Anúncio foi feito pelo deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) no encerramento da HYDROGEN EXPO South America 2023
O último dia do evento também contou com debates sobre a transição energética industrial e o impacto do hidrogênio verde no agronegócio
Com visitação de mais de 2.500 executivos e profissionais do setor, que produz e que consome hidrogênio verde como opção energética, a primeira edição do Hydrogen Expo South America, realizada no Rio de Janeiro nos dias 20 e 21 de junho, foi encerrada com relevantes discussões para o desenvolvimento da cadeia de valor do hidrogênio verde.
Os trabalhos do dia foram iniciados com a apresentação da coordenadora de Transição Energética e Sustentabilidade da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK-Rio), Natália Chaves, sobre o papel das mulheres no contexto do hidrogênio verde.
A executiva apresentou o Women in Green Hydrogen, iniciativa mundial que começa a ganhar representatividade na América Latina, com o objetivo de aumentar o índice de mulheres envolvidas na cadeia produtiva do hidrogênio verde. “Assim como nas cadeias de valor da química óleo e gás, petróleo e energias renováveis, a participação das mulheres fica ainda na faixa de 20%, o que pretendemos mudar a partir de ações e parcerias que visam conectar e dar visibilidade a essas mulheres”, afirmou Natália.
A pauta da transição energética no âmbito da indústria foi a proposta de discussão do painel mediado pelo cofundador e coordenador da força-tarefa de hidrogênio verde na Associação Brasileira de Energia Solar – ABSOLAR, Eduardo Tobias Ruiz. O mediador lembrou que, do ponto de vista do setor elétrico, a matriz energética brasileira tem 92% de base renovável. “Porém, o setor elétrico representa 18,7% da geração de energia. O setor industrial, que representa o dobro disso, não tem sua base energética renovável ainda consolidada e é sobre essa transição e a participação do hidrogênio verde nesse cenário que vamos abordar”, disse Ruiz.
Participando do painel, o sócio e líder da Prática de Sustentabilidade da Mckinsey & Company no Brasil, Henrique Ceotto, trouxe a visão geral sobre emissões de carbono na indústria brasileira e falou sobre as oportunidades de reindustrialização do Brasil por meio da cadeia produtiva do hidrogênio verde.
Segundo Ceotto, a necessidade global de acelerar ações pró-descarbonização por conta da urgência climáticas impulsionou o debate sobre o tema. Nesse contexto, as competências do Brasil em termos de condições climáticas, complementaridade de fontes energéticas, além do fato de o país já contar com uma matriz elétrica limpa e nacional posicionam bem o país em termos de competitividade. “Entretanto, atuar na produção e exportação de hidrogênio verde demanda atenção e superação de desafios, como a complexidade logística de transporte e a certificação”, comentou. Ceotto completou: “o empreendedor desse segmento vai precisar escalar tecnologicamente, capacitar sua mão de obra, buscar influenciar seus governantes em busca de suporte regulatório, de preferência baseado em relações multilaterais”.
Já o executivo Erasmo Battistella, presidente da BS8, empresa que nasceu como produtora de biodiesel e que recentemente parte para a produção de SAF (combustível de fontes renováveis voltadas ao setor aéreo), abordou no painel as formas de empreender na transição energética no contexto atual. “O hidrogênio verde é a possibilidade de agregar valor ao SAF, mas o Brasil precisa assumir o protagonismo”, comentou. Battistelli prosseguiu: “sem políticas públicas, sem incentivo e sem segurança para atrair investimentos, estamos perdendo o jogo da descarbonização”.
O gerente executivo de Energias Renováveis da Petrobras, Daniel Pedroso, detalhou os atuais projetos da empresa no uso do hidrogênio renovável no refino de óleo e e-fuels sustentáveis. Segundo ele, a Petrobras criou há 15 dias uma diretoria específica, voltada à transição energética. “A empresa produz hoje cerca de 500 mil toneladas ao ano de hidrogênio cinza para consumo interno e tem perspectivas de produzir hidrogênio verde, mas serão necessárias regulamentações e certificações”, explicou. Ainda segundo ele, o volume de projetos existentes de hidrogênio verde atenderia os compromissos climáticos assumidos globalmente, porém somente cerca de 10% estão comprometidos. “O potencial brasileiro precisa ser amparado por regulamentação para efetivar seu potencial”, completou Pedroso.
O case sobre os planos da Fortescue para a economia de hidrogênio no Brasil, apresentado pelo diretor de Operações da empresa no Brasil, Luis Veiga, encerrou as apresentações da parte da manhã, que foram seguidas de um debate sobre o que é necessário para alavancar a indústria do hidrogênio verde além das iniciativas públicas.
H2V e o agronegócio
As oportunidades de hidrogênio verde associadas ao agronegócio foram tema do segundo debate do último dia do Hydrogen Expo South America. Eletrificação de equipamentos agrícolas, armazenamento de energia renovável, mobilidade agrícola sustentável, produção de fertilizantes verdes e a autossuficiência energética nas propriedades rurais foram analisadas pelos debatedores.
