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terça-feira 5 de abril de 2022 às 05:51h

A cidade tecnológica no Canadá que cresce e se expande silenciosamente

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No fim de fevereiro, no centro da cidade, a um quarteirão da Scotiabank Arena, casa do Maple Leafs da NHL e dos Raptors da NBA, a Microsoft inaugurou um novo espaço de escritórios no alto de um prédio de 50 andares, ocupando quatro deles.

A Apple e a Amazon já estão instaladas na mesma rua, e o Google vai inaugurar um novo prédio na esquina. A Meta, empresa controladora do Facebook, ainda não tem um escritório no centro, mas muitas startups de Toronto reclamaram que ela estava elevando os salários de tecnologia aos níveis do Vale do Silício ao recrutar os melhores engenheiros da cidade. Durante a pandemia, segundo The New York Times, contratava qualquer pessoa disposta a trabalhar de casa.

Alguns quarteirões a norte, trabalhadores da construção civil de colete amarelo e capacete estavam terminando três andares do novo espaço de outra empresa de mídia social: o Pinterest. A Stripe, companhia americana de pagamentos, está abrindo um escritório perto da Prefeitura, onde a Klarna, empresa escandinava do mesmo segmento, acaba de anunciar sua chegada com uma foto chamativa ao lado do prefeito John Tory.

À medida que a indústria de tecnologia continua a se expandir e comunidades em todo o mundo competem por um emprego nesse setor fora do Vale do Silício, muitos executivos, investidores e empreendedores buscam uma cidade de clima mais ameno como Austin, no Texas, e Miami, na Flórida, para transformá-las nos próximos centros da Big Tech. Mas essas são pequenas comunidades tecnológicas em comparação com o que vai se formando no ar frio à beira do Lago Ontário.

Graças a anos de investimento de universidades locais, agências governamentais e líderes empresariais, e às políticas de imigração liberais do Canadá, Toronto é hoje o terceiro maior centro tecnológico da América do Norte. Tem mais trabalhadores de tecnologia do que Chicago, Los Angeles, Seattle e Washington, D.C., atrás apenas de Nova York e do Vale do Silício, de acordo com a CBRE, empresa imobiliária que monitora a contratação do setor de tecnologia.

A força de trabalho de tecnologia em Toronto também está crescendo mais rapidamente do que em qualquer centro nos Estados Unidos. E, ao contrário de muitas cidades, ela provavelmente terá os recursos necessários para sustentar a tendência. É a quarta maior cidade da América do Norte – com cerca de três milhões de habitantes e mais de seis milhões na área metropolitana –, atrás apenas da Cidade do México, de Nova York e de Los Angeles, e suas raízes em tecnologia são profundas.

“Todo mundo aponta Miami como o próximo centro de tecnologia, porque os impostos são baixos. Mas ela não oferece muito mais do ponto de vista tecnológico. São necessárias empresas âncoras que possam proporcionar um impacto transformador. Os empreendedores vêm dessas empresas e começam as próprias”, disse Mike Volpi, sócio da empresa de capital de risco Index Ventures, em recente visita a Toronto.

Essas empresas âncoras – incluindo a canadense Shopify, de comércio eletrônico, bem como muitas gigantes americanas – vieram para Toronto por causa dos pesquisadores e engenheiros que já estão aqui. Mas eles também acreditam que o pool de talentos vai crescer.

“Este é agora um lugar para uma aposta de longo prazo – construir conexões com o conjunto de escolas na área e criar um novo ambiente com muitas ofertas para contratação”, afirmou Tristan Jung, cientista da computação que nasceu na Coreia, cresceu em Toronto, passou seis anos trabalhando na sede do Twitter em San Francisco e recentemente convenceu a empresa a construir um centro de engenharia no Canadá.

No último ano, o Twitter contratou mais de cem engenheiros em Toronto, triplicando sua força de trabalho canadense. Nomes da internet do país como a DoorDash, o eBay e o Pinterest construíram hubs de tecnologia semelhantes na cidade, assim como empresas de inteligência artificial em ascensão, como a Cerebras, a Groq e a Recursion Pharmaceuticals.

Esta região do Canadá inclui duas universidades conhecidas por gerar pesquisadores e engenheiros: a Universidade de Toronto, a uma curta caminhada do centro, e a Universidade de Waterloo, a alma mater de Jung, a cerca de uma hora de carro ou trem. No passado, grande parte desse talento migrou para os Estados Unidos, mas engenheiros e cientistas da computação treinados dentro e ao redor de Toronto estão permanecendo aqui cada vez mais. Ou, como Jung, estão voltando para casa depois de anos nos Estados Unidos.

