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sábado 1 de maio de 2021 às 08:19h

A China busca dominar o mundo

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Com grandes obras em seu país, a China agora tem investido também em construção no exterior, mas isso somente em pontuais locais do mundo e somente com políticos e lideranças que eles confiam. Ou seja, os chineses não fazem negócio só pelo dinheiro, mas pelo sentimento, simpatia, do seu ‘cliente’.

O jornalista da BBC John Sudworth viveu duas décadas na China e hoje é um importante analista do país. É editor-chefe do site SupChina e cofundador do podcast Sinica, duas plataformas que explicam a China ao Ocidente quebrando estereótipos.

Confira trechos da entrevista:

BBC – A China busca dominar o mundo?

Jeremy Goldkorn – Não acho que a China esteja planejando dominar o mundo exatamente: acho que o Partido Comunista quer fazer do mundo um lugar seguro para sua forma de governo. E assim garantir sua permanência no poder a longo prazo. Esse é o seu objetivo principal.

Mas, para tornar o mundo mais seguro para o PCC, a China precisará crescer econômica e militarmente, e é aí que não se sabe ao que isso pode levar.

Não acho que Xi Jinping seja como um vilão de quadrinhos tramando quando invadir os Estados Unidos ou quando tomar o sudeste asiático e criar uma colônia.

Não acho que a China pense como uma ex-potência colonial, mas acho que tornar o mundo mais seguro para o governo do PCC levará à dominação chinesa, especialmente na esfera econômica mundial, o que colocará muitas pessoas em uma posição incômoda.

BBC – Portanto, trata-se de sobrevivência absoluta.

Goldkorn – Essa é a minha visão, sim.

BBC – Falemos sobre a relação entre a China e os EUA. Ouvimos alertas sobre uma possível “nova Guerra Fria”, por exemplo, do Secretário-Geral da ONU; enquanto outras vozes consideram que devemos ter cuidado ao descrever a relação entre as duas superpotências. Você vê como inevitável uma nova Guerra Fria?

Goldkorn – Acho que cada um tem sua própria definição de o que significa Guerra Fria. Mas em muitos aspectos essa definição obscurece a questão em vez de iluminá-la.

Porque [a situação] é muito diferente da Guerra Fria 1.0, digamos. A conexão é que ninguém está lutando diretamente, mas há uma hostilidade tremenda.

BBC – Taiwan é o maior risco de confronto entre China e Estados Unidos?

Goldkorn – Taiwan e o Mar do Sul da China, em termos gerais. São duas questões diferentes, mas intimamente relacionadas.

Acho que o risco com Taiwan é que Xi Jinping decida que agora a China está em uma posição de força e que é hora de agir. Isso seria com Taiwan, mas geralmente ambos são um perigo.

O maior risco é que, com o aumento da militarização da região, aconteça alguma coisa em que haja duas partes irritadas uma com a outra, seja a China ou os Estados Unidos, ou talvez outro país, mas em que os Estados Unidos sintam necessidade de se envolver. Ou que ocorra algum tipo de incidente não planejado: um navio colide com outro navio e marinheiros americanos morram. Um acidente ou erro de cálculo e sai fora de controle.

Para mim, esse é o grande risco, seguido de perto pela decisão da China de agir em relação a Taiwan.

BBC – Mesmo na pandemia, a pressão sobre Taiwan não parou de aumentar e atingiu a América Latina: neste mês, Taiwan acusou Pequim de oferecer vacinas chinesas para pressionar o Paraguai a cortar suas relações com a ilha. O Paraguai é um dos poucos países que reconhece Taiwan como um Estado soberano. Como você vê a diplomacia de vacinas da China e essas disputas?

Goldkorn – A pandemia pode ter sido muito ruim para os esforços diplomáticos internacionais da China, que obviamente está sofrendo algumas consequências negativas em termos de sua reputação.

Mas, por outro lado, a China fez um bom trabalho em reverter isso, tanto controlando a pandemia no país quanto com a diplomacia de equipamentos de proteção e máscaras, primeiro, e agora de vacinas.

Honestamente, se você é um pequeno país pobre e ainda não está recebendo as vacinas Covax (consórcio para distribuir vacinas pelo mundo) e os EUA ou o Reino Unido não estão prometendo nada, enquanto a China está dizendo ‘se você se comportar bem conosco, nós lhe enviaremos vacinas…’

[Pequim] quer aproveitar ao máximo esta oportunidade de diplomacia de vacinas e pressionará todos os países que ainda reconhecem Taiwan.

BBC – Neste ano haverá um aniversário marcante no país: o centenário do Partido Comunista. O poder do PCC na China está mais forte do que nunca?

Goldkorn – Sim.

Muitos de seus cidadãos acreditam que o país fez um ótimo trabalho no controle da pandemia. Obviamente, eles usaram seu aparato de propaganda para ter certeza de que essa é a história que ficará, mas acho que têm sido muito bem-sucedidos nisso.

Eles saíram mais fortes do que nunca. Eu acrescentaria apenas uma advertência e tem a ver com um livro. Minha descrição favorita da China é, em muitos aspectos, a do título do livro de Susan Shirk: “China, uma superpotência frágil” (China: Fragile Superpower, no original em inglês). Também poderíamos falar do “frágil poder do Partido Comunista”.

Em muitos aspectos, [o PCC] está na posição mais forte que já ocupou. Mas, por outro lado, enfrenta problemas de todos os lados: da hostilidade internacional às campanhas contra os uigures e outras minorias e religiões, a enormes problemas ambientais ou crescente desigualdade…

Eles emergiram mais fortes do que nunca da pandemia, mas ao mesmo tempo os problemas que têm de enfrentar não diminuíram.

BBC – Apesar desse poder fortalecido de que fala, você vê algum sinal de dissidência dentro do Partido Comunista em relação a Xi?

Goldkorn – A marca do governo de Xi é ter se posicionado para governar por um longo período, possivelmente pelo resto de sua vida.

E ele tem todas as alavancas do poder em suas mãos e conseguiu que o PCC apoiasse o culto à personalidade. Isso tornará qualquer mudança na liderança muito difícil.

Eu acho que há muitas pessoas que reclamam e não estão necessariamente felizes com ele, mas eu acho que elas não são fortes ou significativas o suficiente para causar mudanças. Pelo menos não agora, não no futuro próximo.

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