Presidente do PDT, Carlos Lupi é um fiel escudeiro do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Mirando 2022, os dois mantêm diálogos sobre lançar uma chapa de centro-esquerda capaz de rivalizar com Jair Bolsonaro. Agora, com os indicativos de que Maia deve deixar o DEM por causa dos acenos do chefe da legenda, ACM Neto, ao governo, o projeto ficou embaralhado.
Em entrevista a revista Veja, Lupi detalha as conversas que vem mantendo com ACM e Maia para as próximas eleições. Ele afirma que, até recentemente, o plano era montar uma chapa com Ciro Gomes (PDT) e Rodrigo Maia (DEM) e se mostra surpreso com a possibilidade de o DEM se aproximar do governo. “Quero ser sincero e não tenho que esconder, já que ele nunca pediu segredo. O ACM Neto sempre me afirmou que não havia hipótese de o DEM ir com o Bolsonaro. A mim ele falou por diversas vezes que era um erro, um suicídio político, e que o Bolsonaro tem no estado uma péssima aceitação”, diz. Confira a íntegra.
Como é a sua relação com o DEM? Eu tenho relação pessoal com o Rodrigo [Maia] e com o César [Maia] de 35 anos, quando o César foi um dos fundadores do PDT, era o principal economista do Leonel Brizola e foi secretário da Fazenda dele no primeiro governo, em 1983. Ali eu conheci o Rodrigo, ainda bem jovem, que acompanhava o pai em muitos despachos na casa do Brizola. É uma relação de muitos anos e que se manteve. Com o ACM Neto, eu sempre tive uma relação mais institucional, ele presidente de um partido e eu de outro. Eu me aproximei mais nessas últimas eleições, quando ele nos buscou por uma aliança para a prefeitura de Salvador. Ele achava que tinha a necessidade de ter algum verniz vermelho na chapa e a gente acabou indicando o vice. Com os dois mantenho um bom diálogo olhando para o futuro.
O que o senhor planeja para 2022? Eu sou daqueles que acredita que a aliança que terá êxito nas próximas eleições será a de centro-esquerda. O Bolsonaro ocupou o campo da direita de maneira indevassável e deslocou o DEM para ser centro. Sempre alimentei nas conversas, tanto com o Rodrigo quanto com o Neto, o desejo de uma possibilidade de aliança. O Neto sempre exaltou interesse pela parte de o Ciro ser nordestino. E o Rodrigo nunca colocou óbice – ao contrário.
Como o racha no DEM afeta esses planos? Eu mantenho essa boa relação com o Neto, nós elegemos o vice-prefeito na chapa do candidato dele, Bruno Reis, em Salvador. O principal projeto do Neto é ser candidato a governador da Bahia. E ele acha – e eu também – que o PDT pode dar a ele um verniz que ele não tem na Bahia muito importante, até porque o principal adversário que ele tem na Bahia é o PT. Nós mantemos um bom diálogo com ele, como também tenho com o PT. Ao mesmo tempo, mantenho esse diálogo com o Rodrigo. Ele tem dito, e não pediu segredo, que vai ficar um tempo sem partido e que vai para o caminho da oposição. Eu tenho mantido diálogo com ele porque nós estamos no campo da oposição.
E como o senhor avalia a possibilidade de adesão do DEM ao governo? Acho pouquíssimo provável que o Neto vá para o Bolsonaro. O Bolsonaro não será um bom cabo eleitoral para ele na Bahia, é um dos estados onde o presidente tem mais baixa aceitação e acho que para ele nós somos importantes. A Bahia é um estado do Nordeste em que o Ciro teve uma expressiva votação. Acho que se o Ciro conseguir em abril ou maio do ano que vem ter 15%, 16%, ele pode ser um candidato viável. E aí o DEM virá para quem tiver viabilidade.
O ACM Neto já havia tratado sobre firmar uma aliança com Bolsonaro? Não, para mim nunca colocou. Quero ser sincero e não tenho que esconder, já que ele nunca pediu segredo. Ele sempre me afirmou que não havia hipótese de o DEM ir com o Bolsonaro. A mim ele falou por diversas vezes que era um erro, um suicídio político, e que o Bolsonaro tem no estado uma péssima aceitação.
Como o senhor recebe as declarações de que ele não fecha as portas para ninguém? Como o Neto é presidente de um partido que tem uma característica natural de sempre ter uma possibilidade maior com quem está no poder, ele tenta administrar e ser o maestro nessa administração de não desagradar nenhuma das partes que compõem o partido dele. Você vê que o DEM tem dois ministros. Ele agora, mais do que nunca, precisa fazer um malabarismo para conseguir sobreviver como presidente do partido nessas correntes diversas que o DEM representa. Com uma tendência forte, e eu não tenho nenhuma ilusão, de o poder ser muito importante na sua definição.
Não há muitas divergências, principalmente no campo econômico, entre o DEM e o PDT? Eu concordo, os partidos não são muito convergentes no campo econômico. Mas se você encontrar algum ser humano no planeta terra que consiga converter o Ciro a mudar sua opinião no campo econômico, me avisa. Eu não conheço. Então, quem vir a apoiar o Ciro sabe claramente o que ele pensa sobre economia e sobre a visão estratégica do papel do estado em ser um balizador. Quem vier virá sabendo que ele não muda.
Numa possível aliança com o DEM, quem seria o candidato ideal para compor com o Ciro Gomes? Eu não tenho ainda esse nome. Para se ter uma ideia, há um mês seria o próprio Rodrigo. Porque é do Rio de Janeiro, era o presidente da Câmara. Agora não é mais – e não é mais nem do DEM, está saindo. Então é muito difícil. A política é longa-metragem, não é curta-metragem. Há muita história para acontecer.