Cacique do partido do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e responsável pela indicação de três ministros, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, admite em entrevista a Gabriel Sabóia, do O Globo, que o governo ainda não conseguiu construir uma base confiável para aprovar projetos importantes no Legislativo. Por outro lado, o dirigente afirma que a decisão de aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de entregar ao Centrão postos da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que eram pleiteados pelo PSB, pode gerar problemas no futuro.
O PSB negocia uma federação com PDT e Solidariedade. O que falta para a união acontecer?
Há uma boa vontade de firmar esse acordo já para 2024. É praticamente impossível que um partido médio ou pequeno sobreviva sem integrar uma federação. A única coisa que pode impedir é a falta de boa vontade de uma das partes.
O PSB integra a base do governo federal. Ao formar a federação, pode-se dizer que se distancia da órbita do PT?
Nós nunca estivemos na órbita do PT ao longo da nossa vida. Apoiamos o PT quando achamos necessário. Somos um partido com autonomia e apoiamos o presidente Lula por achar que a democracia segue em risco. Não estamos fazendo uma federação contra ninguém, mas em favor do Brasil.
O PSB possui três ministérios, além do vice-presidente. Como o senhor vê a atuação de outros partidos que têm espaços generosos e não entregam fidelidade maciça na Câmara, como o União Brasil?
Esse assunto deve ser tratado pelas lideranças do governo no Senado e na Câmara, e pelo próprio governo. O PSB não vai ficar fazendo censura a quem não for fiel.
O PSB pleiteou a chefia da Codevasf, que foi entregue a um aliado do Centrão. Isso pode gerar problemas?
O governo é presidencialista. Quem vai nomear cargos em todos os escalões é o presidente da República. Se o governo der ao Centrão o que o PSB pediu, o problema é do governo. Aliás, pode ser um problema mesmo, mas é com eles. Eu não apoio por cargos.
Qual é o tamanho da atual da base do governo no Congresso hoje?
A base ainda é muito pequena, comparando com o tamanho do Congresso. Não é muito segura, é fluida. Possivelmente, estará com Lula em alguns assuntos, mas pode não estar em outros.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tem sido criticado por não conseguir solidificar a base do governo no Congresso. Como o senhor vê a atuação dele?
Ele sempre foi solícito com o PSB, e só isso me importa. Não me cabem os problemas dos outros. Eu já tenho os meus.
Na sua opinião, como será solucionada a crise entre os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, que divergem sobre o rito de tramitação de medidas provisórias?
Existe a Justiça para resolver essas questões. Eu não consigo entender uma confusão tão grande em torno de uma coisa tão clara na Constituição (a existência das comissões mistas, por onde devem passar as MPs). Espero que cheguem a um acordo, um meio termo.
O senador Chico Rodrigues se filiou recentemente ao PSB. O fato de ele ter sido flagrado com dinheiro na cueca não gera constrangimento?
Este senador se filiou ao PSB e, até onde sei, ele não tem condenações. Ter que tratar deste assunto não é agradável. Outros já foram pegos com mais dinheiro, mas em casos em que não há tanto simbolismo. Não é que achemos que isto está certo. Não é certo esconder um centavo ou um milhão. Mas precisamos contribuir com o governo, e a vinda dele aumenta a base.
O ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara, um dos principais nome do PSB, deixou o partido depois de nove anos. Isso não desgasta a imagem da sigla?
Não creio. O PSB fez dele governador, sem que nunca tivesse disputado um voto na vida. Foi um bom governador, mas ele não tem experiência política. Não soube vivenciar dificuldades que são da natureza dessa atividade. Ele decidiu sair, e nós respeitamos muito a decisão.