quarta-feira 26 de junho de 2024
O senador Sergio Moro (União Brasil-PR), autor do projeto - Foto: Pedro França/Agência Senado
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domingo 21 de janeiro de 2024 às 17:35h

Ação que julga cassação de Moro tem choque de versões na reta final e plenário do TRE incógnita; entenda

JUSTIÇA, NOTÍCIAS


O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) retoma nesta segunda-feira (22) as sessões de julgamento sob expectativa de analisar, já nos próximos dias, as ações segundo Marlen Couto, do O Globo, que pedem a cassação do hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR), após um parecer do Ministério Público Eleitoral favorável à perda do mandato por abuso de poder econômico, em dezembro. O caso ainda não foi pautado pelo relator, o desembargador Luciano Carrasco Falavinha Souza, que promete fazê-lo em breve, o que gera indefinição sobre qual será a composição do plenário que dará o veredito, diante do calendário de substituições previstas no tribunal.

Os processos contra Moro questionam gastos com sua pré-campanha, período em que o ex-juiz desistiu de concorrer a presidente e optou por disputar o Senado. Com base em notas fiscais enviadas pelo União e por sua antiga legenda, o Podemos, o MPE calculou gasto de R$ 2,03 milhões e considerou que o valor foi excessivo para a disputa ao Senado no Paraná, o que configura, na sua avaliação, abuso de poder econômico.

A legislação eleitoral não tem uma previsão de limite para pré-campanhas, mas se o gasto for considerado excessivo pela Justiça Eleitoral, pode ser enquadrado como abuso, segundo especialistas. O principal precedente é a cassação da ex-senadora Selma Arruda (MT), em 2019. Na época, a Justiça apontou gasto anterior à campanha equivalente a 72% do arrecadado por sua candidatura.

Segundo a Procuradoria, a soma de investimentos feitos pelo Podemos e União na pré-campanha de Moro representa pouco mais de 45% do limite de gastos para a eleição de senador no estado, em 2022, de R$ 4,4 milhões (o ex-juiz gastou R$ 4,2 milhões no período oficial). O valor também equivale a mais que o dobro da média de gastos dos dez candidatos ao pleito.

“A lisura e a legitimidade do pleito foram inegavelmente comprometidas pelo emprego excessivo de recursos financeiros no período que antecedeu o de campanha eleitoral”, argumentou. Caso seja comprovada a despesa de R$ 2,03 milhões, é como se Moro, mesmo respeitando o teto durante a campanha, tivesse despendido valor superior a R$ 6,2 milhões para se eleger.

Procurado pelo GLOBO, Moro não respondeu. Para evitar sua condenação, o parlamentar tem como principal desafio reduzir o montante de despesas contabilizado como investimento direto para sua participação na eleição. Ao longo do processo, a defesa do senador tem defendido que os valores destinados a serviços advocatícios, assim como outras despesas apontadas pelas partes e pelo MPE, foram prestados a vários pré-candidatos e às legendas. Também aponta que a contratação de advogados, assim como a de serviços de segurança, não trouxeram vantagem competitiva na disputa do Paraná. O senador alega que os gastos eleitorais da sua pré-campanha somaram apenas R$ 144 mil.

De avião a advogados

Especialista em Direito Eleitoral, o advogado Eduardo Damian explica que, de acordo com a legislação, para configurar abuso de poder econômico basta detectar que houve gasto significativo na pré-campanha, sem necessidade de apontar o benefício gerado pelo investimento. Ele destaca que é preciso, no entanto, considerar nessa análise apenas despesas pessoais, sem incluir as compartilhadas ou que não tiveram finalidade eleitoral.

— Não é necessária a demonstração do benefício direto, basta demonstrar gravidade do ato ilícito — aponta.

Moro — Foto: Editoria de Arte
Moro — Foto: Editoria de Arte

Autores das ações contra Moro, PT e PL haviam levantado gastos maiores com a pré-campanha, de R$ 21,6 milhões e R$ 7,6 milhões respectivamente. O Ministério Público entendeu, porém, que parte das despesas listadas também beneficiou outros pré-candidatos do Podemos e União Brasil, ou não teve a relação com a pré-campanha suficientemente comprovada. A Procuradoria apontou ainda que não há indícios de prática de caixa dois e uso indevido dos meios de comunicação, acusações também feitas pelos autores das ações.

As maiores despesas consideradas pelo MPE na conta se referem a viagens do então pré-candidato. A lista inclui ainda conforme o O Gobo, a contratação, por exemplo, pelo diretório paranaense do União Brasil, de uma aeronave da empresa Táxi Aéreo Hércules que teve entre os beneficiados Moro. Ao todo, foram identificados 21 voos, com destinos no Paraná e em São Paulo, que tiveram o senador e sua equipe entre os passageiros, entre julho e agosto de 2022. As viagens totalizaram, segundo os procuradores, R$ 429,7 mil. Já o Podemos desembolsou outros R$ 129,8 mil em passagens aéreas e serviços de hotelaria destinados a Moro e seu primeiro suplente, o advogado Luis Felipe Cunha.

O segundo maior pagamento registrado diz respeito à contratação do escritório de Cunha, seu suplente, pelo diretório nacional do União, entre abril e julho do ano eleitoral. Embora sua equipe não tenha cuidado apenas da pré-campanha de Moro, o MPE calcula que os serviços prestados apenas ao ex-juiz chegam a R$ 333,3 mil. Também se destacam contratos de publicidade digital (R$ 200 mil) e serviços de segurança (R$ 180 mil).

Formação do plenário

A dúvida sobre a composição do plenário que vai julgar a ação, formado por sete magistrados, ocorre porque o mandato do juiz Thiago Paiva dos Santos termina na terça-feira. Ele ocupa uma das vagas destinadas à classe dos advogados. Os mandatos dos substitutos José Rodrigo Sade e Roberto Aurichio Junior também terminam no dia 27. Para analisar a cassação de Moro, o tribunal precisa ter quórum máximo.

A escolha do próximo juiz é uma atribuição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para fazer a indicação, no entanto, ele aguarda a aprovação de uma lista tríplice pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo a Corte eleitoral, não há previsão para essa análise ocorrer. O tribunal só retoma em 1º de fevereiro.

Há ainda outra mudança que pode alterar a lista de juízes do caso. O hoje presidente do TRE paranaense, Wellington Coimbra de Moura, pode não participar do julgamento. Ele deixa o posto no dia 31 de janeiro e será substituído pelo desembargador Sigurd Roberto Bengtsson.

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