Durante sua campanha, Lula evitou fazer movimentos diretos de aproximação com militares. Segundo a colunista Bela Megale, do O Globo, a ideia que chegou a ser defendida por parte de seus aliados de realizar um pronunciamento com as realizações de seu governo para as Forças Armadas nunca prosperou. Além disso, o recado levado a interlocutores do petista por representantes do seguimento era direto: “vamos respeitar o resultado das eleições, mas esqueça da gente na campanha”. Como presidente eleito, a história é outra e articulações para reaproximar Lula das Forças Armadas serão colocadas em prática.
Conselheiros do petista que atuam como seu principal canal com os militares defendem que Lula mantenha os benefícios concedidos por Bolsonaro aos membros das Forças Armadas. Entre esses benefícios está a reforma da previdência que aumentou alíquotas para pensões, concedeu reajustes anuais até 2023 e criou um caminho para que, por meio de cursos, eles se aposentem com remunerações maiores.
Um dos principais temores dos militares na campanha era justamente que Lula apresentasse uma proposta para mexer nas novas regras de aposentadoria.
Outra medida defendida por esses conselheiros conforme a colunista, é dar tarefas de prestígio para as Forças Armadas, como, por exemplo, ampliar seu papel na vigilância e proteção das fronteiras da Amazônia, seja por terra ou por rio. Em paralelo, defendem o investimento e o desenvolvimento de projetos tecnológicos militares, como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), criado em 2008, no segundo mandato de Lula. Hoje o programa está engessado por falta de investimento.
Lula já falou abertamente que pretende escolher um civil no cargo de ministro da Defesa. Um nome que chegou a ser defendido internamente foi o de seu vice, Geraldo Alckmin, que é bem-visto entre os militares. Alckmin, no entanto, tem sinalizado que não tem interesse em ocupar nenhuma pasta, para ficar mais “solto” e ajudar Lula nos mais variados temas. Ele já foi escalado para ser o coordenador da transição.
A campanha petista chegou a debater a revisão do decreto de Bolsonaro que permitiu que militares da ativa ocupem cargos públicos por tempo indeterminado. O objetivo da proposta seria colaborar para a “despolitização” das Forças. A medida, no entanto, é vista como “sensível” pelos conselheiros de Lula, que não a veem como “prioritária”.