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segunda-feira 3 de março de 2025 às 06:05h

“Ainda Estou Aqui” ganha Oscar de melhor filme internacional e faz história

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Obra de Walter Salles sobre trajetória de Eunice Paiva e sua família conquista prêmio inédito para o Brasil. Saiba quem foram os vencedores do Oscar de 2025.Ainda Estou Aqui ganhou Oscar de melhor filme internacional neste último  domingo (2), um feito inédito para o país. O Brasil havia sido indicado cinco vezes, incluindo a edição de 2025.

A obra concorreu com o dinamarquês A Garota da Agulha, o francês Emilia Pérez, o alemão A Semente do Fruto Sagrado e a obra da Letônia Flow, que venceu por melhor filme de animação.

A atriz Fernanda Torres, que nos últimos meses estampou capas de revista e marcou ponto em talk shows americanos, virando uma verdadeira paixão nacional – presente em fantasias e temas de bloco de carnaval – não levou a estatueta de melhor atriz.

O prêmio foi para Mikey Madison, de 25 anos, por Anora. Também estavam no páreo Cynthia Erivo (por Wicked), Karla Sofía Gascón (por Emilia Pérez) e Demi Moore (por A Substância).

Também indicado a melhor filme, Ainda Estou Aqui não levou o prêmio, considerado o principal do Oscar. Anora foi agraciado na categoria e levou ainda três outras estatuetas: melhor diretor para Sean Baker, melhor roteiro original e melhor edição para o projeto do diretor de 53 anos.

Homenagem a Eunice Paiva

O filme conta a história da família de Rubens Paiva, deputado cassado, sequestrado e morto pela ditadura militar, pela ótica de sua viúva, Eunice Paiva.

No palco do Dolby Theater em Los Angeles, o diretor de Ainda Estou Aqui, Walter Salles, homenageou a coragem de Eunice Paiva e citou Torres e sua mãe, Fernanda Montenegro, que aparece em cena no final do filme como Eunice Paiva. “Esse prêmio vai para uma mulher que, depois de sofrer uma perda durante um regime autoritário, decidiu não se curvar e resistir. Esse prêmio vai para ela”, disse Salles, enquanto foi ovacionado de pé pela plateia. “E vai para as duas mulheres que deram vida a ela”, completou.

Salles, conhecido por obras como Terra Estrangeira, Central do Brasil e Diários de Motocicleta, disse acreditar que o filme teve impacto com o público que talvez não tivesse familiaridade com a ditadura brasileira, por causa da habilidade do roteiro de superar a perda e a força de lutar contra injustiças. “Esta mulher teve a possibilidade de se curvar ou de abraçar a vida. Ela abraçou a vida”, disse, nos bastidores do Oscar.

“No final das contas, é um filme sobre isso: a esperança que abraçar a vida nos permite. Talvez essa seja uma porta de entrada para o filme. Uma outra forma de entender isso é que a democracia está se tornando tão frágil em todas as partes do mundo”, acrescentou.

Em entrevista à DW em janeiro deste ano, Fernanda Torres reforçou que “muita gente nova que cresceu na democracia foi ao cinema porque, de repente, escutou falar da ‘ditadura militar’, mas isso era um nome que não tinha muito sentimento envolvido. Mas no filme você sente a perda daquela família. Então as pessoas entendem o que é suspensão dos direitos civis, não através de um parágrafo num livro de história da escola, mas através da identificação com os jovens daquela família. E isso realmente fez diferença no Ainda estou aqui. Eu acho que ele teve um sentido de consciência cívica, através da família Paiva, que impactou os jovens”.

Reações e Carnaval

No X, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia”, escreveu.

A vitória foi celebrada em todo o Brasil durante o Carnaval. No Sambódromo do Rio, o resultado foi anunciado pelos alto-falantes e levantou o público.

Sobre Ainda Estou Aqui

Fernanda Torres foi a segunda atriz brasileira a concorrer ao Oscar de melhor atriz – 26 anos após sua mãe, Fernanda Montenegro, ter sido indicada por sua atuação em Central do Brasil, também dirigido por Walter Salles. O prêmio foi para Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado.

Torres chamou a atenção de Hollywood com um papel que encheu salas de cinema e tocou em um nervo ainda aberto na história política do Brasil.

Ambientado no Rio de Janeiro na década de 1970, Ainda Estou Aqui narra a saga de Eunice Paiva para ter a morte do marido reconhecida, enquanto cria cinco filhos e se reinventa em uma nova carreira, virando uma das pioneiras na defesa jurídica de povos indígenas no Brasil.

Enquanto o filme se tornava um fenômeno de bilheteria dentro e fora do país, a Polícia Federal revelou a existência de um plano de golpe militar para perpetuar Jair Bolsonaro no poder após sua derrota nas urnas em 2022, o que se transformou em denúncia do Ministério Público contra o ex-presidente e mais 33 pessoas.

