O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump foi condenado nesta terça-feira (9) por abuso sexual e difamação da escritora americana Elizabeth Jean Carroll.
Essa é a primeira vez que um presidente americano é condenado por abuso sexual.
Ele, no entanto, foi inocentado da acusação de estupro. A escritora, hoje com 79 anos, deverá receber de Trump US$ 5 milhões (cerca de R$ 25 milhões) em indenizações.
Perante um júri civil, em Nova York, Carroll testemunhou ter sido abusada sexualmente por Trump em uma loja de departamentos da rede Bergdorf Goodman em Manhattan nos anos 1990.
Depois, segundo Carroll, o ex-presidente a difamou ao publicar em sua rede social Truth Social, em outubro de 2020, que as acusações da escritora seriam “uma fraude completa” e “uma mentira”.
Trump não prestou testemunho durante o julgamento, mas o júri – formado por seis homens e três mulheres – teve acesso a um depoimento por vídeo, em que ele negou o estupro.
O caso foi levado a julgamento após Nova York aprovar uma lei permitindo a vítimas processarem seus agressores mesmo anos após o ato de suposta violência sexual.
“Estamos muito felizes”, disse Carrol a jornalistas, após o resultado.
Um porta-voz de Trump divulgou um posicionamento após a conclusão do júri, desqualificando a decisão: “Não se engane, todo esse caso falso é um esforço político visando o presidente Trump, porque ele agora é um favorito esmagador para ser novamente eleito presidente dos Estados Unidos”, dizia a nota.
A equipe de Trump informou ainda que ele deverá recorrer da decisão.
Essa não é a primeira vez que o ex-presidente dos Estados Unidos é acusado de condutas sexuais impróprias. Mais de dez mulheres já fizeram acusações do tipo contra ele, mas esse é o primeiro caso em que uma dessas alegações leva o ex-presidente a ser condenado por um júri.
A acusação
Carroll escreveu a coluna de aconselhamento pessoal “Ask E. Jean” (Pergunte a E. Jean) na revista Elle de 1993 a 2019, e publicou naquele ano o livro Para que precisamos de homens? Uma proposta modesta (em tradução livre), onde relatou a ocasião em que teria sido abusada por Trump nos anos 1990.
À época, Trump descreveu a acusação como “ficção” e afirmou que a alegação seria uma jogada de marketing para aumentar as vendas do livro.
Em uma prévia da obra publicada na revista New York, Carroll descreve um encontro com Trump no final de 1995 ou no começo de 1996, na loja de luxo Bergdorf Goodman, em Nova York.
Carroll dizia que reconheceu o empresário na loja e lhe disse: “Você é o magnata do mercado imobiliário”. Segundo ela, Trump respondeu que estava comprando um presente para “uma garota”.
A escritora argumentava que Trump sabia que, naquela época, ela participava de um quadro de conselhos pessoais na rede de TV americana NBC – a atração tinha o mesmo nome de sua coluna na revista Elle.
Carroll disse que os dois começaram a brincar, incentivando um ao outro a experimentar alguma lingerie da loja.
A colunista afirma que os dois foram então para um vestiário da loja – foi nesse local onde, segundo ela, o estupro ocorreu.
Tanto Trump como Carroll tinham cerca de 50 anos nessa época – ele estava casado com a atriz Marla Maples.
A escritora disse que contou a amigos sobre o suposto estupro e que eles a aconselharam a procurar a polícia.
Mas um deles pediu para ela não contar o caso a ninguém, pois temia uma derrota em caso de julgamento. “Esqueça, ele tem 200 advogados, vai enterrar você”, teria dito esse amigo.
Carroll incluiu Trump em uma lista de seis “homens horríveis”, sobre os quais ele fala em seu livro.
Outro incidente narrado por Carroll envolvia Leslie Roy Moonves, ex-CEO da rede de televisão CBS. Moonves renunciou ao cargo em 2018 após a divulgação de denúncias de condutas sexuais inapropriadas.
O representante de Moonves disse à época que ele “nega enfaticamente” o incidente relatado pela escritora.
Carroll finaliza o texto dizendo que Trump foi seu “último homem horrível”.