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segunda-feira 4 de outubro de 2021 às 10:11h

A arrogância que vem da capital, por Dimas Roque

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“Nos anos 80 eu comecei a militar no movimento estudantil em minha cidade, Paulo Afonso na Bahia. Para se ter uma ideia de como as informações chagavam a nós, posso informar que era através do telefone. E só um de nós, o Zé Ivaldo, tinha um aparelho desses. Na verdade era o pai dele, Zé Ferreira, que tinha em sua loja de venda de móveis. Então, quando não conseguíamos ter acesso, o jeito era ir para a fila no posto telefônico que tinha três cabines e disponibilizava cinco minutos para cada pessoa ou grupo. Era assim que ficávamos sabendo o que acontecia no meio estudantil.

Certo dia, fomos convidados a um encontro estadual a ser realizado na capital, Salvador. E lá fomos nós de ônibus da Viazul que batia mais que coração de ladrão na hora do “teji preso”.

Durante o encontro na sede de um Sindicato na Rua Carlos Gomes, que entrou pela madrugada, aconteceu algumas votações para decidir o encaminhamento das propostas sugeridas e foi aí que aconteceu um fato interessantíssimo. Um dos lideres do movimento e morador da capital pediu a fala e fez a proposta de que cada voto de estudante de Salvador valesse dois e do pessoal da interior, pasme, só valeria um.

Sabe quando um matuto se sente humilhado? Pois fui eu naquele momento. Mal o cabra se calou e eu já estava de pé pedindo a palavra. Lembrei a todos que ali estavam que o interior tinha a maioria dos presentes e que não aceitaria uma proposta tão escrota quanto aquela. O interior venceu e vencemos a quase todas as propostas apresentadas naquela noite.

Esta forma de tratamento com o interior da Bahia ainda acontece hoje, um pouco mais disfarçado, mas está presente nos encontros realizados quando se juntam todos. O mais louco é que gente que saiu do interior para morar na capital, e agora acham que se tornaram soteropolitanos refletem este pensamento tacanho. E eu sempre que estou lá mostro que a Bahia é mais que a Praça Castro Alves, que as Ladeiras do Pelô, a Bahia é um todo e é composta dos 417 municípios com seu povo que pensa diferente um do outro.

Pois bem, nós estamos a um ano das eleições para governador no Estado. Segundo as duas últimas pesquisas a direita está levando vantagem. O que me parece injustificável, já que Jaques Wagner deixou o governo com aprovação da maioria dos eleitores e elegeu em 2014 seu sucessor, Rui Costa, que se reelegeu e está atualmente no governo. Mas não é o que achamos que está no levantamento dos institutos de pesquisas. Nada para se preocupar demasiadamente. A Bahia tem esse histórico nos levantamentos e o resultado é sempre favorável à esquerda por aqui. Mas não é hora de ficar deitado na rede.

Eu não sei quem é a equipe que hoje está pensando a campanha de Wagner para o governo do ano que vem, mas vou falar de um sentimento que está feito fogo de monturo entre a militância, deputados estaduais e federais da base aliada. Tem muita gente insatisfeita com a condução. As reclamações acontecem sempre que dois ou mais se reúnem e a conversa é sobre eleições de 2022.

Algum, ou alguns iluminados na capital, acharam que Wagner não deve dar entrevistas as rádios do interior, ou a Blogueiros, jornalistas, ativistas digitais ou o escambau. A não ser os escolhidos a dedo por estes ou aqueles veículos do Sul e Sudeste. Talvez eles achem que, mesmo em tempo de velocidade na comunicação e não mais via telex, o cabra do interior, que ouve a rádio local, comercial ou comunitária, se dê ao trabalho de buscar “A” ou “B” para se informar vindo lá das bandas do “Sul Maravilha”. A maioria da população no Brasil, e a Bahia, faz parte disto, ainda vive os seus costumes interioranos, e “José” ou “Maria” é quem é ouvido e lido em seus mundos, e é lá que Wagner tem que ir falar.

Quem está pensando a campanha de Wagner precisa viver no mundo da comunicação instantânea que está acontecendo em todos os recantos da Bahia e sair do mundo analógico em que estão, sabendo que, a comunicação mudou, mas o povo vive mesmo é em seu mundo, é na conversa nas praças, ouvindo a rádio local ou regional, lendo o jornal da cidade, o Blog ou Site, debatendo o que disse o locutor no programa popular, ouvindo o carro de som que passa anunciando até o velório do dia, nos grupos de bate papo durante o dia todo. O fuxico que antes era de vizinha para vizinha, agora é no whatssap, telegram, facebook, twitter…

Parafraseando Milton Nascimento, todo político tem de ir aonde o voto está.

Wagner, o interior precisa ser ouvido”.

Por Dimas Roque – Coordenador Nacional da TRIBO, tendência interna do Partido dos Trabalhadores.

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