Em 1993, quando foi fundada a Abag, sob a liderança do grande Ney Bittencourt Araujo, tínhamos uma meta: a produção de 100 milhões de toneladas de grãos pelos agricultores brasileiros. Parecia um sonho distante, mas aconteceu em 2001, quando foram colhidas 100,27 milhões de toneladas.
E, em 2015, chegamos a 200,7 milhões de toneladas (dados da Conab). Dobramos a produção em apenas 14 anos! Viva a tecnologia tropical sustentável desenvolvida por nossos institutos de pesquisa, nossas academias e as empresas nacionais e multinacionais que lidam com inovação tecnológica! E viva a determinação e o empreendedorismo dos nossos produtores rurais, que em todos os rincões agricultados introduziram novas variedades, novos insumos e equipamentos e colocaram o País no mais alto patamar de competitividade global.
E neste ano quase produzimos 300 milhões de toneladas. A seca que afetou os Estados do Sul nos tirou algo próximo de 27 milhões de toneladas de soja e de milho da safra de verão.
Mas, com seca e tudo, a Conab anunciou esta semana a perspectiva de colheita de 271,3 milhões de toneladas de grãos na safra 2021/22, volume 6,2% maior do que o do ano passado. E o melhor: a área plantada tinha crescido 5,7%, ou seja, continuou a trajetória vitoriosa em que a produção aumentou mais do que a área nova. É bem verdade que no ano passado houve também seca no primeiro semestre, seguido de geadas no fim de junho e no começo de julho que afetaram duramente a produção da segunda safra de milho, a safra de inverno. Mas a marcha de progresso do agro é inquestionável.
A meta agora é superar as 300 milhões de toneladas em 2023.
Não será tão fácil. Os custos de produção aumentaram muito em função da pandemia, e a invasão da Ucrânia perturbou ainda mais o cenário, no qual infelizmente alguns segmentos aumentaram seus preços acima do necessário.
O governo foi ágil em garantir importação da maior parte da demanda de fertilizantes, de modo que a falta não será tão grave como se imaginava. Talvez o maior gargalo seja mesmo a falta de recursos para o crédito rural e a taxa de juros muito alta em função da inflação.
Mas o cenário mundial tem outras nuvens ameaçadoras. Começa hoje em Genebra uma importante reunião da OMC de ministros relacionados ao comércio internacional, e alguns países querem recriar regras protecionistas que, se aprovadas, poderiam reduzir a nossa competitividade global.
Roberto Rodrigues – EX-MINISTRO DA AGRICULTURA E COORDENADOR DO CENTRO DE AGRONEGÓCIOS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS