A indefinição sobre a legalidade do Orçamento secreto, cujo julgamento continua nesta quarta-feira no Supremo, levou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a adiar a votação da PEC da Transição, que libera recursos para o aumento do Bolsa Família, e tem impactado também na formação do futuro governo Lula. Enquanto espera o resultado no Supremo, Lira tem se movimentado para garantir espaços a aliados na próxima gestão. Lula, por sua vez, preferiu empurrar a distribuição de ministérios entre os partidos aliados para depois da aprovação da PEC. As informações são de Bruno Góes, Fernanda Trisotto e Jeniffer Gularte, do O Globo.
Na Câmara, petistas e deputados do Centrão admitem reservadamente que Lira só pretende entregar votos à PEC da Transição se houver a garantia de espaço robusto no governo a aliados. O impasse afeta diretamente a formação do ministério, já que Lula quer a garantia de que terá recursos para pagar o Bolsa Família de R$ 600 antes de atender a pleitos de parlamentares.
Segundo o jornal O Globo apurou, Lira defende, por exemplo, a indicação do deputado Elmar Nascimento (União-BA) no governo, mas como um representante da cota do União Brasil. Nascimento enfrenta resistência por ser um crítico de Lula.
O Centrão não gostaria de perder influência no controle de estatais como a Codevasf, que estará no guarda-chuva do Ministério de Integração Nacional, disputado também pelo MDB. Parlamentares do próprio União Brasil acham difícil que o PT entregue a Lira um ministério estratégico e dono de grande parte da verba do orçamento secreto.
Neste contexto, deputados ligados a Lira afirmam que o parlamentar gostaria de ver também um aliado no Ministério da Saúde, pasta na qual o nome de Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, está praticamente sacramentado.
Petistas viram na jogada de Lira a estratégia de jogar alto, em um ministério disputado pelo PT, para sair da negociação com uma outra pasta importante, que tenha capilaridade e orçamento robusto.
Frente à postura de Lira, Lula interrompeu o anúncio dos ministérios. Havia expectativa de que após a diplomação, o petista divulgasse mais uma leva de nomes. O próprio presidente eleito afirmou em reunião do PT na semana passada a intenção de divulgar a maioria dos nomes até amanhã.
Desde segunda-feira, aliados de Lula no Congresso tentam convencer o presidente eleito a não divulgar nomes de ministros antes da votação da PEC para não desagradar deputados e partidos que possam compor a base do governo.
Nesse quebra-cabeça, há reclamação de deputados de que nomes técnicos como Nísia Trindade ou Izolda Cela, governadora do Ceará cotada para a Educação, assumam pastas estratégicas e com grandes orçamentos, sob a justificativa de que não terão habilidade política para negociar com o Congresso.