Para trazer a discussão para o terreno da ciência, os agricultores da região vêm fomentando o debate sobre os recursos hídricos do Oeste da Bahia no meio acadêmico ao apoiar um estudo do potencial hídrico, conduzido pelos especialistas da Universidade Federal de Viçosa (UFV) em apoio com a Universidade de Nebraska, dos Estados Unidos.
O objetivo é conhecer a disponibilidade hídrica, entender a sua dinâmica e implantar um sistema de monitoramento das águas superficiais e subterrâneas do aquífero Urucuia, além do regime de chuvas, para acompanhar a disponibilidade dos recursos hídricos do Oeste da Bahia. A proposta é que este sistema seja técnico, científico e transparente com a divulgação correta para toda a sociedade, possibilitando o planejamento e a fiscalização do uso da água pelos seus usuários.
Diante de resultados deste estudo, mais de 80% dos rios da região tem grande potencial de crescimento da sua utilização para expansão da agricultura irrigada, trazendo de forma racional e sustentável, o desenvolvimento socioeconômico para todos aqueles que vivem na região onde correm estes rios que desaguam no São Francisco. “O que não se pode é confundir os efeitos das secas dos últimos anos com o efeito do uso da água na agricultura irrigada na região dos afluentes do Rio São Francisco. Isto fica claro quando as informações indicam que a barragem de Sobradinho, no norte baiano, após retomada das chuvas, tem seu volume útil crescente e atingindo 30% neste início de ano, caminhando para recuperar os níveis normais de 2012/2013, quando a seca começou a fustigar o semiárido do Nordeste”, explica um dos coordenadores do estudo, o pesquisador da UFV, Everardo Mantovani.
Neste debate, os presidentes da Abapa e da Aiba, Júlio Cézar Busato, e Celestino Zanella, acreditam que seja preciso uma melhor avaliação científica, ao analisar os efeitos da redução das chuvas ocorrida nos últimos sete anos. “Temos certeza que a água que passa por debaixo das pontes dos rios não vai retornar. A água que chega ao mar sem ter cumprido a sua função social foi desperdiçada. O que nós, agricultores queremos, é o desenvolvimento econômico com qualidade de vida, o que depende da terra, do trabalho e da tecnologia, que deve ser empregada de forma correta, possibilitando mais emprego, renda e qualidade de vida para muitas famílias”, afirmam.
Desenvolvimento regional
Um exemplo de transformação econômica e social, baseada nos benefícios da agricultura, é a cidade de Luís Eduardo Magalhães. Na década de 80, era um posto de gasolina solitário, em meio ao cerrado, e se transformou em um polo do setor agrícola, com quase 90 mil habitantes, garantindo o terceiro melhor IDH de toda a Bahia. Também no Oeste da Bahia, merece destaque a área agrícola de São Desidério. Com 43% de seu território destinado à agricultura, o município se tornou o maior PIB agrícola do Brasil.
Ao comparar o PIB e o IDH dos municípios baianos, fica evidente que a Agricultura tem um papel fundamental na geração de emprego e renda, possibilitando o desenvolvimento das pessoas que ali vivem. Segundo dados de 2015, da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), o município de Barra, também no Oeste da Bahia, tem uma população de 53.578, e com uma PIB per capita de R$ 6.408.63. Já Luís Eduardo Magalhães, 100 anos mais nova, já tem um PIB per capita de R$ 48.937,78, e uma estrutura socioeconômica ainda em ascensão.
Ainda comparando os dados das cidades de uma mesma região, ambas com vocação e potencial agrícolas, São Desidério tem uma economia 8 vezes maior do que o município de Cocos, por causa do desenvolvimento da agricultura altamente tecnificada e produtiva. Apesar de um índice baixo de pluviosidade, Cocos poderia chegar ao mesmo patamar de desenvolvimento econômico, caso utilizasse as técnicas da irrigação para aproveitar de forma racional e sustentável a perenidade dos seus rios e do aquífero.