segunda-feira 23 de dezembro de 2024
Home / DESTAQUE / À frente do STF, Fux deve evitar pautas polêmicas como corrupção, diz jornal
terça-feira 21 de julho de 2020 às 06:56h

À frente do STF, Fux deve evitar pautas polêmicas como corrupção, diz jornal

DESTAQUE, NOTÍCIAS


O ministro Luiz Fux deve priorizar processos que tratam dos efeitos econômicos do novo coronavírus no início de sua gestão à frente do STF (Supremo Tribunal Federal), que começa em setembro. A ideia é promover segurança jurídica para facilitar a retomada da economia.

O futuro presidente da corte sinalizou segundo a Folha, que deve evitar pautas polêmicas, como a descriminalização das drogas e a legalização do aborto. E também não quer levar à votação julgamentos que tenham potencial para limitar ou impor novas regras a investigações contra a corrupção.

A chegada do magistrado ao comando da corte é considerada por procuradores das forças-tarefas a principal esperança para manter a Lava Jato de pé diante da disputa com o procurador-geral da República, Augusto Aras.

Fux é um dos principais defensores da operação no STF, e investigadores acreditam que a ascensão dele ao comando da corte pode retirar a Lava Jato do isolamento institucional. O sentimento é reforçado porque ele entrará no lugar do ministro Dias Toffoli, que sempre criticou a condução da operação.

Outra aposta de ministros de tribunais superiores sobre a futura gestão diz respeito à manutenção de privilégios da magistratura.

Responsável por estender o auxílio-moradia a todos os juízes do país por quatro anos, o ministro deve evitar a discussão sobre supersalários e teto constitucional.

Colegas de STF observam que as recentes entrevistas e palestras de Fux já deram a tônica da sua gestão na corte.

O ministro tem pautado o debate em questões de impacto orçamentário e em discussões de marcos regulatórios, mas não tem abordado o que juristas chamam de sistema de direitos fundamentais, como liberdade de expressão e garantias individuais.

A avaliação feita por Fux a interlocutores é que temas delicados como drogas e aborto levariam o Supremo para o centro do debate público em meio a uma crise sanitária e econômica. Além de tensionar ainda mais a relação entre os Poderes, já que são pautas caras ao bolsonarismo.

O Palácio do Planalto também não quer começar a relaçao com o pé esquerdo. No STF, correm investigações envolvendo aliados e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e os ministros também devem analisar pedidos da defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Outro movimento que deverá ser administrado por Fux é a ofensiva do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para viabilizar a reeleição no comando da Casa por decisão judicial e sem disputa política.

Alcolumbre vê na judicialização um caminho mais fácil do que mudar a regra do jogo via Congresso, onde precisaria de três quintos dos votos dos deputados e dos senadores.

A confirmação do nome de Fux para comandar o STF foi antecipada em quase dois meses. Tradicionamente, a eleição ocorre em agosto, mas foi feita no final de junho para acelerar o trâmite burocrático na montagem da equipe em meio à pandemia.

A escolha de Fux para o comando da corte seguiu a tradição de eleger o integrante mais antigo do tribunal que ainda não tenha assumido o cargo. A ministra Rosa Weber foi eleita vice-presidente.

A sua gestão se iniciará em um ano conturbado, marcado pela crise do coronavírus e pelos enfrentamentos entre o Supremo e Bolsonaro.

O magistrado mantém boa interlocução com o mundo político e se aproximou do governo logo que Bolsonaro foi eleito, por intermédio de Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral de Governo, morto em março último.

A relação não durou muito e, nos embates entre o presidente da República e a corte, Fux tem priorizado a união interna e o apoio a colegas. Ao ser eleito para o comando do STF, ressaltou que não hesitará em defender o próprio Supremo e a democracia.

“Eu prometo aos meus colegas que vou lutar incansavelmente para manter o STF no mais alto patamar das instituições brasileiras. Vou sempre me empenhar pelos valores morais, pelos valores republicanos, me empenhar pela luta da democracia e respeitar a independência entre os Poderes dentro dos limites da Constituição e da lei”, disse.

Magistrado de carreira, Fux passou por todas as instâncias do Judiciário e também foi promotor de Justiça antes de chegar ao Supremo. É professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e tem doutorado na instituição.

Pelo histórico, é considerado um juiz completo e com amplo domínio do direito. No entanto, é criticado por uma ala do STF por ser suscetível à opinião pública.

Nos dois anos à frente do Supremo, deve herdar uma extensa judicialização da pandemia e terá que decidir se leva a plenário julgamentos importantes, como o da divisão dos royalties do petróleo entre os estados brasileiros e temas tributários bilionários.

O ministro deve manter Eduardo Toledo na diretoria-geral da corte. O servidor está no cargo desde a gestão da ministra Carmém Lúcia, antecessora de Toffoli.

No gabinete, o mais cotado para assumir a secretaria-geral do STF a partir de setembro é o juiz federal Pedro Felipe Santos, que ingressou na magistratura em 2013, com 25 anos.

O atual secretário de Tecnologia da Informação do Supremo, Edmundo Veras, é quem deve ficar na diretoria-geral da corte no lugar de Eduardo Toledo, que está no cargo há quatro anos.

Já a atual chefe de gabinete do ministro, Patrícia Neves, é a mais cotada para assumir posto equivalente na presidência do Supremo.

Em 2018, Fux presidiu o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) entre 6 de fevereiro e 14 de agosto, quando foi substituído pela ministra Rosa Weber no comando da corte eleitoral.

Fux já previa que as fake news seriam um dos principais desafios para o tribunal na eleição nacional daquele ano.

Por isso, formou o Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições com diversos especialistas no tema, além de ter realizado seminários para discutir o assunto.

À época, Fux cogitou até dar poder de polícia para os juízes poderem atuar contra notícias falsas de ofício, ou seja, sem a necessidade de serem provocados por candidatos ou pelo Ministério Público.

Na prática, porém, nenhuma medida foi tomada e as fake news predominaram, inclusive, na disputa presidencial, conforme revelou a Folha em reportagem sobre um esquema de propagação de informações falsas financiado por empresários bolsonaristas.

Veja também

Polícia busca motorista de carreta que se envolveu em acidente que matou mais de 40 pessoas

Policiais rodoviários federais, civis e militares de Minas Gerais buscam o motorista da carreta que …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!