Segundo a colunista Malu Gaspar, no O Globo, o ex-presidente Lula já declarou mais de uma vez que “não é hora” de conversar com o mercado financeiro. Em fevereiro, rejeitou o convite para o evento anual do BTG do qual participaram os presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas.
Isso não quer dizer que não haja canais de interlocução com o mercado. Desde o final do ano passado, um grupo de petistas se dedica a enviar recados e sondar o ambiente da Faria Lima para o ex-presidente.
José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil de Lula, ex-mensalão e ex-petrolão, é um deles. Tem feito conversas com pequenos grupos a convites de corretoras como Guide e XP e pede sempre que os papos fiquem em segredo. Em petit comité, fala como quem ainda faz parte do núcleo decisório da candidatura e não se furta a fazer previsões.
O vaticínio que mais chama a atenção é o de que o ministro da Economia de um eventual governo Lula seria um político, muito provavelmente um ex-governador nordestino – Rui Costa, da Bahia, é o mais cotado na bolsa de apostas de Dirceu.
Costa, aliás, é também um nome lembrado pelo senador Jaques Wagner, da Bahia, e pelo deputado José Guimarães, do Ceará, pelo ajuste fiscal que ele fez no governo baiano.
Quando se pergunta se ele não preferia um economista ou um técnico, Dirceu responde com autoironia. Diz que os quadros do partido ou já estão velhos ou são como ele, que enfrentam problemas com a Justiça. Economistas da Unicamp não teriam espaço num próximo governo Lula, ele afirma. O ex-presidente não confia neles.
Dirceu reconhece que a situação que os petistas encontrarão na economia é bem mais crítica do que a que havia quando Lula ganhou a eleição pela primeira vez, em 2002.
Mas, apesar de argumentar que o petista não faria nenhum estrago na economia, porque já demonstrou ser um pragmático, Dirceu diz que será o fim de políticas como teto de gastos (regra que impede o crescimento das despesas da União acima da inflação) ou a regra de ouro (que proíbe o governo de se endividar para pagar gastos correntes, como salários).
Na prática, de acordo com a colunista, elas já vem sendo desrespeitadas no governo Bolsonaro. A ideia no PT, afirma Dirceu, é articular uma solução que acabe com elas sem parecer um desrespeito à responsabilidade fiscal.
Segundo Dirceu, um futuro mandato de Lula repartiria de novo o ministério da Economia entre Fazenda e Planejamento. Mas nem um nem outro teriam economistas da Unicamp, como Guido Mantega, Marcio Pochmann ou Aloizio Mercadante. Lula não confia neles.
No mais, Dirceu e seus colegas vem repetindo o que Lula defende em seus discursos públicos: a revogação de itens da reforma trabalhista (ressuscitando, por exemplo, o imposto sindical); a tributação de dividendos e de grandes fortunas; a retomada do controle de preços de combustíveis praticado no governo Dilma; o investimento em construção de refinarias.
Segundo alguns dos participantes dessas conversas, a reação às propostas listadas por Dirceu varia conforme o interlocutor.
Alguns saem apavorados – especialmente quanto às reformas e à Petrobras –, enquanto outros apostam que nada disso será implementado na prática.
“Sempre tem os que acreditam que se trata apenas de um discurso para a base”, diz um gestor que participou de mais de uma reunião com os emissários de Lula. “Algumas pessoas colocaram na cabeça que Lula ganhando, a bolsa sobe”.