Ao supostamente admitir que vai disputar as eleições de 2026, na condição mais provável de candidato a governador, pois obteve mais de 3,8 milhões votos, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), deu ainda mais gás à oposição, que está unida, mas estava parcialmente preocupada com o destino do grupo e do maior líder da oposição na Bahia.
E mais, segundo Jair Onofre, do Bahia na Política, as entrevistas de ACM Neto nesta semana, além de desmentir muitas notas, fez alguns prefeitos perderem a vontade total em cogitar ir para a base de Jerônimo Rodrigues (PT).
Herdeiro do espólio de uma dinastia política, ACM Neto foi o deputado federal mais votado na história da Bahia e prefeito de Salvador por dois mandatos e mais bem avaliado do país. E como todos dizem, com apenas 44 anos.
Quem é ACM Neto?
Apontado até mesmo por adversários como um dos políticos mais habilidosos de sua geração, Antônio Carlos Peixoto de Magalhães Neto carrega o legado e o peso simbólico – para o bem e para o mal – de uma das dinastias mais importantes da política nacional.
ACM Neto nasceu em 26 de janeiro de 1979, em Salvador. Filho de Antônio Carlos Magalhães Júnior e Maria do Rosário Magalhães, ele sempre teve a política “correndo nas veias”: assim como o avô, seu pai foi senador da República. Seu tio, Luís Eduardo Magalhães (1955-1998), foi presidente da Câmara dos Deputados entre 1995 e 1997 e era considerado potencial candidato ao Palácio do Planalto – na época, contava com a simpatia do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em 1998, durante sua pré-campanha ao governo da Bahia pelo PFL, Luís Eduardo morreu precocemente, aos 43 anos, vítima de um infarto fulminante.
Aquele que é atualmente o principal herdeiro do carlismo, ACM Neto estudou no Colégio Marista e no Colégio Módulo, dois dos mais tradicionais da capital baiana. Neste último, no qual completou o segundo grau, Neto deu os primeiros passos na política estudantil e fundou o grêmio acadêmico.
Em 2001, então com 22 anos e já se preparando para iniciar a inevitável trajetória política, ACM Neto se tornou bacharel em Direito, concluindo o curso pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Em dezembro de 2006, uma nova tragédia quase se abateu sobre a família Magalhães. ACM Neto foi vítima de um atentado a faca, golpeado nas costas por uma mulher identificada como Rita de Cássia Sampaio de Souza. A agressora era servidora pública aposentada e, segundo a polícia, alegou que o político não teria cumprido uma suposta promessa de liberação do pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Ela também se dizia indignada pelo aumento de salário dos deputados e senadores. A mulher foi presa e indiciada por tentativa de homicídio. ACM ficou internado por uma noite Hospital da Bahia, em Salvador.
Em 2007, aos 28 anos, ACM Neto tornou-se pai de uma menina, Lívia. A segunda filha, Marcela, veio em 2010. Quase uma década depois de está separado, em dezembro de 2020, em meio à pandemia de Covid-19, ACM Neto, então com 41 anos, casou-se pela segunda vez, com a administradora de empresas Mariana Barreto. A celebração, restrita a apenas 20 convidados, foi realizada no apartamento de seus pais, ACM Júnior e Maria do Rosário.
ACM Neto no Congresso, dura oposição ao PT
Preparado desde muito jovem para seguir a trilha do pai, do tio e, principalmente, do avô, ACM Neto começou a escrever sua própria história na política em 1997, quando se filiou ao Partido da Frente Liberal (PFL), de viés conservador, dissidência do Partido Democrático Social (PDS). Em 1999, aos 20 anos, assumiu a direção nacional do PFL Jovem. Entre 1999 e 2002, foi assessor na Secretaria de Educação do estado da Bahia, durante a gestão do ex-governador César Borges (PFL).
