O deputado estadual Sandro Régis (União Brasil) concedeu entrevista ao jornal Correio. O líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) antevê uma disputa diferente neste ano, motivada por um “sentimento de mudança” por parte da população. Para ele, isso deve fazer a diferença a favor do pré-candidato ACM Neto (União Brasil), que vai polarizar forças contra o ex-secretário da Educação na Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), cujo nome Regis não citou diretamente nenhuma vez em quase 30 minutos de conversa. Mas isso não livrou o pré-candidato adversário e o seu padrinho, o governador Rui Costa, das críticas do parlamentar.
Sandro Regis
Sandro de Oliveira Régis é advogado, tem 49 anos e está em seu quinto mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa da Bahia. Filiado ao União Brasil, Régis é líder da oposição no Legislativo estadual e também é vice-presidente do partido na Bahia. Foi vice-líder do governo na gestão de Paulo Souto e já ocupou diversas posições na ALBA, como a 1ª Secretaria e a 2ª Vice-Presidência.
Como o senhor está vendo o cenário pré-eleitoral?
Nós estamos enxergando o momento com bastante entusiasmo, mas também com muita responsabilidade e cientes de que temos muito o que trabalhar. O sentimento de mudança que aflora na população é muito grande. Essa eleição de 2022 vai ter uma tipicidade, que a vitória de ACM Neto vai vir do povo. Não partindo da classe política para as pessoas, e sim da população para a classe política. Isto é um grande diferencial.
Com base em que o senhor aponta essa diferença?
Nós sentimos. Quando a gente vai no interior sentimos um calor humano como eu nunca vi igual. As ruas são tomadas, as pessoas fazem questão de abraçar, de cumprimentar, de desejar sorte. É uma coisa até que nos deixa emocionados. A gente que vive da política vê um tensionamento tão grande na sociedade e essa pré-campanha de Neto está sendo o oposto disso. Ele está sendo abraçado pela sociedade. Em 2012 foi assim (quando ACM Neto se elegeu prefeito de Salvador). Eu nunca me esqueço, nós fizemos uma carreata na região do ferry boat e quando passamos em frente a uma escola, as pessoas foram para as janelas e só faltavam se jogar. É esse o sentimento que nós percebemos no interior hoje, o desejo de mudança.
O senhor imagina que esse clima vai impactar as disputas para o Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa?
Na realidade já está impactando, antes mesmo da eleição. Hoje nós já temos 28 deputados no bloco de oposição na Assembleia e até pouco tempo só tínhamos 16. Ou seja, mesmo antes da eleição já impactou aqui dentro da Casa. E eu não tenho dúvidas de que a força da chapa majoritária vai carregar a proporcional.
Eu sei que o senhor começou falando sobre a força do povo, mas quem acompanha política sabe que construir uma estrutura política forte, um grupo coeso, faz toda diferença. Como está este processo?
O formato da disputa já está bem claro. O nosso adversário está definido lá com o time dele e nós estamos aqui com o nosso exército. Além da força popular, partidariamente e politicamente nós estamos muito fortes também. Temos hoje palanques em praticamente todas as cidades da Bahia. Eu diria que a nossa força política está se equiparando à vontade popular.
Essa é uma grande diferença em relação às últimas candidaturas da oposição?
Com certeza, nunca uma candidatura de oposição chegou com tanta força numa eleição como a nossa vai chegar.
A grande surpresa do processo até aqui foi a adesão do PP ao projeto. O que a candidatura de Neto ganhou?
Em primeiro lugar a força político-partidária. O partido chegou com quatro deputados federais e oito estaduais. Isso é uma demonstração inconteste da liderança de João Leão (vice-governador e presidente do PP na Bahia). Segundo ponto, pela estrutura no interior do estado. É um partido que chega com muitos deputados e consequentemente com muitos municípios. Vão ter muitos lugares em que nós seremos a banda A e a banda B e a base do governo não terá palanques. E em terceiro lugar, isso acaba com um discurso deles de que Neto estava isolado. A partir do momento em que o PP vem, Marcelo Nilo (deputado federal pelo Republicanos) vem, nós nos fortalecemos e agregamos novas forças políticas. Eu acho que ganhamos pelo aspecto político, partidário e também psicológico.
E o desembarque do MDB pode ser, de algum modo, comparado a isso?
Tenho o costume de não comentar o time adversário. Quem tem que fazer essa avaliação não sou eu.
A definição do vice de Neto está demorando?
