Foi com música, dança e poesia, em ritmo de festa bem ao estilo do nosso estado, que a Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) concedeu, nesta última sexta-feira (20), em sessão especial, o título de Cidadão Baiano ao ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Ao som dos clarins e dos tambores do Olodum, o homenageado foi recepcionado, na rampa do Palácio Deputado Luís Eduardo Magalhães, pelo proponente da honraria, deputado Hilton Coelho (PSol), demais parlamentares, ativistas sociais e militantes do movimento negro.
Após a composição da mesa, o ministro Silvio Almeida ingressou, no Plenário Orlando Spinola, acompanhado de mães de santo e de integrantes do Afoxé Filhas de Gandhy, que saudaram o homenageado com o tradicional canto do ijexá. Em seguida, por solicitação do deputado Hilton Coelho, Cacique Babau, falando em nome dos Povos e Comunidades Tradicionais da Aldeia Tupinambá, destacou a luta dos povos indígenas contra a ocupação dos seus territórios.
Um momento de reverência “ao povo preto” aconteceu logo depois, por iniciativa do parlamentar, que pediu um minuto de silêncio em memória da líder quilombola Mãe Bernadete, assassinada, em Simões Filho, em 17 de agosto passado. No seu pronunciamento, Coelho discorreu sobre a trajetória do advogado, jurista e professor, paulistano de 47 anos, formado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, e em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). O deputado contou que a ideia da homenagem nasceu em 2020, quando o ministro conseguiu evidenciar “a importância do conceito de Racismo Estrutural”, um dos livros publicados por Silvio Almeida.
O proponente declarou que este título é abençoado por Luiza Mahin, líder da Revolta dos Malês (1835), mãe de outro baiano que fez história e deixou um grande legado de resistência. “Se a Bahia deu régua e compasso para Luiz Gama inscrever seu nome, em São Paulo, como um dos maiores advogados abolicionistas deste país, São Paulo nos devolve esse também grande advogado, intelectual e lutador do povo negro, Silvio Almeida, que, a partir de agora, é também baiano e pode dizer à sua filha Anesu: Eu abracei a Bahia e a Bahia me abraçou”, afirmou.
Pertencimento
Durante a sessão, diversas intervenções artísticas ressaltaram as inúmeras contribuições do titular da pasta dos Direitos Humanos do Governo Federal. Poetas e poetisas elogiaram o ministro como fonte de inspiração para a juventude. E os berimbaus de Mestre Gilmar, com a Ladainha de Carlos Marighela e Marielle Franco, ecoaram alto pelo salão lotado. A procuradora federal Manuellita Hermes, integrante da Coalizão Nacional de Mulheres, afirmou que todos estavam ali reunidos, na chamada Roma Negra, para falar de pertencimento e cidadania, duas expressões que dignificam a história do ministro. Representando o governador Jerônimo Rodrigues, o secretário estadual da Justiça e Direitos Humanos, Felipe Freitas, acrescentou que Silvio Almeida seria mais um baiano, aliado e engajado no Ministério do presidente Lula, para lutar pelas causas da Bahia.
Já com o certificado de baiano na mão, Silvio Almeida agradeceu à Casa do Povo pelo título, salientando que este foi um dos momentos mais emocionantes que já teve, pelo reconhecimento, em vida, de sua trajetória. Para o ministro, ao acolhê-lo como um dos seus filhos, a Bahia dá mais força e certeza de que precisa continuar as lutas que tem a travar. “Agradeço por tudo que a Bahia representa, tanto aquela do passado, do presente e a que pretendemos construir no futuro. Obrigado, em nome da minha filha Anesu e de toda a minha família”, pontuou.
Ele revelou que tudo que faz na vida é para honrar os ancestrais e, agora, tem a obrigação de também honrar o povo da Bahia, que o abraçou com muito carinho. “Sei a responsabilidade de fazer parte de uma comunidade de pessoas tão ilustres, como Mãe Menininha, Luiz Gama, Caetano, Gal, Jorge Amado, Rui Barbosa e tantos outros personagens, e por isso fico imensamente grato. Agora eu sei de verdade como é ser baiano”, completou.
Participaram da sessão a deputada federal Lídice da Mata (PSB); o reitor da UFBA, Paulo Miguez; a reitora do IFBA, Luzia Matos; o presidente da Fundação Palmares, João Jorge; o professor e vereador de Salvador, Edvaldo Brito; Hamilton Ribeiro (Coletivo de Entidades Negras); Marina Duarte (União de Negros pela Igualdade); Sergio São Bernado (Coletivo dos Advogados Negros-OAB); Samuel Vida (Programa Direito e Relações Sociais – Ufba); Mãe Donana (Quilombo Quingoma); Alessandra Almeida (Conselho Federal de Psicologia); Jade Andrade (MNU); além dos deputados estaduais Robinson Almeida (PT), Fátima Nunes (PT), Olívia Santana (PC do B) e Maria del Carmen (PT).