O ponto de virada na trajetória de ACM Neto, no entanto, se deu nas eleições de 2002 – que levaram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República depois de três tentativas fracassadas. Naquele ano, ACM Neto disputou pela primeira vez uma vaga na Câmara dos Deputados – e venceu, tendo sido o candidato mais votado na história da Bahia. Em janeiro de 2003, iniciou seu primeiro mandato na Câmara.
Antes de ser reeleito, em 2006, o neto de Antônio Carlos Magalhães ganhou projeção nacional por sua participação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, que investigou o “mensalão” – escândalo de corrupção que marcou o primeiro mandato de Lula no Planalto e abalroou algumas das figuras de maior proeminência do PT e do governo federal.
Reconduzido pelo eleitorado baiano para mais quatro anos como deputado federal, ACM Neto intensificou, especialmente a partir de seu segundo mandato, as críticas ao governo petista e ao presidente da República. Tornou-se uma das vozes mais combativas da oposição no Parlamento, o que o consolidou como uma liderança nacional.
Prefeitura de Salvador
Consolidado como uma importante liderança do Legislativo, ACM Neto decidiu alçar novos voos e mirou o Executivo pela primeira vez em 2008. Nas eleições municipais daquele ano, foi candidato à Prefeitura de Salvador, já pelo Democratas (DEM), sucessor do PFL, atual União Brasil.
Apesar de ter liderado as pesquisas de intenção de voto no início da campanha, ACM Neto não conseguiu chegar ao segundo turno, terminando em terceiro lugar, com 346 mil votos (26%). Ele foi superado por João Henrique (PMDB) – que seria eleito no segundo turno – e Walter Pinheiro (PT).
Em 2010, ACM Neto foi eleito para o terceiro mandato na Câmara dos Deputados – foi novamente o candidato mais votado da Bahia e o oitavo do Brasil. Já sob o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o neto de ACM manteve uma oposição dura, embora adotando um tom mais moderado. Dois anos depois, lançou-se mais uma vez para a disputa municipal.
Em 2012, aos 33 anos, ACM Neto se elegeu prefeito da capital baiana. No segundo turno, em um confronto direto com o PT, derrotou Nelson Pelegrino com mais de 53% dos votos válidos no segundo turno. Em 2013, teve início uma das gestões mais bem avaliadas do país.
Segundo levantamento do Vox Populi na época, ACM Neto foi o prefeito mais bem avaliado das capitais brasileiras por duas vezes, em 2013 e 2014, com mais de 60% de aprovação. Em 2015, de acordo com o Instituto Paraná, o índice de popularidade do prefeito superava 84% entre os soteropolitanos.
A boa gestão em Salvador o credenciou para mais uma disputa pela prefeitura, em 2016. ACM Neto foi reeleito com uma votação acachapante (74% dos votos válidos), ainda no primeiro turno. Quatro anos mais tarde, concluiu o segundo mandato com altíssima aprovação e elegeu o sucessor, Bruno Reis, com mais de 64% dos votos.
Em março de 2018, já na condição de maior liderança nacional do então DEM, atual União Brasil, ACM Neto assumiu a presidência do partido, substituindo José Agripino Maia (RN), velho cacique da legenda.
Principalmente a partir de seu segundo governo, Neto deixou de lado a retórica virulenta do período como parlamentar e construiu pontes com a esquerda – o trabalho em conjunto com Rui Costa (PT) no combate à Covid-19 é considerado um exemplo de sucesso.
“A ausência na Bahia de qualquer outra alternativa de centro ao PT fez, inclusive, com que uma parte do eleitorado anticarlista, que sempre votou contra o Antônio Carlos, passasse a votar em Neto. Ele se transformou em um político com um discurso mais moderno”, afirmou Paulo Fábio Dantas Neto, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ao jornal InfoMoney, em reportagem publicada em junho de 2022.
Ao mesmo tempo, ACM Neto manteve distância protocolar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem evitou embates mais duros durante a pandemia.