O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou hoje a Europa com “graves consequências” caso os países da OTAN permitam que a Ucrânia utilize armamento ocidental contra alvos no território russo.
“Esses representantes dos países da OTAN, especialmente na Europa, especialmente em países pequenos, devem estar cientes com o que estão brincando. Eles devem lembrar que, geralmente, tratam-se de estados com territórios pequenos, mas densamente povoados”, disse Putin em uma coletiva de imprensa ao término de sua visita ao Uzbequistão.
Putin destacou que “esse fator é o que eles devem considerar antes de falar sobre o lançamento de ataques contra o interior do território russo”.
“Essa escalada constante pode ter graves consequências e se essas graves consequências forem sentidas na Europa, como os Estados Unidos reagirão?”, disse Putin, fazendo alusão à paridade nuclear entre as duas superpotências.
Ele acrescentou: “Eles desejam um conflito global?”
Em referência às declarações do secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, sobre a necessidade de permitir que Kiev ataque a Rússia com armamento ocidental, Putin afirmou que ele não pode não saber que as armas de alta precisão de longo alcance não podem ser lançadas sem o uso de satélites espiões ocidentais.
“Ele foi primeiro-ministro da Noruega. Nos encontramos e resolvemos questões complicadas sobre o mar de Barents e outros. No geral, pudemos chegar a acordos. Então, eu estava certo de que ele não sofria de demência”, afirmou.
Putin enfatizou que a escolha dos alvos só pode ser feita por “especialistas altamente qualificados” e destacou que mísseis de cruzeiro Storm Shadow podem receber as instruções de voo “sem presença alguma de soldados ucranianos”.
Ele também enfatizou que os alvos podem ser introduzidos automaticamente no caso dos ATACMS americanos com base em dados de satélite.
“Quem faz isso? Aqueles que produzem e aqueles que supostamente fornecem à Ucrânia esses sistemas ofensivos. Isso pode acontecer e acontece sem a participação dos soldados ucranianos”, disse.
Ele enfatizou que essas missões “não são preparadas pelos soldados ucranianos, mas pelos representantes dos países da OTAN”.
Putin também questionou se os EUA realmente desejam chegar a um acordo em matéria de armamento estratégico, pois, acrescentou, Moscou não vê agora “grandes desejos”.
Em declarações à revista The Economist, Stoltenberg assegurou no fim de semana que a possibilidade de a Ucrânia poder atacar dentro do território da Rússia é “legal”, desde que se trate de “alvos militares e legítimos”, por isso pediu o levantamento do veto ao uso de armas ocidentais.
Nesse sentido, o alto representante da União Europeia (UE) para Assuntos Exteriores e Segurança, Josep Borrell, pediu nesta terça-feira um “equilíbrio” entre a necessidade da Ucrânia de atacar alvos no território russo e o risco de escalada no conflito.
Por sua vez, o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, disse hoje que os aviões de combate F-16 que serão entregues à Ucrânia, segundo o acordo assinado hoje com o presidente ucraniano, Volodímir Zelenski, só poderão ser usados em território ucraniano e não para atacar diretamente a Rússia.
O presidente ucraniano, por outro lado, insistiu na necessidade de obter a aprovação de seus aliados para usar o armamento ocidental contra o território russo.
O Reino Unido deu o primeiro passo e recentemente autorizou a Ucrânia a atingir o território inimigo com seu armamento, mas os Estados Unidos, Alemanha, França e a maioria dos aliados de Kiev proibiram.