Em Toronto, as empresas sediadas nos EUA também podem acelerar a chegada de novos talentos tecnológicos de outros países – fluxo que tem sido a força vital da indústria tecnológica americana. À medida que o sistema de imigração dos EUA desacelerou e se abrandou sob o governo Trump, o Canadá introduziu programas destinados a trazer trabalhadores qualificados para um país que já é extraordinariamente diverso. Cerca de 50 por cento dos residentes de Toronto nasceram fora do país, de acordo com dados da prefeitura.

Um complexo de US$ 100 milhões para abrigar empresas de inteligência artificial e biotecnologia sendo construído pela Universidade de Toronto, no centro de Toronto, 9 de março de 2022. (Brendan Ko/The New York Times)© Distributed by The New York Times Licensing Group Um complexo de US$ 100 milhões para abrigar empresas de inteligência artificial e biotecnologia sendo construído pela Universidade de Toronto, no centro de Toronto, 9 de março de 2022. (Brendan Ko/The New York Times)

“É infinitamente mais fácil trazer esse tipo de talento para o Canadá. Muitas empresas desistiram da imigração nos EUA. Há limites para o que é possível”, explicou Heather Kirkby, diretora de pessoal da Recursion, empresa que aplica a inteligência artificial à descoberta de medicamentos.

Ao discutir a cena tecnológica de Toronto, os moradores inevitavelmente apontam para Geoffrey Hinton, professor da Universidade de Toronto cuja pesquisa desencadeou o recente boom de inteligência artificial. Em 2012, Hinton e dois de seus alunos publicaram um artigo inovador envolvendo “redes neurais”, tecnologia que poderia alimentar tudo, desde carros autônomos até assistentes digitais e chatbots. Logo, as maiores empresas do mundo estavam gastando milhões de dólares – às vezes dezenas de milhões – para contratar pesquisadores especializados em tecnologia.

O Google pagou US$ 44 milhões por Hinton, nascido no Reino Unido, e seus dois alunos, ambos nascidos na antiga União Soviética. Durante algum tempo, ele trabalhou na sede do Google no Vale do Silício, mas manteve seu cargo de professor na universidade, e em 2016 abriu um laboratório de pesquisa do Google no centro de Toronto. No ano seguinte, juntou-se a empresários locais e pesquisadores e fundou o Instituto Vector para Inteligência Artificial, que arrecadou US$ 130 milhões do governo e da indústria para manter os principais pesquisadores em Toronto, atrair talentos de outras partes do mundo e pressionar outras empresas a abrir um laboratório na cidade.

A área já era um centro tecnológico em crescimento. Como centro financeiro do Canadá, Toronto abrigava grandes bancos. Fazia anos que a Microsoft mantinha escritórios nos subúrbios, além de empresas de chips de computador, como a Intel e a AMD. O Google tinha um escritório de engenharia perto da Universidade de Waterloo.

Um mês depois que Hinton anunciou seu laboratório do Google, a Uber abriu um laboratório de carros autônomos ancorado por outra professora da Universidade de Toronto, Raquel Urtasun, que havia sido cortejada por uma das maiores empresas americanas de veículos autônomos, mas insistiu em ficar em Toronto. “A única coisa que ficou claro para mim é que eu não queria ir a lugar nenhum. O talento está aqui”, garantiu Urtasun, que nasceu na Espanha e imigrou para o Canadá em 2014.

Grandes empresas americanas vieram para Toronto em parte porque o custo do talento era menor. De acordo com o site de recrutamento Hired, o salário médio anual de tecnologia em Toronto era de 117 mil dólares canadenses em 2020 (apenas cerca de US$ 90 mil), contra US$ 165 mil no Vale do Silício. Mas muitas startups locais estão informando que agora, como a demanda aumentou de repente, os salários também aumentaram, e está muito mais difícil contratar o talento de que precisam.

“Uma situação como essa é sempre boa para uns e ruim para outros”, disse Liran Belenzon, CEO israelense da BenchSci, empresa de inteligência artificial biomédica que ele ajudou a fundar em Toronto em 2016.

O investimento em novas empresas de Toronto ainda é pequeno em comparação com o Vale do Silício. Em 2021 e 2022, os investidores injetaram US$ 132 bilhões em startups de tecnologia no Vale do Silício, de acordo com a empresa de pesquisa Tracxn. Em Toronto, esse valor foi de US$ 5,4 bilhões. Mas, em última análise, é o talento que impulsiona um centro tecnológico, segundo Volpi: “O dinheiro seguirá o talento.”

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