Antes de se ver no meio de acusações de suposta rachadinha em seu gabinete, após serem divulgados áudios em que negocia uma ‘vaquinha’ com os salários de seus assessores, o deputado federal André Janones (Avante – MG) fez segundo Fernanda Alves, do jornal O Globo, diversas publicações relacionando a família do ex-presidente Jair Bolsonaro com a prática. Em seu perfil no X (ex-Twitter) é possível identificar que o parlamentar tratava do tema pelo menos desde 2021.
Muitas das postagens de Janones eram relacionadas à denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho de Jair Bolsonaro, que chegou a ser acusado dos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, peculato e apropriação indébita no caso após identificadas movimentações atípicas de R$ 1,2 milhão na conta do ex-assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PL), Fabrício Queiroz. Em 2021, no entanto, o Superior Tribunal de Justiça anulou as decisões tomadas na Justiça fluminense e deu fim à investigação.
Em uma das publicações, Janones chega a afirmar que iria colher assinaturas para convocar uma CPI para investigar as supostas alegações de rachadinha contra o clã Bolsonaro. O parlamentar pediu ainda que a população pressionasse outros deputados para que eles assinassem o documento. A Comissão nunca foi instalada.
Em outro momento, ele afirma que a definição de “rachadinha” dada à prática de reembolso de parte de salário dos funcionários “faz parecer uma “bobagem” e “coisa pouca”.
“O termo ‘rachadinha’ dá o tom de coisa pouca, faz parecer uma “bobagem” “coisa pouca” até por não ter uma tipificação penal específica”, escreveu o parlamentar.
Em uma das publicações, de setembro de 2021, ao responder um apoiador de Bolsonaro, o deputado chega a afirmar que em seus gabinete não fazem rachadinha. O comentário foi direcionado a um internauta que o chamou de “bandido”.
Em outro post, sem citar Bolsonaro, Janones afirma que não gostaria de ser reconhecido como o deputado que fez rachadinha em seu gabinete:
Em uma postagem em que comemora sua influência na internet, onde marca inclusive os filhos de Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), Janones chega a chamar Flávio de “Flávio Rachadinha”.
Post de Janones onde marca filhos de ex-presidente — Foto: Reprodução
Carlos Bolsonaro também já viu seu nome relacionado com a prática de “rachadinha”. O Ministério Público do Rio instaurou, em 2019, dois procedimentos para investigar denúncias de uso de funcionários fantasmas e aplicação do esquema em seu gabinete, na Câmara Municipal do Rio. A denúncia foi protocolada com base em reportagem da revista “Época” publicada em junho daquele ano, que mostrava que o “zero dois” empregou sete parentes da sua ex-madrasta Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan.
Segundo a estrutura identificada pelo órgão, um assessor usou contas pessoais para pagar despesas pessoais de Carlos, mas ainda seguem as apurações para definir se os pagamentos foram eventuais ou regulares. O MP ainda procura descobrir ainda se o filho “zero dois” do ex-presidente foi efetivamente beneficiado do desvio de salários de seis servidores lotados no gabinete.
Caso Janones
Dois ex-assessores do deputado André Janones (Avante-MG) relatam que o parlamentar cobrava funcionários lotados em seu gabinete na Câmara a repassar parte dos seus salários. Em entrevista ao GLOBO, Cefas Luiz Paulino e Fabrício Ferreira de Oliveira disseram que a prática, conhecida no mundo político como “rachadinha”, envolvia até mesmo os valores recebidos como 13º e chegava a 60% dos vencimentos.
A suspeita de rachadinha no gabinete de Janones é investigada pela Polícia Federal desde 2021. Em áudios divulgados na segunda-feira pelo site Metrópoles, o deputado diz que os servidores deveriam usar uma fatia dos salários recebidos da Câmara para pagar dívidas de campanha. O parlamentar nega ter praticado qualquer irregularidade e afirmou nas redes sociais que o pedido revelado na gravação foi feito ainda antes de se eleger, em 2018, para pessoas que ainda não trabalhavam em sua equipe. Janones disse ainda que não colocou a sugestão em prática, já que a ideia foi “vetada” por sua advogada. Procurado pela reportagem para falar sobre a acusação dos ex-funcionários, ele não retornou aos contatos.
De acordo com Paulino, que trabalhou no gabinete de fevereiro de 2019 até outubro de 2022, com salário de R$ 19.562, os pedidos para repassar parte do seu salário começaram no início de 2019, logo após Janones assumir o seu primeiro mandato. O parlamentar foi reeleito no ano passado. Segundo o ex-funcionário, a responsável pela arrecadação dos recursos juntos aos assessores de Janones era Leandra Guedes (Avante), atual prefeita de Ituiutaba, em Minas Gerais, e aliada de confiança do parlamentar. Ela foi procurada pelo jornal por meio de sua assessoria, mas não se manifestou.