Em menos de 48 horas em sua primeira viagem a Brasília após ser anunciado como futuro ministro, o ainda juiz federal Sérgio Moro imergiu na transição governamental e na política. Oficialmente de férias da magistratura, aplicou-se em reuniões em série, de até 3 horas de duração, como a que teve com o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, ou mais curtas, com o ministro da Justiça, Torquato Jardim. As duas pastas vão se juntar e estarão sob seu comando a partir de janeiro.
Transitou entre o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – o quartel general da transição – e o Palácio da Justiça, futuro endereço profissional, em substituição à 13.ª Vara Federal de Curitiba (PR), onde participou desde o início da Lava Jato – considerada a maior operação de combate à corrupção da história do País.
Sistemático, enfatizou em repetidos encontros as duas prioridades de sua futura gestão – o combate à corrupção e o enfrentamento ao crime organizado. Esteve reunido com o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e com o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, com quem tratou da formação do ministério.
Na apertada agenda, almoçou na quarta-feira, 7, na presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao lado de Bolsonaro, e nesta quinta-feira, 8, em um restaurante na área comum do CCBB, ao lado de visitantes do espaço cultural, jornalistas e lentes fotográficas. A refeição consistiu em picadinho de carne, arroz branco e polenta cremosa com molho de tomate. Para beber, refrigerante e café.
Sem assessoria de imprensa, cuidou pessoalmente dos compromissos. “São diversas reuniões, assuntos complexos. Vou ficar devendo mais detalhes”, disse a repórteres, que queriam saber sobre os compromissos atendidos e ainda a cumprir, após o almoço no CCBB. Esquivou-se de perguntas, lembrando que tinha dado longa coletiva de imprensa em Curitiba na véspera da viagem a Brasília.
Recados
Além de começar a planejar o futuro superministério da Justiça, mandou recados para o Congresso sobre mudanças legislativas que desejará ver aprovadas. Entre elas, a destinação de recursos das loterias para o Fundo Nacional de Segurança Pública e o endurecimento na execução das penas para crimes considerados violentos, como homicídios qualificados.
Mas também ouviu do ministro Jungmann e do Departamento Penitenciário Nacional o diagnóstico do governo atual de que é preciso conter o encarceramento em massa. Se o presidente eleito fala em “prender e deixar preso” e não apresentou propostas para reduzir a superlotação, Moro disse que a questão carcerária é um problema sobre o qual está refletindo “da forma mais apropriada”. “É necessário criar vagas. É necessário, eventualmente, ter um filtro melhor”, disse ele, em um aceno ao trabalho atualmente desenvolvido no ministério.
O Moro político disse que não é de seu feitio apontar “herança maldita”, falou que houve avanços nos últimos anos, apesar de carências históricas na área da segurança pública, e em continuidade e aprimoramento, mirando o futuro. As urnas, segundo ele, vocalizaram uma grande insatisfação da população com a segurança pública e este é o momento propício para a apresentação de projetos legislativos. Quer medidas fortes e simples (mais informações nesta página).
Depois de pegar o primeiro voo entre Curitiba e Brasília, Moro voltou em um dos últimos horários a capital paranaense, por volta das 20h desta quinta, sem avisar dos próximos passos. “Ficarei circulando entre Brasília e Curitiba e também outras cidades que demandem atenção”, disse ele.