O painel foi mediado pela analista de Biometano da Abiogás, Bruna Jardim e chamou o head do programa de hidrogênio do governo do Paraná e diretor de energia & inovação da Alvarez & Marsal, Rodrigo Reis, para apresentação inicial. Na visão dele, o grande papel do Estado agora é trabalhar para criar um ambiente adequado para que o setor se desenvolva. “O tema do hidrogênio se intercala com vários setores da economia que têm características próprias. Na agricultura, por exemplo, fertilizantes, biodiesel, entre outros segmentos, têm peculiaridades específicas que demandam regulações especificas. O Estado é fundamental para criar o marco regulatório que dê estímulo e segurança para os investimentos. E isto precisa acontecer agora. Não temos mais tempo, já estamos aquém do que o agronegócio brasileiro pode. Devemos contribuir com a preservação ambiental para que as transformações climáticas sejam atenuadas e diminuir a vulnerabilidade da produção da agricultura e da pecuária não seja prejudicada”.
A analista de estruturação de projeto de P&D da Cibiogás – ER, Maiara Garcia, também enfatizou a necessidade de políticas públicas que deem segurança jurídica. “As regras precisam ser colocadas na mesa da regulação para que cada stakeholder saiba deveres e direitos. O Estado precisa identificar também a possibilidade da definição de subsídios, como foi feito com o álcool. Por nosso lado, temos que disseminar para o mercado e para a sociedade o H2 como opção viável. A aproximação entre empresas e universidades é uma opção muito interessante de parcerias ganha-ganha para impulsionar a adoção do H2 na transição energética”.
O diretor do projeto H2Brasil na GIZ, Markus Francke, afirmou que definir como será feita certificação aqui e no mundo e garantir equivalências e padronizações entre os mercados, além de treinamento de profissionais, são medidas cruciais para facilitar o desenvolvimento da produção e utilização do H2 no contexto agrícola. “As condições estruturantes e legais são muito importantes, mas existem possibilidades para que todos os setores realizem projetos que considerem o H2. As empresas podem começar e tomar a iniciativa, mapear as possibilidades locais ou em outros países para construir o próprio mercado. Não se pode simplesmente esperar pela disposição do estado. As situações nunca são ideais”.
Ainda na seara da regulamentação, outro tema abordado foram as perspectivas de certificações em hidrogênio verde. O sócio da Green Desenvolvimento Sustentável, Felipe Bottini, afirmou ser necessário um leque de soluções para diminuir o volume de emissões e o H2 é uma das grandes alternativas para se alcançar bons resultados.
“Quando pensamos no futuro é certo que haverá aumento de investimentos. São mais de 600 projetos de larga escala para a produção de hidrogênio em todo o mundo entre 2022 e 2030. Fica claro também que, nas próximas décadas, os custos para a produção de H2V serão reduzidos enquanto a produção de hidrogênio a partir de combustíveis fósseis terá seu custo aumentado, incluindo taxações de carbono. Além disso, a impulsão à descarbonização deve arrefecer. Projeta-se um potencial de redução de GEE em 20% a partir da utilização de hidrogênio verde como fonte de energia até o ano de 2030”, disse, acrescentando que: “Quanto às certificações, o importante é que, elas conversem entre si mundo afora para que os negócios não emperrem”.
Encerramento
O encerramento do evento se deu com o painel que reuniu o presidente da Comissão Especial da Transição Energética e Produção do Hidrogênio Verde no Brasil, deputado federal Arnaldo Jardim, e representantes da ABEEólica, ABSOLAR e ABIOGAS, para o debate sobre o Marco Regulatório da produção, distribuição e comercialização do hidrogênio verde e os impactos no agronegócio e na indústria.
“A Comissão tem analisado as iniciativas já existentes nesses setores em termos de políticas que já vêm sendo estruturadas em âmbito estadual e federal. A partir dessa apuração, queremos propor a estruturação de linhas permanentes de crédito para o setor, no contexto da reforma tributária, além da estruturação das normativas que resultarão no Marco Regulatório do hidrogênio verde”, explicou o deputado. E completou: “A nossa intenção é atuar com essa agenda até o final do ano para, no início de 2024, apresentarmos o texto do Marco Regulatório para deliberação”.
H2 EXPO South America 2024 já tem data marcada
Criado para reunir os principais players mundiais da cadeia de valor do hidrogênio e apresentar as mais modernas ferramentas e soluções práticas para superar os desafios ao desenvolvimento do hidrogênio verde como alternativa viável à indústria local, a HYDROGEN EXPO South America – Feira & Conferência Internacional sobre tecnologias e soluções para a cadeia produtiva do hidrogênio superou as expectativas de seus organizadores.
“Conseguimos, nestes dois últimos dias, aproximar oferta e demanda, desenvolvedores de soluções para a produção e distribuição de H2V e os grandes consumidores industriais e de outros segmentos econômicos que estão comprometidos com a transição energética”, afirma o managing director da Interlink Exhibitions, Cassiano Facchinetti. “O Hydrogen Expo South America abriu espaço no mercado e se estabeleceu como o primeiro evento a passar da discussão à realidade do hidrogênio verde como alternativa para as indústrias brasileira e sul-americana, mostrando que é possível atuar desde já no desenvolvimento desse setor de negócio e contribuir com a modernização da indústria e a preservação do ecossistema ambiental como um todo”, complementou.
As associações e a AHK entregará ao Deputado Federal Arnaldo Jardim nos próximos dias uma proposta de arcabouço legal para o H2 para que seja avaliado pela comissão presidida pelo deputado.
A próxima edição já tem data marcada: A próxima edição do Hydrogen Expo South America já tem data para acontecer: 11 e 12 de junho de 2024, no Centro Expo Mag, no Rio de Janeiro (RJ)