Histórico cinema brasileiro

O primeiro representante brasileiro a disputar o Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro foi O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, em 1963.

Nos anos 1990, o Brasil emplacou três indicados à categoria: O Quatrilho, de Fábio Barreto (1996), O Que É Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto (1998), e Central do Brasil, de Walter Salles (1999). Este último contou ainda com a indicação de Fernanda Montenegro na categoria de melhor atriz.

O Beijo da Mulher-Aranha, de Hector Babenco – uma coprodução Brasil e Estados Unidos, foi indicado nas categorias de melhor filme, roteiro e direção — mas acabou sendo premiado pela atuação de William Hurt. O filme apresenta um diálogo entre dois homens que dividem uma cela numa prisão brasileira durante a ditadura militar.

Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, concorreu em 2004 em quatro categorias: diretor, roteiro adaptado, edição e fotografia.

Os concorrentes

Emilia Pérez

Um dos destaques da premiação deste ano, tanto pelo volume de indicações como pelas controvérsias, Emilia Pérez venceu em apenas duas das 13 categorias em que disputava. Zoe Saldaña recebeu a estatueta de melhor atriz coadjuvante, e o filme foi premiado na categoria Melhor Canção Original, por El Mal.

O musical francês dirigido por Jacques Audiard apresenta a trajetória de Rita, uma advogada que é contratada para ajudar o traficante Manitas a mudar de gênero e abandonar a vida no crime, tornando-se Emilia Pérez.

Karla Sofía Gascón, que dá vida à personagem principal, foi a primeira atriz trans indicada ao Oscar. Inicialmente uma das mais cotadas ao prêmio, ela foi excluída da campanha de promoção do filme depois que posts da atriz com conteúdo racista e preconceituoso foram resgatados.

O musical também gerou críticas por retratar uma realidade mexicana a partir da visão de um cineasta francês, por não contar com nenhuma mexicana entre as atrizes principais e por uma visão estereotipada de uma pessoa transgênero.

Paul Preciado, filósofo espanhol que trata de questões sobre gênero e sexualidade, afirmou, em uma crítica no jornal El País, que “Emilia Pérez perpetua uma visão psicopatológica da transição de gênero baseada em quatro premissas: criminalização, exotização etnográfica, representação médica-cirúrgica da transição de gênero e assassinato. E este último não é um spoiler. Todos os filmes normativos sobre pessoas trans acabam matando o protagonista.”

A Substância

A Substância, filme de terror corporal dirigido pela francesa Coralie Fargeat e estrelado por Demi Moore, Margaret Qualley e Dennis Quaid, acompanha uma atriz veterana que, ao perceber que sua idade a torna irrelevante em Hollywood, recorre a uma droga milagrosa que promete restaurar sua juventude. No entanto, os efeitos colaterais da substância revelam a brutalidade desse culto à beleza eterna.

A performance de Demi Moore foi amplamente elogiada, rendendo-lhe o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme – Musical ou Comédia, além de indicações ao Oscar, Bafta e Screen Actors Guild Awards.

Brutalista

Com dez indicações, O Brutalista apresenta, ao longo de três horas e meia, a história do arquiteto húngaro László Toth, que fugiu da Europa devastada pela Segunda Guerra em busca de um novo começo na América.

A obra levou para casa três dos sete Globos de Ouro aos quais concorria: filme dramático, direção e ator em drama (Adrien Brody), abrindo-lhe o caminho como um dos favoritos para o Oscar.

Em fevereiro, uma revelação levantou discussões sobre a produção do filme. Dávid Jancsó, montador responsável pela edição, admitiu que usou ferramentas de inteligência artificial para aperfeiçoar o sotaque húngaro do inglês falado pelos personagens de Brody e de Felicity Jones, que interpreta a mulher do arquiteto.

Wicked

Indicado em dez categorias e vencedor em Figurino e Design de Produção, Wicked é um musical estrelado por Cynthia Erivo e Ariana Grande.

A produção é a primeira de uma adaptação cinematográfica em duas partes do aclamado musical da Broadway, baseado no romance Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West, de Gregory Maguire. A trama oferece uma perspectiva alternativa do clássico O Mágico de Oz, explorando a complexa relação entre Elphaba (Erivo), a futura Bruxa Má do Oeste, e Glinda (Grande), a Bruxa Boa do Sul, antes da chegada de Dorothy em Oz.

Anora

Vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes, Anora, dirigido por Sean Baker, é uma comédia dramática que mistura realismo social e humor. O filme acompanha Ani (Mikey Madison), uma jovem stripper de Nova York que inesperadamente se casa com o filho de um oligarca russo. O que começa como um conto de fadas moderno logo se transforma em um embate cultural e financeiro, enquanto a família do noivo tenta anular a união a qualquer custo.

O roteiro aborda criticamente aspectos do capitalismo americano e as complexidades das relações humanas.

