Secretário de Fazenda de São Paulo e ex-ministro de Temer, o economista vê uma vinculação completa entre a retomada da crise e a imunização célere em entrevista na revista Veja:
Como o senhor viu a disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Doria pelo protagonismo da vacinação? Devemos separar os fatos objetivos das narrativas da política. Tudo isso faz parte de uma construção eleitoral, que é o cerne de uma democracia. Mas, dito isso, o estado de São Paulo tomou a iniciativa de procurar uma vacina e estruturar o Instituto Butantan para produzi-la. Usamos nosso escritório administrativo em Xangai para fechar convênio entre o laboratório Sinovac, o governo chinês e o Butantan. Tudo isso são fatos que não sobrevivem a narrativas. É um processo longo, de parceria, que culminou no início da imunização do país, fundamental para a retomada econômica.
Até que ponto essa iniciativa tem impacto na retomada econômica? Essa pandemia tem dois efeitos, indissociáveis. O mais grave afeta a vida das pessoas, leva a mortes. Mas existe uma grave consequência econômica em decorrência do vírus. A solução passa pela vacinação em massa. Assim, a crise econômica é resolvida na raiz, com as pessoas voltando ao trabalho e a consumir com maior confiança. O ritmo de vacinação está bastante lento e teria de ser amplamente incrementado. Ou o Ministério da Saúde põe em prática um programa de imunização mais efetivo ou poderia passar aos estados a competência para que o façam.
Qual é sua expectativa do impacto que a vacina deve ter sobre a economia? Projetamos crescimento em torno de 5% e 5,5% para o estado de São Paulo, enquanto a previsão para o Brasil é de 3,6% em 2021. No fim do ano passado, houve recuperação da economia porque se acreditava que a pandemia estava arrefecendo. Não adianta separar as duas coisas. Existe uma vinculação completa entre a retomada econômica e a vacinação célere.
O senhor vai se vacinar? Assim que chegar a minha vez.
Qual sua avaliação sobre o andamento das reformas econômicas do ministro Paulo Guedes no Congresso? A agenda precisa ser implementada. São definições do Executivo, junto aos ministérios como o da Economia e o da Infraestrutura. É uma questão de planejamento e de competência na execução. É necessário definir um cronograma claro. A reforma administrativa não está progredindo. A tributária também não andou. A agenda de reformas é o que existe de mais importante para que o país possa voltar a crescer.