Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) tem usado sua expertise política para despontar como o queridinho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
No cargo há pouco mais de dois meses, Barros já trouxe para debaixo de suas asas segundo a coluna Poder do jornal Folha de S. Paulo, as principais negociações do Palácio do Planalto, gerando desconforto entre alguns senadores, que têm como líder do governo na Casa Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
Até mesmo o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), tem tido a atuação ofuscada diante de Barros.
Um dos episódios mais recentes da força de atuação do deputado paranaense ocorreu nesta semana. De carona no plebiscito chileno, que aprovou a convocação de uma Assembleia Constituinte, Barros defendeu que o mesmo seja feito no Brasil.
A manifestação foi criticada por colegas de Parlamento, inclusive pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que descartou a ideia do líder governista.
Mesmo assim, o deputado do PP prometeu que irá encaminhar um projeto de lei para a realização de um plebiscito para tratar sobre o tema.
As demonstrações do deputado são solidificadas pela proximidade conquistada a cada dia junto ao presidente Bolsonaro, dando a elas um peso governista. Barros não esconde sua afinidade presidencial, e sempre que pode demonstra essa proximidade aos colegas.
Isso ocorreu no dia 28 de setembro, por exemplo. O deputado do PP estava sentado ao lado de Bolsonaro durante o encontro com os líderes partidários em que o presidente anunciou a criação do novo programa social do governo, o Renda Cidadã, ainda sem orçamento para ser implementado.
Barros também tem assumido papel de testa de ferro do governo, evitando que seus colegas entrem em temas que podem ser prejudiciais ao Planalto. Foi o que ocorreu quando Barros retirou de um pronunciamento à imprensa o ministro da Economia, Paulo Guedes. Imagens mostram Barros falando “tá bom” e depois repete “vamos lá” enquanto caminha com o ministro para longe dos microfones.
O deputado do Paraná assumiu o cargo de líder do governo na Câmara em agosto deste ano. Desde então, tem tomado a frente de negociações. Entre elas, o veto à desoneração da folha, que ainda não foi apreciado pelo Congresso por falta de acordo.
Enquanto o senador Eduardo Gomes buscava um acerto entre os congressistas, Barros chegou a afirmar que o governo deverá recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) caso o Congresso decida retomar a medida.
Bolsonaro vetou a prorrogação da desoneração para 17 setores da economia até o fim de 2021. O presidente seguiu a recomendação da equipe de Guedes. Entre os setores estão o ramo da informática, call center, comunicação, construção civil e transporte rodoviário.
Foi de Barros também a responsabilidade de apresentar aos líderes a ideia do Palácio do Planalto de incluir a contrapartida em relação à desoneração da folha de pagamento das empresas.
A proposta do governo, que foi a criação de um novo imposto nos moldes da antiga CPMF, foi rechaçada pelos líderes, e uma manifestação de Barros provocou estremecimento entre alguns senadores.
“Quem fala por nós é o líder do Congresso, o Eduardo Gomes. O Barros que cuide da Câmara. Aqui [no Senado] temos o Gomes e o Bezerra”, disse o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF).
Depois do desconforto, o próprio Barros evitou o tema publicamente. “Quer falar sobre desoneração, é com o Gomes. Veto é ele quem vai falar”, disse à reportagem, quando questionado novamente sobre a busca ainda não concretizada por acordo.
Experiente na função, Barros assumiu a liderança com o objetivo de fortalecer uma base estremecida, além de dar respaldo ao centrão, grupo de partidos que apoia Bolsonaro na Câmara, mas que não conseguiu avançar no Senado.
O centrão reúne legendas como PP, PL e Republicanos e ajuda a sustentar o governo em votações na Câmara depois do racha do PSL, antigo partido de Bolsonaro.
Barros foi ministro da Saúde no governo de Michel Temer (MDB) e é do mesmo partido de Arthur Lira (PP-AL), que estava como líder informal do governo Bolsonaro na Câmara.
O presidente quer dar mais espaço ao grupo político, do qual se aproximou nos últimos meses para ter apoio no Congresso.
O cargo de líder não é novidade para o deputado. Antes do posto no governo Bolsonaro, Barros foi líder de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 2002 e vice-líder de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Câmara em 2007.
O deputado já foi alvo de, pelo menos, 12 inquéritos no Supremo Tribunal Federal envolvendo gestões suas à frente da Prefeitura de Maringá (1989-1993), no Paraná, e do Ministério da Saúde (2016-2018).