A atuação de Mikey Madison rendeu à atriz de 25 anos a estatueta do Oscar.

O ator russo Yura Borisov, indicado como melhor ator coadjuvante, foi uma das surpresas entre as indicações ao Oscar em 2025. Ele faz o papel de um garoto de recados da máfia russa, que apesar durão e boca fechada, mostra um lado sentimental.

Entre seus trabalhos recentes, ele interpretou um soldado em um filme patrocinado pelo Kremlin que promovia um modelo de tanque soviético. Em outra obra, ele encarnou Mikhail Kalashnikov, o homem que inventou o rifle automático russo.

Depois da invasão russa à Ucrânia em fevereiro de 2022, ele parou de participar de filmes militaristas e conseguiu projetar sua carreira internacionalmente.

O prêmio de melhor ator coadjuvante foi para Kieran Culkin, por sua atuação em A Real Pain (A Verdadeira Dor).

* * *

Confira abaixo a lista completa dos indicados, com os vencedores em negrito:

Melhor filme

Anora

O Brutalista

Um Completo Desconhecido

Conclave

Duna: Parte 2

Emilia Pérez

Ainda Estou Aqui

Nickel Boys

A Substância

Wicked

Melhor filme estrangeiro

Ainda Estou Aqui (Brasil)

A Garota da Agulha (Dinamarca)

Emilia Pérez (France)

A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha)

Flow (Letônia)

Melhor diretor

Sean Baker, por Anora

Brady Corbet, por O Brutalista

James Mangold, por Um Completo Desconhecido

Jacques Audiard, por Emilia Pérez

Coralie Fargeat, por A Substância

Melhor atriz

Cynthia Erivo, por Wicked

Karla Sofía Gascón, por Emilia Pérez

Mikey Madison, por Anora

Demi Moore, por A Substância

Fernanda Torres, por Ainda Estou Aqui

Melhor ator

Adrien Brody, por O Brutalista

Timothée Chalamet, por Um Completo Desconhecido

Colman Domingo, por Sing Sing

Ralph Fiennes, por Conclave

Sebastian Stan, por O Aprendiz

Melhor atriz coadjuvante

Monica Barbaro, por Um Completo Desconhecido

Ariana Grande, por Wicked

Felicity Jones, por O Brutalista

Isabella Rossellini, por Conclave

Zoe Saldaña, por Emilia Pérez

Melhor ator coadjuvante

Yura Borisov, por Anora

Kieran Culkin, por A Verdadeira Dor

Edward Norton, por Um Completo Desconhecido

Guy Pearce, por O Brutalista

Jeremy Strong, por O Aprendiz

Melhor roteiro original

Anora

O Brutalista

A Verdadeira Dor

O Atentado de 5 de Setembro

A Substância

Melhor roteiro adaptado

Um Completo Desconhecido

Conclave

Emilia Pérez

Nickel Boys

Sing Sing

Melhor edição

Anora

O Brutalista

Conclave

Emilia Pérez

Wicked

Melhor animação

Flow

Divertida Mente 2

Memórias De Um Caracol

Wallace & Gromit: Avengança

Robô Selvagem

Melhor curta-metragem de animação

Beautiful Men

In the Shadow of the Cypress

Magic Candies

Wander to Wonder

Yuck!

Melhor maquiagem e penteados

Um Homem Diferente

Emilia Pérez

Nosferatu

A Substância

Wicked

Melhor design de produção

O Brutalista

Conclave

Duna: Parte 2

Nosferatu

Wicked

Melhor design de figurino

Um Completo Desconhecido

Conclave

Gladiador 2

Nosferatu

Wicked

Melhores efeitos visuais

Alien: Romulus

Better Man

Duna: Parte 2

O Reino do Planeta dos Macacos

Wicked

Melhor documentário

Diários da Caixa-Preta

No Other Land

Guerra da Porcelana

Trilha Sonora para um Golpe de Estado

Sugarcane

Melhor documentário de curta-metragem

Death by Numbers

Estou Pronto, Guarda

Incident

Instruments of a Beating Heart

A Única Mulher na Orquestra

Melhor fotografia

O Brutalista

Duna: Parte 2

Emilia Pérez

Maria

Nosferatu

Melhor curta-metragem

A Lien

Anuja

Eu Não Sou Um Robô

The Last Ranger

The Man Who Could Not Remain Silent

Melhor som

Um Completo Desconhecido

Duna: Parte 2

Emilia Pérez

Wicked

Robô Selvagem

Melhor trilha sonora original

O Brutalista

Conclave

Emilia Pérez

Wicked

Robô Selvagem

Melhor canção original

El Mal – Emilia Pérez;

The Journey – Batalhão 6888

Like A Bird – Sing Sing

Mi Camino – Emilia Pérez

Never Too Late – Elton John: Never Too Late

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