A flutuação do “centrão” entre as candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) não é a única movimentação ambígua de legendas na atual campanha presidencial.
Embora de estrutura mais modesta, o Pros (Partido Republicano da Ordem Social) foi além. Estabeleceu conversas sobre aliança com as principais campanhas, apesar de várias deles serem antagônicas entre si: Alckmin, Ciro, Lula (PT), Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB), Álvaro Dias (Podemos) e, por último, Jair Bolsonaro (PSL).
O site do partido exibe fotos das visitas de Alckmin, Meirelles e Alvaro Dias, além de representantes das demais campanhas.
O único registro que não aparece é o encontro com o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), um dos principais aliados de Bolsonaro, que pediu para ser recebido pela legenda.
O Pros foi criado em 2013 pelo ex-vereador de Planaltina de Goiás (a 60 km de Brasília) Eurípedes Júnior, que até hoje comanda a legenda.
À época, a sigla atraiu deputados de várias partidos e acabou apoiando a reeleição de Dilma Rousseff.
“Algumas pessoas que estão dentro do partido têm a tendência a votar com o governo… outros não. Tem todas as formas. Tem de tudo aqui dentro”, admitiu Eurípedes à época.
A sigla chegou a abrigar Ciro Gomes e aliados, mas o hoje presidenciável e seu grupo se desfiliaram após divergências.
O Pros tem hoje apenas 11 dos 513 deputados. Mas seu apoio a uma das candidaturas presidenciais adiciona ao tempo de propaganda do candidato cerca de 13 segundos em cada bloco.
No caso de Bolsonaro, por exemplo, por enquanto isolado, eventual apoio do Pros triplicaria seu minúsculo espaço, totalizando cerca de 20 segundos a cada bloco.
Só que há várias resistências no Pros a Bolsonaro. “O diálogo institucional com os presidenciáveis ajuda a encontrar pontos comuns entre os partidos para construção programática e alianças. Até o momento, não consigo ver esses pontos com Bolsonaro”, afirma o secretário de assuntos parlamentares do Pros, Felipe Espirito Santo.
O presidente do partido no Maranhão, o ex-ministro do Turismo Gastão Vieira, e o deputado federal João Fernando Coutinho (PE) também são contra e defendem aliança com a esquerda.
“É praticamente impossível o embarque na candidatura do Bolsonaro. Isso descaracterizaria o partido ideologicamente”, diz Gastão. “De forma alguma, essa hipótese [adesão a Bolsonaro] é totalmente descartada”, reforça.
O apoio a Alckmin também refluiu após o tucano obter o apoio do centrão. Se o Pros decidisse aliar-se agora teria papel insignificante na chapa, que conta com vários partidos maiores.
Com isso, as maiores chances são de apoio ao PT, a Marina Silva, a Alvaro Dias ou Meirelles. O Pros tem até um nome para indicar para vice, o do ex-deputado federal Maurício Rands (PE), ex-filiado ao PT e ao PSB.
“É natural, estamos em uma fase em que todo mundo conversa com todo mundo. O Pros tem uma mensagem de renovação, uma mensagem progressista. Na democracia, tem que haver a capacidade do diálogo”, afirma Rands.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o partido negou que esteja participando de balcão de negócios.
“O Pros quis ouvir os principais presidenciáveis e apresentou sua visão de Brasil e proposições para o programa de governo. No Pros não há lastro de radicalismo e nem arrogância quanto ao ouvir.”
A legenda nega que tenha discutido loteamento em futura gestão e diz que apresentou quatro eixos programáticos aos candidatos à Presidência.
“Os critérios se baseiam de forma macro em: apresentar os quatro eixos temáticos do partido [reforma tributária, inovação, energias renováveis e segurança pública] para serem acolhidos no programa de governo, analisar o pensamento político, econômico e social de cada candidato, leveza para nossos palanques estaduais, participação efetiva na campanha presidencial e possível composição de chapa pra indicação de um vice.”
O Pros deve fazer a sua convenção no final da semana que vem, prazo limite para que as siglas se reúnam para definir o rumo que seguirão na eleição.