A Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) se transformou em um grande palco para debater, em audiência pública realizada nesta última quinta-feira (14), “o novo cenário das duas maiores festas do Estado da Bahia no pós-pandemia: o São João e o Carnaval”. A reunião virtual, promovida pela Comissão de Educação, Cultura, Ciência, Tecnologia e Serviços Públicos da ALBA, colocou lado a lado parlamentares, músicos, empresários de blocos, produtores de quadrilhas juninas e gestores públicos que se mobilizam para que em 2022 os trios possam arrastar multidões nas ruas da capital e as sanfonas voltem a embalar o forró nas praças do interior.
Proponente da sessão, o deputado Jacó Lula (PT) frisou que os impactos da crise sanitária e de saúde pública foram sentidos, em especial, no setor de artes, música e eventos, um dos mais prejudicados neste período, já que, para evitar as aglomerações e o aumento da contaminação, foi o primeiro a parar e deve ser o último a abrir. Na sua fala inicial, o petista disse que o São João faz parte de uma tradição do Nordeste e que o Carnaval é um símbolo cultural da nossa terra.
“A Casa Legislativa não poderia fugir ao bom debate, ao diálogo, para ouvir quem mais precisa. São milhares de famílias envolvidas nessa cadeia produtiva, gente que perdeu emprego, teve uma queda brutal na renda e vive no sacrifício há um ano e meio com apoio de colegas e dos familiares”, lamentou o parlamentar, que lembrou da criação da Lei Mário Gusmão e do auxílio emergencial, através da Lei Aldir Blanc, como forma de minimizar a difícil situação enfrentada por milhares de baianos pertencentes ao setor de eventos.
Aporte e recursos
Sidnei Zapata, diretor de relações institucionais do Sindicato dos Músicos da Bahia, foi quem solicitou a audiência. O sindicalista destacou a relevância da temática que movimenta bastante a economia do estado em diferentes épocas, mas preferiu escutar os pronunciamentos dos convidados. O deputado federal Bacelar (Podemos-BA), membro da Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados, apresentou em 2020 o Projeto de Lei nº 4219, beneficiando o setor cultural por meio de renda emergencial para os trabalhadores, subsídios para as entidades carnavalescas e do segmento do forró, além da elaboração de editais, com um aporte de recursos total no valor de R$ 3 bilhões. O PL está em tramitação na Câmara.
“Com o avanço da vacinação, entendemos que a crise está mais perto do final e, portanto, precisamos nos planejar para o futuro, pois o evento não acontece de uma hora pra outra. Defendemos que o quanto antes se tomar uma decisão sobre a realização da festa será melhor para todos”, afirmou o presidente do Conselho do Carnaval, Flávio Souza.
Para o dirigente, a posição depende exclusivamente do governador Rui Costa e do prefeito de Salvador, Bruno Reis, mas cobrou das autoridades uma definição sobre a data em que devem confirmar ou não a realização das duas maiores festas populares da Bahia. “Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Recife, por exemplo, já largaram na frente. Enquanto isso, nosso estado deixa de reservar vagas em hotéis, os turistas não procuram as agências de viagens e os blocos não vendem seus abadás e produtos, dentre outras coisas prejudiciais ao setor”, avalia o presidente do Concar.
Vamos salvar
Washington Paganelli, coordenador executivo do Carnaval de Salvador, está preocupado com as incertezas sobre aquela que é considerada “a maior festa popular do planeta”. Também diretor do famoso bloco As Muquiranas e presidente da Associação de Blocos de Trios, o empresário ressalta que, atualmente, das 50 grandes empresas da área de produção de eventos, não existem 10 que sobreviveram à pandemia. Ele ainda acrescenta que pouco mais de 10 blocos teriam condições de desfilar na avenida. “Vamos salvar o que ainda temos, porque precisamos do Carnaval, que gera empregos e renda para muita gente”, finalizou o coordenador.
Mariete Lima deu o tom do pessoal que trabalha para manter viva a efervescência e a tradição do São João. A presidente da Quadrilha Forró do ABC informou que no estado funcionam cerca de 300 quadrilhas, sendo apenas sete na capital. “No ritmo da zabumba dos músicos, nas vestimentas feitas pelas costureiras e nos passos eletrizantes dos forrozeiros, são elas que alegram os meses de junho e julho nos quatro cantos da Bahia”, orgulha-se Mariete.
A reunião contou ainda com as contribuições do presidente e fundador do Bloco Afro Ilê Aiyê, Antônio Carlos dos Santos Vovô, conhecido como Vovô do Ilê, da representante da Secretaria estadual da Saúde (Sesab), Isabel Marcílio, e do representante da Polícia Militar, tenente-coronel Cerqueira.