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segunda-feira 19 de fevereiro de 2024 às 16:23h

Abilio Diniz imprimiu estilo competitivo à vida e aos negócios

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Abilio Diniz sempre teve muito gosto por competir. Para muitos que o conheceram, ele era muito mais do que competitivo: era obsessivo. Abilio já era um empresário conhecido na década de 60 quando passou a ser um dos principais pilotos dos tempos românticos do automobilismo brasileiro. Ganhou várias provas com um Alfa Romeo vermelho. Em 1971, foi vice-campeão brasileiro de automobilismo e eleito o “Homem de Vendas” do ano. Deixou o automobilismo, mas nunca deixou de competir, nos esportes e nos negócios.

Abilio morreu neste domingo (18) aos 87 anos, vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, com pneumonia e seu quadro se agravou. O empresário viajou em janeiro para Aspen, no Colorado (EUA), enquanto se recuperava de duas cirurgias no joelho. Ele se sentiu mal e voltou às pressas para o Brasil.

Antes disso, fez uma publicação no seu perfil no Instagram quando ainda estava nos Estados Unidos. O empresário disse que, na ocasião, não poderia aproveitar os esportes de inverno na neve devido à sua recuperação.

Sua carreira de empresário começou em 1959. Mais velho dos 6 filhos do português Valentim dos Santos Diniz e de sua mulher, Floripes, abriu com o pai o primeiro supermercado Pão de Açúcar no Paraíso, em São Paulo, bairro onde passou a infância. Era na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, ao lado da Doceria Pão de Açúcar, que Valentim abrira em 1948. Valentim tinha chegado ao Brasil em 1929, e Abilio nascera em 28 de dezembro de 1936.

Formado em Administração de Empresas pela FGV, Abilio foi estudar Marketing e Economia nos EUA em 1965. Logo depois de sua volta ao Brasil, o Pão de Açúcar já era a maior rede varejista do País. Na década de 70, com a aquisição da Eletroradiobraz, se tornou a maior varejista da América Latina, e inovou ao criar os primeiros hipermercados do País.

O grupo seguiu fazendo aquisições, comprando os tradicionais rivais Peg-Pag e Superbom. Nessa época, já tinha negócios em Portugal e Angola. Eram os tempos do chamado “milagre brasileiro”, na fase mais dura da ditadura militar. Ao contrário de outros empresários, que em meados dos anos 70 começaram a pedir a abertura da economia brasileira, Abilio se manteve discreto, falando só de negócios ou algo sobre a inflação, que começava a ser um problema sério da economia e afetar a lucratividade do grupo. Em entrevista ao Estadão, em 1979, disse: “Inflação? Cada um faça sua parte”.

Em 1981, foi criada a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD). Foi nesse ano que, finalmente, se une ao coro dos que pediam a abertura da economia. Quatro anos depois, chegaria a estar numa lista de possíveis ministros do primeiro governo civil após a queda da ditadura, o de José Sarney. Logo depois sofreu com o congelamento de preços determinado durante o Plano Cruzado. As prateleiras dos supermercados ficavam vazias. Diniz chegou a ser indiciado e acusado de sonegar mercadorias. Numa entrevista, ironizou: “Fui de (possível) ministro a inimigo público número 1”.

Durante o segundo turno da primeira eleição direta para presidente da República após a ditadura militar, Abilio foi sequestrado, em 11 de dezembro de 1989. No quinto dia do sequestro, um sábado, enquanto a família negociava o pagamento de um resgate de US$ 5 milhões, a polícia descobriu o cativeiro. A casa foi cercada e iniciada negociação que durou mais de 24 horas. No dia seguinte, Diniz foi libertado e 10 sequestradores foram presos: 5 chilenos, 2 argentinos, um casal canadense e um brasileiro.

Era a manhã do dia do segundo turno entre Lula e Fernando Collor. Na saída do cativeiro, Abilio vestia uma camiseta do PT. A capa do Estadão daquele domingo mostrava a pesquisa do Instituto Gallup: Collor 44,9%, Lula, 44,4%. Até hoje, petistas acreditam que isso contribuiu para a derrota de Lula.

