Um dos principais auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid já está com seu futuro decidido após o fim do governo. A partir de janeiro, ele deve comandar um dos batalhões do Exército em Goiânia (GO).
Cid ocupa hoje o cargo de chefe da Ajudância de Ordens da Presidência da República e é uma das pessoas mais próximas a Bolsonaro.
Nesses dias de maior reclusão de Bolsonaro, após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele é um dos poucos que têm frequentado o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.
Interlocutores disseram à Folha que sua transferência para Goiânia já estava acertada antes da eleição —e, portanto, ocorreria mesmo com uma vitória de Bolsonaro.
A saída foi construída durante conversas de comandantes militares com o próprio Cid.
Generais afirmaram à Folha que a mudança é natural. Como Cid progrediu de major para tenente-coronel durante o governo Bolsonaro, ele precisa passar por um cargo de comando para conseguir novas promoções e sonhar com o generalato.
Por outro lado, a transferência de Cid é uma forma de tirá-lo dos holofotes, diz a Folha. Ele é investigado em inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal).
O auxiliar é filho do general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, colega de Bolsonaro na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras). Cid filho assumiu o cargo já durante a transição, em dezembro de 2018. Já o pai foi indicado para a chefia da Apex (A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Miami em 2019.
A Ajudância de Ordens é constituída especialmente por militares e faz parte da estrutura do Palácio do Planalto. Os ajudantes de ordens, como são conhecidos, atuam como secretários particulares do presidente —chegando a carregar o celular de Bolsonaro e frequentar o Palácio da Alvorada diariamente.
No caso de Cid, Bolsonaro concedeu-lhe novas atribuições. Ele passou a fazer as tradicionais lives do presidente, às quintas-feiras, e aconselhar o mandatário em decisões sobre diversos assuntos.
Desde 2020, o tenente-coronel foi alvo de inquéritos que estão sob o comando do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
No mais recente, ele teve o sigilo bancário quebrado por determinação do magistrado, no final de setembro. A PF (Polícia Federal) encontrou no telefone do ajudante de ordens mensagens que levantaram suspeitas sobre transações financeiras feitas no gabinete do presidente da República.
Conversas por escrito, fotos e áudios trocados por Cid com outros funcionários da Presidência sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro.
O material analisado pela Polícia Federal indica ainda que as movimentações financeiras se destinavam a pagar contas pessoais da família presidencial e também de pessoas próximas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
A assessoria da Presidência nega qualquer irregularidade nas transações e diz que os valores movimentados têm como origem a conta particular do presidente da República.
Em outro episódio, Cid foi indiciado pela Polícia Federal pelo vazamento da apuração utilizada por Bolsonaro em uma transmissão de 4 de agosto de 2021, em que ele contestou a segurança do sistema eleitoral e levantou suspeita de fraude nas eleições de 2018.
O tenente-coronel também prestou depoimentos à PF no inquérito que investiga a propagação e financiamento de atos antidemocráticos. À época, Cid disse que, como “mensageiro” do presidente, repassava para Bolsonaro mensagens do blogueiro foragido Allan dos Santos.