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terça-feira 7 de fevereiro de 2023 às 06:59h

A boa governança exige princípios éticos fortes

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O mundo dos negócios tenta entender o que aconteceu com a Americanas. A descoberta de uma “inconsistência” de 20 bilhões de reais tem cara de fraude, focinho de fraude, mas aguardamos a conclusão da investigação para dar nome aos bois.

Quem sabia do rombo e desde quando? O que ainda está escondido debaixo do tapete? Entre tantas interrogações, uma me parece mais relevante: como um buraco de tal monta ficou escondido por tanto tempo? Depois de reportar a “inconsistência”, a Americanas entrou com pedido de recuperação judicial informando dívidas que ultrapassam a casa de 40 bilhões de reais, tornando-se a quarta maior recuperação já vista no Brasil.

Outros casos já comprovados de fraude no Brasil e no mundo nos fazem lembrar que contas auditadas, assembleia geral, conselho de administração, diretoria e conselho fiscal são o mínimo necessário para uma boa estrutura de governança. Mas nada disso é capaz de proteger o acionista e a sociedade se a gestão da empresa não estiver estruturada sobre princípios éticos fortes. Se eles não fizerem parte da cultura da companhia, respaldada e praticada pela direção, a estrutura de governança não será nada além de letra no papel.

O foco em resultados rápidos alimenta o oportunismo e a ganância. Desta forma, o modelo de gestão que prioriza o lucro a qualquer custo gera ambientes onde as pessoas estão mais propensas a romper princípios éticos para entregar resultados. Ainda mais quando o modelo está baseado na premiação elevada a executivos em função dos resultados imediatos. Com a empresa dando lucro e distribuindo dividendos, o acionista só comemora.

É preciso que o acionista cobre mais do que resultados. A geração de valor precisa estar calcada em valores. O que devemos almejar é que prosperem empresas que prezam pela ética, com responsabilidade ambiental e preocupação com toda a sociedade, desde os acionistas, até as gerações futuras, que serão impactadas positiva ou negativamente pelo seu legado. Não existe mais espaço para executivos subservientes, nem para a governança de faz de conta. Os papéis têm que ser exercidos.

Antes da hecatombe do dia 11 de janeiro, quando a “inconsistência contábil” surpreendeu o mercado e os credores, os resultados da Americanas mostravam uma empresa sólida e ninguém questionava a sustentabilidade do negócio. Mas o modelo de gestão implementado pelo 3G Capital, do trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, que inspirou muitos executivos, já era alvo de críticas, sendo considerado ultrapassado. Conhecido por cortar gastos e maximizar ganhos, também espreme fornecedores e credores com prazos mais longos e atraso de pagamentos. Práticas questionáveis. Seria um cliente para se esquecer, não fosse tão grande.

Por Claudia Martinez, economista, empresária e conselheira do Conselho Superior Feminino da Fiesp

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