O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é favorito na disputa das primárias do partido Republicano. Mas o crescimento de uma adversária faz com que os observadores da cena política norte-americana vejam uma sombra ao político. Seu nome é Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos EUA na Organização das Nações Unidas.
Segundo reportagem de Luciano Pádua, da revista Exame, ua candidatura ganha força às vésperas do debate que acontecerá na próxima semana na Universidade do Alabama em Tuscaloosa — do qual Trump não deve participar — e rivaliza com o atual segundo colocado nas pesquisas para a posição republicana, o governador da Flórida, Ron DeSantis.
“Não há dúvida que Donald Trump é favorito nas primárias republicanas. Todavia, a ex-governadora da Carolina do Sul começa a ganhar musculatura política para desafiá-lo. Seu excelente desempenho nos debates atraiu atenção e doadores de campanha”, diz Mauricio Moura, sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital, especializado em eleições globais, e professor da Universidade George Washington.
Segundo Moura, as pesquisas mostram reais chances dela ficar em segundo lugar em Iowa e New Hampshire, as primeiras da temporada. Em reportagem, o Financial Times chamou a atenção para isso. “As chances de uma surpresa de Haley não são tão remotas quanto parecem. Dinheiro não é um problema. Esta semana, o grupo financiado pelo bilionário Charles Koch endossou Haley. Nos últimos dias, ela ganhou apoio nos cruciais primeiros concursos de Iowa e New Hampshire”, escreveu o jornalista Edward Luce.
De fato, a candidata recebeu apoio do Americans for Prosperity (AFP) Action, afiliada aos Koch, no início da semana — a primeira vez que um grupo externo com recursos substanciais apoia um candidato republicano nas primárias de 2024, segundo o site The Hill.
Moura, da Zaftra, avalia que as pesquisas mostram reais chances de Haley ficar em segundo lugar em Iowa e New Hampshire. “Caso isso aconteça, ela pode disputar as primárias da Carolina do Sul e a Super Tuesday como a única alternativa a Trump”, afirma. “Nesse contexto haverá uma real disputa em meio aos imbróglios jurídicos do ex-presidente.”
Uma pesquisa nacional sobre as primárias do Partido Republicano para 2024, divulgada na quinta-feira, 30, mostrou que o ex-presidente Trump ampliou sua vantagem sobre o governador da Flórida, Ron DeSantis. Trump ficou à frente com 68% de apoio, seguido por DeSantis com 9%. Nikki Haley recebeu 7% de apoio, e o empresário Vivek Ramaswamy conquistou 4%.
“Estamos em segundo lugar em Iowa, New Hampshire e Carolina do Sul — estamos nessa para vencer e sentimos o amor. É tempo de fazer história”, escreveu Haley em sua conta do X, o antigo Twitter, nesta sexta-feira, 1.
Já a campanha de DeSantis respondeu à indicação chamando-a, essencialmente, de um endosso a Trump. “Como um relógio, a establishment pró-fronteiras abertas, pró-projeto de lei de alívio de prisão está se alinhando atrás de uma moderada que não tem um caminho matemático para derrotar o ex-presidente”, disse o diretor de comunicações da campanha de DeSantis, Andrew Romeo, em uma declaração postada no X, anteriormente Twitter. “Cada dólar gasto na candidatura de Nikki Haley deve ser relatado como um favor à campanha de Trump.”
Como funcionam as primárias do Partido Republicano?
Os postulantes à indicação do Partido Republicano à Presidência dos EUA começam sua campanha bem antes da disputa oficial. Na Convenção Nacional Republicana, delegados de cada estado indicam para votar quem eles querem como candidato do partido — e o vencedor disputará a presidência do país.
Antes dessa decisão, uma grande disputa acontece dentro do partido. Até aqui, diversos pré-candidatos já saíram do páreo. O próximo grande embate acontece na próxima quarta-feira, 6, no debate que acontecerá na Universidade do Alabama em Tuscaloosa.
Em 15 de janeiro, acontecerá o primeiro grande teste eleitoral dos postulantes à candidatura pela Presidência no partido Republicano: o caucus republicano do estado de Iowa, que representará a primeira prévia para as eleições presidenciais do ano que vem. A votação ocorrerá na terceira segunda-feira de janeiro, quando será celebrado também o feriado em memória de Martin Luther King Jr.
Pouco mais de uma semana após Iowa será a vez das primárias do estado de New Hampshire. De fevereiro a junho, os outros 48 estados e mais territórios norte-americanos fazem suas primárias. Em março, acontece a Super-Terça (Super Tuesday), quando diversos estados fazem eleições no mesmo dia. Em 2024, essa data acontecerá no dia 5 de março e votarão 12 estados, segundo o site Ballotpedia.
“A delicadeza é rara na política de mobilização em massa da democracia, onde os candidatos preferem pinceladas audaciosas de cores primárias em vez de tons mais suaves. Mas, enquanto o favorito à nomeação presidencial republicana é uma fonte de retórica colorida, a ascendente candidatura de Nikki Haley está usando uma reticência tática para esperar o momento certo de se tornar a última desafiante de pé contra Donald Trump”, escreveu no Washington Post o colunista George F. Will.
Segundo ele, Haley está “sabiamente adiando ao máximo possível o momento em que ela deve aguçar o contraste com Trump”, momento que deve chegar após as primárias de New Hampshire.
Desde o início do ano, a preferência por DeSantis derreteu nas pesquisas. Segundo o articulista, trata-se de um cenário de improvável reversão. “Se ele terminar em terceiro lugar, atrás de Trump e Haley em Iowa, onde está concentrando seus recursos de tempo e dinheiro, sua candidatura implodiria.
Eleições dos EUA
O presidente Joe Biden está atrás do ex-presidente Donald Trump em cinco dos seis estados mais decisivos na disputa pela presidência dos Estados Unidos, a um ano de os americanos irem às urnas. Pesquisa do New York Times e da Universidade Siena divulgada no começo de novembro, 5, mostra que o democrata enfrenta dois grandes obstáculos para seguir na Casa Branca: convencer os eleitores de que sua idade, 81 anos, não é um problema e a profunda insatisfação da maioria deles em relação a como o atual governo toca a economia americana.
Biden perde para Trump, seu mais provável rival no flanco republicano, por margens de três a 10 pontos percentuais em:
- Nevada
- Arizona
- Geórgia
- Michigan
- Pensilvânia
O democrata está à frente apenas em Wisconsin, por dois pontos percentuais. Na média, nos seis estados decisivos — e em todos Biden venceu Trump em 2020 — o republicano bate o democrata por 48% a 44%.