Exercício aéreo da aliança militar com dezenas de jatos potentes contrasta com as novas táticas de ataque aéreo usadas na guerra na Ucrânia, onde drones se tornaram opção eficiente e mais barata. Moradores de algumas regiões da Alemanha não devem se surpreender se ouvirem estrondos sônicos por esses dias. A megamanobra militar Air Defender 23, o maior exercício aéreo da história da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) , é uma demonstração de poder aéreo multinacional planejada já em 2018 e coordenada pela Alemanha, visando aprimorar a defesa conjunta do território europeu e servir como dissuasão contra possíveis agressores como a Rússia.
Mas esse jogo de guerra com uso intenso de recursos, reunindo um número de aeronaves caras e sofisticadas, e destinado a realizar com sucesso operações aerotransportadas complexas, contrasta fortemente com a guerra real que ocorre não muito longe.
Na Ucrânia, drones pequenos e baratos foram equipados com granadas para serem lançadas sobre as forças inimigas, uma reminiscência dos antigos ataques aéreos, quando os pilotos da Primeira Guerra Mundial lançavam explosivos manualmente de seus lentos biplanos.
Outros drones realizam missões suicidas, que podem ser difíceis de neutralizar tanto no solo quanto no ar. “Esta guerra tem o aspecto que tem porque nenhum dos lados consegue estabelecer uma superioridade aérea”, disse à DW Torben Schütz, pesquisador associado de segurança e defesa do think tank Sociedade Alemã de Política Internacional (DGAP).
Exemplo da guerra na Ucrânia
Para começar, a Força Aérea ucraniana é pequena e obsoleta, e a defesa aérea do país depende das armas que seus parceiros estejam dispostos fornecer. Já a Força Aérea russa é ameaçadora no papel, mas não consegue aproveitar ao máximo suas vantagens técnicas e numéricas. A Rússia, entretanto, ainda pode lançar mísseis de alta velocidade de grandes distâncias. Mas ambos os lados recorreram a soluções que podem parecer mais improvisadas do que estratégicas.
A guerra na Ucrânia fez com que estrategistas ocidentais se perguntassem até que ponto isso antecipa o futuro dos conflitos e também como evitar um cenário em que a superioridade de treinamento e tecnologia seja anulada por enxames de drones prontamente disponíveis, para não falar nos ataques cibernéticos e interferências eletrônicas.
Força homem-máquina
A Alemanha tem relutado em adicionar drones especialmente armados às suas Forças Armadas, e possui uma frota de aeronaves de combate envelhecida. Dos 100 bilhões de euros em gastos adicionais com defesa anunciados, mais de 8 bilhões de euros foram reservados para a compra de até 35 jatos F-35, caças fabricados nos Estados Unidos capazes de transportar armas nucleares.
Os defensores do poder aéreo tradicional argumentam que a tecnologia dos drones ainda não pode superar os voos pilotados por humanos. Os caças são mais poderosos, podem transportar cargas mais pesadas e são menos suscetíveis a ataques cibernéticos e bloqueios eletrônicos que podem derrubar um drone.
As operações de combate aéreo da próxima geração poderiam conectar unidades pilotadas e autônomas. O Future Combat Air System, uma iniciativa franco-alemã patrocinada pelo fabricante europeu de aeronaves Airbus, pretende fazer exatamente isso.
“Pelo ritmo do avanço tecnológico, é prudente evitar tirar conclusões precipitadas para nossas próprias forças (Otan), a partir de conflitos passados e atuais, como na Ucrânia e na Síria e entre a Armênia e o Azerbaijão”, diz o tenente-coronel Torben Arnold à DW.
Para o militar alemão, que é professor visitante do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), as lições aprendidas “não podem ser reproduzidas na base de um para um” em outros conflitos. Ele acredita que, mesmo com o advento da inteligência artificial, os drones não vão tornar os caças obsoletos. Pelo menos, “ainda não”.