, por exemplo.
Questionado sobre o que aconteceria com as instalações da Volkswagen na China caso fossem impostas a Pequim sanções internacionais generalizadas comparáveis às atuais contra a Rússia, Habeck evitou uma resposta direta, mas disse que as multinacionais alemãs “têm que saber o que estão fazendo” e se “arriscam seu modelo de negócios” com a extensão de sua presença na China.
Além da Volkswagen, Habeck afirmou que BMW, Daimler e BASF estão entre os quatro maiores players alemães em solo chinês.
“Todo o governo” alemão consciente dos riscos
A recente visita do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, à China, pouco depois de o presidente Xi Jinping ter assegurado um terceiro mandato sem precedentes no comando do Partido Comunista Chinês, foi alvo de críticas no país e no exterior. Scholz se tornou o primeiro líder do G7 a visitar Pequim desde o início da pandemia de covid-19.
No governo de coalizão tripartite da Alemanha, os social-democratas, de Scholz, têm sido menos estridentes do que os verdes de Habeck e os liberais pró-negócios nos apelos por uma linha mais dura em relação à China.
Habeck afirmou que o acordo relativo à compra de partes de um terminal do porto de Hamburgo pela chinesa Cosco foi necessário para preservar a unidade da coalizão, mas que esta, no geral, é da mesma opinião em relação à China, discordando somente quanto a detalhes.
“Eu diria que já nos decidimos sobre a China. Nós enxergamos o problema. Nós e todo o governo, também os social-democratas, conhecemos o risco”, afirmou.
Uma tensão semelhante foi percebida na coalizão alemã com relação à Rússia, com o Partido Social-Democrata (SPD) provavelmente sendo o mais reticente das três legendas no governo quando se trata de sanções e outras penalidades econômicas visando o Kremlin.