A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) da ONU, disse que atividades militares em curso no Mar Vermelho ditam atrasos no transporte de cargas, aumentam custos e emissões de gases de efeito estufa.
Esta situação é combinada a interrupções que têm sido verificadas nas rotas de navegação de grãos na Ucrânia. No canal do Panamá, o nível baixo das águas fez reduzir o fluxo do comércio marítimo em 36% em relação a um ano.
Canal de Suez
Falando a jornalistas, de Genebra, o chefe da Seção de Facilitação do Comércio da Unctad, Jan Hoffmann, lembrou que entre 12% e 15% do comércio global passaram pelo Canal de Suez em 2023. O volume do transporte de contêiners pela ligação ao Mar Vermelho supera os 20% do total internacional.
O impacto da continuação de ataques de combatentes houthis nas embarcações que passam pela via torna a situação “dramática” para os custos de despacho.
Um dos exemplos é a subida nas taxas diárias cobradas às embarcações provenientes da cidade chinesa de Shangai em US$ 500, o maior aumento semanal de sempre.
Já os custos relativos ao transporte de Shangai para a Europa mais do que triplicaram. Em relação à costa leste dos Estados Unidos, a alta foi de 162%, no que ilustra o impacto da crise no Mar Vermelho em outras regiões do planeta.
Redução de contêiners
Desde novembro, muitas embarcações optam por rotas alternativas passando pela África do Sul. Em 2024, mais de 300 navios porta-contentores, ou mais de 20% da capacidade global, tomaram essa medida.
A diminuição semanal de contêiners passando pela rota do Mar Vermelho chegou a 67% em relação ao ano passado.
Na comparação aos 12 meses anteriores, o declínio de carregamento de contêiners foi de 77%.
Já o trânsito de petroleiros reduziu 80%, enquanto os transportadores de gás liquefeito cessaram totalmente as suas atividades. O maior receio destes operadores é que as embarcações sejam atacadas.
Menor disponibilidade de grãos
O especialista apontou o impacto da crise no Mar Vermelho na navegação marítima que se reflete na necessidade de pagar por mais dias de viagem, na alta do preço diário de trânsito e na obrigação dos navios acelerarem para compensar o desvio gastando mais combustível.
A agência revela preocupação com a economia com o potencial aumento da inflação, das interrupções prolongadas e dos atrasos em entregas que podem fazer disparar custos em nível global.
Com a alta dos preços de energia teme-se um efeito cascata sobre preços de alimentos que pode agravar ainda mais a situação criada pela redução da disponibilidade de grãos da Europa e da Rússia. Os custos de cerca de metade dos alimentos em 2022 subiram devido ao aumento de taxas de transporte.
A Unctad diz que continua a monitorar especialmente o impacto da situação nos países em desenvolvimento. A agência aponta que estas interrupções sublinham a tendência de vulnerabilidade global às tensões geopolíticas e aos desafios do clima.
Jan Hoffmann declarou que outro motivo de preocupação é a insegurança de marinheiros, no contexto atual em que o transporte marítimo global corresponde a mais de 80% do comércio internacional.