O tempo está OK. Em relação ao interesse que existe na vaga, o que eu penso é o seguinte, se todo mundo quer ser vice do pré-candidato ACM Neto é porque existe uma confiança grande em relação à vitória nas urnas. Ninguém iria brigar para ser vice de quem não tem chances. Qual é o sonho de qualquer político baiano hoje? Ser vice de Neto.
Quais serão os grandes temas desta eleição?
Sem dúvidas, segurança pública e educação. A Bahia lidera desde 2017 o ranking de homicídios do país. Hoje, nosso Estado representa quase 13% do total de mortes no país. Na Bahia, nós da oposição fizemos um levantamento que mostra que aqui morre mais gente assassinada do que nos 27 países da União Europeia. E o pior: hoje, a sensação de insegurança continua crescendo, e a população vive com medo aprisionada dentro de casa. Estamos vendo uma onda absurda de assaltos a bares, restaurantes, farmácias, lojas, arrastões em plena luz do dia em avenidas movimentadas da capital, chacina no interior. Os governos petistas abandonaram a segurança pública e perdeu a guerra para o crime organizado. No interior nós vemos muitas delegacias fechadas e, quando funcionam, muitas têm a ajuda das prefeituras.
Na educação, hoje nós temos uma situação muito complicada principalmente com o ensino médio, que é de responsabilidade do governo do estado. O ensino médio da Bahia é o pior do Brasil, de acordo com o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). A Bahia, tanto nos anos finais do ensino fundamental quanto no ensino médio, não atingiu nenhuma das metas durante os governos de Rui Costa. E temos ainda muitos casos de violência nas escolas. Recentemente vimos um jovem que foi morto a tiros dentro de uma escola estadual em Salvador; um caso de uma unidade de ensino que teve os muros pichados com “Massacre 25/04”. Temos os professores das universidades estaduais reclamando da falta de valorização. Enfim, a verdade é que educação nunca foi uma prioridade dos governos do PT.
Como estes assuntos serão tratados na campanha?
É só conversar com as pessoas nas ruas. O candidato adversário foi o secretário de educação que levou a Bahia a ser líder em analfabetismo e um dos piores estados na avaliação do ensino médio. Em relação à violência a pergunta é simples, você se sente seguro na Bahia? Basta apenas mostrar a vida dos baianos. Só precisaremos transmitir o que estamos vivendo como cidadãos.
Em relação à educação, há um discurso governista no sentido de dizer que os números melhoraram, apesar de o estado estar na lanterna, no caso do ensino médio, por exemplo.
O governo Rui nunca atingiu as metas do Ideb, o oposto de Neto, que pegou a educação falida em Salvador e entregou atingindo todas as metas. É fácil verificar quem prioriza a educação e quem não prioriza. Não adianta criar números, inventar factoides, nem falácias. Contra fatos não há argumentos, o PT não prioriza a educação.
Como o senhor vê a escolha do responsável pela educação para ser candidato?
O PT é o poder pelo poder. Não abre mão para ninguém, tem que ser um candidato deles. Mesmo que este candidato tenha este triste rótulo para nós, de ter deixado a Bahia como líder em analfabetismo.
Como o senhor viu a notícia da batida policial na casa do ex-secretário da Casa Civil Bruno Dauster?
A operação da Polícia Federal reforça a necessidade de que as investigações possam avançar para os fatos sejam apurados e que os responsáveis sejam devidamente punidos. Afinal de contas estamos falando de quase R$ 50 milhões e 300 respiradores que não foram entregues e poderiam ter salvado vidas. Na Assembleia Legislativa, nós protocolamos na Secretaria da Mesa Diretora um requerimento para instaurar a CPI dos Respiradores. Colhemos as 21 assinaturas regimentais e agora espero que o presidente Adolfo Menezes, como guardião da integridade nosso Legislativo, não se oponha ao dever do Parlamento de cumprir o seu papel. Inclusive, esperamos que o governador Rui Costa não se oponha à CPI, já que ele disse estar ansioso para que os culpados sejam punidos.
O senhor acha que a eleição nacional terá algum tipo de influência aqui no estado?
Não, prova disso foi a pesquisa mais recente do Instituo Paraná, mostrando ACM Neto com 54% de intenções de votos. Veja bem, ninguém consegue transferir 100% dos votos, mas a pergunta que eu faço é a seguinte, um grupo político que está há 16 anos no poder, não tem nada o que apresentar e só fala sobre o padrinho merece ganhar a eleição? Isso é a prova da mediocridade e da falta do que mostrar para os baianos. Em 16 anos, não tem o que mostrar, só ficam falando do padrinho.