No próximo dia 16, o ex-advogado-geral da União André Mendonça finalmente vai assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), após uma longa e tortuosa via crúcis que se arrastou por 142 dias em que esbarrou na incansável tentativa do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) de sabotar a sua indicação. Judeu, Alcolumbre foi acusado de promover uma “guerra santa” contra o pastor presbiteriano Mendonça – e entrou na mira de lideranças evangélicas, que prometem não perdoá-lo tão cedo.
Depois de ver o irmão sair derrotado da disputa pela prefeitura de Macapá, não conseguir o aval do STF para tentar a reeleição no comando do Senado, perder o controle na destinação de emendas e de ser confrontado com as revelações publicados pela revista Veja de que um esquema milionário de rachadinha foi instalado sem pudores no seu gabinete, Alcolumbre vai enfrentar um teste final para a sua sobrevivência política em 2022: as urnas.
“A situação política do senador Davi é a pior de toda sua história política. Não somente os evangélicos do Estado, mas toda a sociedade amapaense está chocada com a covardia política que ele praticou. Se o povo pudesse, o tiraria do Senado antes das eleições que vem”, desabafa o pastor da Assembleia de Deus e professor de direito da Universidade Federal do Amapá, Besaliel Rodrigues. “O povo evangélico do Brasil anotou o nome dele, que vai ficar na memória quando vier a disputa pelo Senado do Amapá. Os cristãos do Amapá dirão ‘não’ pra Alcolumbre no Senado”, reforça o Pastor Guaracy Junior, presidente estadual da Igreja do Evangelho Quadrangular, que deve disputar o Senado no ano que vem.
Para o pastor Gesiel Oliveira, presidente internacional da Aliança Pró-Evangélicos do Brasil e Exterior (Apebe), Alcolumbre atacou a sua própria base eleitoral ao trabalhar nos bastidores contra a indicação de Mendonça. “Essa estratégia destruiu qualquer possibilidade de reeleição. Ainda é incerto quem vai ocupar essa vaga, mas definitivamente uma coisa é certa, o senador que o Amapá vai mandar para o Senado em 2023 não será o Davi Alcolumbre”, prevê Gesiel.
O inferno astral de Alcolumbre está longe do fim. Outrora aliado do presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) já articula uma aliança para disputar o governo estadual com um evangélico ao lado, seja como vice ou como senador na chapa. Embora tenha ajudado a eleição de Alcolumbre na presidência da Casa, em 2019, Randolfe se afastou do colega e agora se encontra num campo oposto no tabuleiro político local.
A fúria dos evangélicos em relação à protelação da sabatina de André Mendonça não é o único problema que Alcolumbre vai enfrentar em seu Estado. O nome do senador ficou muito associado à rachadinha em seu gabinete. Reportagem da revista Veja mostrou que Alcolumbre contratou seis mulheres da periferia de Brasília em troca de elas devolverem a maior parte do salário e de não trabalharem. As mulheres eram registradas como assessoras de Alcolumbre, tinham salários entre 4.000 e 14.000 reais, mas ficavam com uma pequena parte, entre 800 e 1.350 reais.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) acionou o Supremo pedindo a investigação do esquema. O STF pediu um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR), que está analisando o assunto em sua assessoria criminal – o caso pode levar Alcolumbre a responder a um inquérito. “A bola está com a PGR. Não é uma investigação de alta complexidade, depende só da vontade das autoridades responsáveis”, diz Vieira. “No tocante à sabatina do André Mendonça, entendo que o senador Alcolumbre errou muito e provavelmente vai pagar um preço político pela postura equivocada”. Há mais pedras no caminho de Alcolumbre. No Tribunal de Contas da União (TCU), o procurador Lucas Rocha Furtado apresentou pedido de abertura de investigação para apurar o esquema da rachadinha. No Congresso, há uma representação contra o senador no Conselho de Ética.