Segundo Gabriel Sabóia, do jornal O Globo, o não cumprimento, por parte do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), da promessa de anunciar o candidato à sua sucessão em agosto foi visto por parlamentares como um baque para o líder do União Brasil, o baiano Elmar Nascimento. O adiamento teria exposto que Elmar ainda busca se cacifar. Sem o acordo firmado, o que se viu na última semana foi uma série de encontros para impedir que o líder do União fosse alçado ao posto de favorito e escolhido pelo presidente da Câmara. Antônio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP) chegaram a tentar uma fusão das suas candidaturas, mas nenhum deles abriu mão de ser o cabeça da chapa.
Na segunda-feira, em conversa com a bancada ruralista, Lira sinalizou que deve declarar apoio ao nome de Elmar amanhã. Antes, porém, o parlamentar ainda quer ter uma nova conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na noite de domingo, ele se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para tratar do apoio. Lira se preocupa com o real apoio do bolsonarismo ao candidato que indicar. Elmar é apontado como o favorito. Bolsonaro deu sinais de que deve seguir o mesmo caminho, o que pode render a primeira vice-presidência ao PL.
Divisões na direita
Embora saiba que pode contar com o apoio do ex-presidente, Lira se preocupa com possíveis divisões na bancada bolsonarista. Isso porque Antônio Brito e Marcos Pereira têm se aproximado de parlamentares da direita e negociado apoios. Com 93 deputados, a bancada do PL , que é a maior da Câmara, é vista como possível fiel da balança na disputa.
Amigo íntimo de Lira, Elmar tem dificuldades de conseguir votos de deputados que questionam a sua capacidade de articular pautas e reclamam do difícil acesso ao parlamentar. Ele também não teria a simpatia irrestrita da base governista, já que teve histórico de oposição à esquerda. Por outro lado, o deputado do União é visto como alguém capaz de honrar os acordos firmados, até mesmo os herdados de Lira.
Na quarta-feira, Elmar esteve em um jantar na casa do senador Weverton Rocha (PDT-MA), no qual as cúpulas do PDT e do PSDB reafirmaram o apoio à sua candidatura. Além de contemplar o PL, de Jair Bolsonaro, com uma cadeira em uma eventual Mesa Diretora da nova configuração da Câmara, Elmar já fez chegar ao governo a mensagem de que o PT não seria esquecido.
Já Marcos Pereira conta com outro tipo de resistência. Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, o deputado encontra dificuldades de ter o apoio de Lira, apesar dos últimos anos de parceria, quando foi vice-presidente da Câmara o apoiou em suas duas eleições. Ele também carrega a antipatia de Bolsonaro, com quem teve embates nos últimos anos. Pesa a favor ter boa relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e bom trânsito na base governista.
Brito, por sua vez, congrega apoios que vão da base governista do Centrão à esquerda. Apesar de ser visto como “acessível” por parlamentares de várias legendas, ele seria o menos considerado por Lira para ganhar o seu apoio.
Encontro com Lula
Na quarta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados esteve em uma reunião a portas fechadas com Lula. O assunto do encontro foi justamente a sua sucessão. Em entrevista ao GLOBO em julho, Lira afirmou que o petista participaria da escolha do sucessor no comando da Casa legislativa, mas “não indicará nem deve vetar um nome”.
Dois dias antes de estar com Lira, Lula recebeu líderes partidários no Palácio do Planalto e afirmou “que não se meterá na escolha do sucessor de Lira”, segundo afirmaram parlamentares que estavam no encontro. Entre os presentes estavam três dos cotados para o cargo: Elmar, Brito e Isnaldo Bulhões (MDB), que apesar de ser visto como menos competitivo dos que os demais, ainda diz que se lançará na disputa. Pereira não compareceu.
O objetivo do atual comandante da Casa é repetir o que conseguiu fazer em 2023, quando foi reeleito com votação recorde. Mas, ao contrário da tradição vista nos últimos anos, a aposta no Congresso é que as eleições tenham disputa em dois turnos.