Ministro virou alvo de colegas por comandar uma pasta fadada a consumir seus ocupantes; Jorginho poderá ser o próximo
No organograma de poder, ter um gabinete colado ao do presidente, no belo Palácio do Planalto, é sinal de prestígio. Pelo menos é assim que a coisa começa. Onyx sabe como ninguém o preço de ocupar esse lugar. Além do poder, ele passou a andar com um alvo imaginário nas costas.
Para tentar manter sua posição, precisou pressionar e entrar em disputas diárias com outros ministros do círculo pessoal de Bolsonaro. Tentou evitar a todo custo, por exemplo, que Jorge Oliveira crescesse e saísse da condição de subordinado na Secretaria de Assuntos Jurídicos. Não conseguiu.
Jorginho cresceu, ganhou gabinete ao lado da sala de Bolsonaro, o único a despachar no terceiro andar. Com sua pasta forrada de atos, Jorginho soube usar o poder de decidir a ordem dos atos que Bolsonaro deve ou não assinar para ganhar confiança e mais influência junto ao presidente.
Por causa disso, passou a ser bajulado por outros ministros e por políticos interessados em obter de Jorginho aquela “ajuda” providencial na hora de aconselhar o presidente. “Se Jorginho diz que determinado decreto ou tema é urgente, o presidente acata. Que ministro tem esse poder hoje”, diz um colega dele na Esplanada.
Jorginho sempre negou que estivesse em campanha aberta para derrubar Onyx do cargo, mas seus auxiliares reconhecem que o ministro não conseguia superar a forma arrogante com que foi tratado por Onyx no início do governo. Assim como Jorginho, há outros ministros e auxiliares menos prestigiados no time de desafetos que conduzem a fritura do gaúcho.
A arrogância de Onyx, diga-se em sua defesa, parece ser uma marca dos ministros que já ocuparam a cadeira elétrica da Casa Civil. Todos começam com o queixo alto. José Dirceu e Antonio Palocci terminaram na cadeia. Dilma Rousseff, Erenice Guerra, Gleisi Hoffmann, Aloizio Mercadante, Jaques Wagner e Eliseu Padilha passaram raspando na Lava-Jato. Todos tiveram inimigos numerosos trabalhando dia e noite para derrubá-los do Planalto.
Jair Bolsonaro gosta de Onyx, mas vive num ambiente tão controlado por seus seguidores que passou a ser influenciado pelos detratores do ministro. O gaúcho não se ajuda, é verdade, mas tem o trunfo de ter sido um dos primeiros a pular na canoa do presidente.
Quando limpar as gavetas, Onyx pode, portanto, ficar em paz. A Casa Civil costuma oferecer temporadas curtas a seus ocupantes. Quando não os leva para cadeia, não prejudica sua saúde ou não os enrola na Justiça, pode até levar ao paraíso, mas a um custo caro, muito caro, como diria Dilma Rousseff.