Casino

“Sempre encarei a vida como competição”, disse ele, num trecho de uma entrevista ao Estadão ao comentar que tinha começado a competir no triatlo, a competição que reúne longos trechos de natação, ciclismo e corrida. Era o começo dos anos 90, e Abilio era visto aos fins de semana saindo ou entrando correndo da Península, a porção final e mais chique da Praia da Enseada, onde ficava sua casa no Guarujá. O dono de um quiosque na praia sempre gritava quando a figura atlética passava: “Vai, homem de aço!”. Era referência ao Ironman, o nome da mais famosa competição do triatlo.

Abilio começou a competir ainda com mais garra também nos negócios. Ele tinha assumido a presidência do Pão de Açúcar em 1990 e, em 1993, se tornou o acionista majoritário. O grupo já enfrentava problemas financeiros com disputas familiares pela divisão do negócio. O quadro era agravado pela péssima situação econômica do Brasil no governo Collor. Em 1990, o Pão de Açúcar teve US$ 32 milhões de prejuízo, débito grandioso para a época. Abilio mandou fechar um terço das lojas e demitiu mais de 20 mil funcionários. Após o ajuste, o grupo voltou a crescer.

O Plano Real, criado em 1994, auxiliou Diniz e seu estilo competidor. Lançou um pioneiro serviço de entrega, o Delivery, e fez a abertura de capital (IPO) na Bovespa. Dois anos depois, fez o mesmo na Bolsa de Nova York e tornou o Pão de Açúcar a primeira empresa varejista brasileira a ter ações negociadas em Wall Street. Para expandir o grupo, comprou redes de mercados de bairro, como Barateiro e Peralta.

Em 1999, fechou um grande acordo com o gigantesco grupo francês Casino, rival do Carrefour, que chegara ao Brasil em 1975 e se tornara o principal competidor. Com dinheiro em caixa, comprou o grupo Sendas e o Sé. Em 2002, assumiu a presidência do conselho de administração e seu pai virou presidente honorário. Significava que, a partir daí, o Pão de Açúcar passaria a ter executivos no comando da operação. Em 2005, foi criada uma nova holding, a Vieri Participações, dividindo a sociedade em 50% para a família Diniz e 50% para o grupo Casino.

Pelo acordo, Abilio continuaria na presidência do conselho até 2012, mesmo que os franceses tivessem a maioria das ações (já tinham). Com o Grupo Pão de Açúcar capitalizado, Abilio liderou a compra do Ponto Frio em 2009 e, meses depois, anunciou uma joint venture com a Casas Bahia, dando origem à Via Varejo. Estava criado o maior grupo de distribuição da América Latina (o negócio seria em seguida contestado pela família Klein, da Casas Bahia, que reclamou da valoração da empresa).

Todavia, em 2011, Abilio quis romper o acordo com o Casino, propondo um negócio com o Carrefour, rival histórico do grupo francês Casino. Tinha o apoio do BTG Pactual e a propalada promessa de um aporte do BNDES. A disputa foi aos tribunais e em 2013, após acordo, Diniz deixou sua cadeira no conselho do Pão de Açúcar. O Casino assumiria, então, o GPA e a Via Varejo.

Mas, a essa altura, Abilio já era presidente de outro conselho, o da BRF, a então recente e surpreendente fusão das marcas Sadia e Perdigão. Também passara a ser um dos maiores acionistas do Carrefour, por meio da Península Participações, que havia criado anos antes para administrar a fortuna e os negócios da família. Ficou como presidente da BRF até 2018.

Em julho de 2022, porém, o empresário sofreu um grande abalo. Seu filho João Paulo Diniz morreu, aos 58 anos, vítima de um enfarte fulminante. “Ontem, a vida me deu o golpe mais duro que eu poderia receber e eu estou completamente sem chão. A dor que eu sinto é inexplicável. Meu filho João Paulo me deixou aos 58 anos, invertendo a lei natural da vida”, escreveu Abilio, nas redes sociais.

Em fevereiro de 2023, em entrevista ao Estadão/Broadcast, afirmou que o Brasil estava “vivendo um grande momento” diante das perspectivas de oportunidades de ingresso de capitais internacionais que poderia receber no curto prazo. Na entrevista se definiu: “Sou um otimista”. Meses depois, em junho, o Grupo Casino anunciou que colocaria à venda o GPA. Já Abilio tinha iniciado a carreira de professor e de apresentador de programa de TV. Dava aulas de como competir.

Abilio deixa a mulher, Geyze, e 5 filhos: Ana Maria, Adriana e Pedro Paulo, do primeiro casamento, com Maria Auriluce Falleiros, e Rafaela e Miguel, do segundo casamento.

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