Segundo o Metrópoles, a polícia apurou que a facção utilizaria dois helicópteros blindados, além de granadas, metralhadoras de calibre .50 e fuzis
Preso no Distrito Federal desde março do ano passado, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola – liderança máxima do Primeiro Comando da Capital (PCC) –, já teria desembolsado cerca de R$ 200 milhões para os comparsas o “resgatarem” da prisão. O dado foi confirmado pelo Metrópoles com fontes ligadas à segurança pública.
Inicialmente, a informação segundo a reportagem do Metrópoles, era a de que o montante de R$ 80 milhões já teria sido repassado aos encarregados de elaborarem o suposto plano de de fuga. O aumento de 150% no valor ocorre exatamente no momento em que se completa um ano da transferência de Marcola para os presídios de segurança máxima.
Um bilhete interceptado por autoridades de São Paulo no ano passado apontava planejamento de uso de blindados. Segundo as apurações, a facção utilizaria dois helicópteros, além de granadas, metralhadoras de calibre .50 e fuzis.
Exército
Em dezembro do ano passado, a ação de criminosos que pretendiam libertar o chefe da facção foi revelada pelo Metrópoles em primeira mão. A suspeita fez com que os ministérios da Justiça e da Defesa fechassem um acordo para intensificar a segurança do complexo, localizado em São Sebastião.
Militares do Exército Brasileiro foram direcionados para a penitenciária de segurança máxima, onde ficaram de prontidão, com carros blindados. As informações sobre o plano de resgate partiram de São Paulo.
O estado é berço da facção criminosa. Marcola foi transferido para a capital federal em março sob forte aparato policial. Há indícios de que o suposto resgate já estaria pago e seria feito pelo traficante internacional Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como Fuminho. Ele é um dos principais nomes do PCC que estão soltos e atuam nas ruas.
De acordo com informações publicadas pelo Metrópoles, os criminosos estariam aguardando o aval de Fuminho para colocar o plano em prática. O PCC teria reunido um verdadeiro exército de alto nível e com criminosos que possuem conhecimento militar e de armamentos.
A facção já teria mapeado os arredores do complexo penitenciário em Brasília com o uso de drones.
Líder
Marcola foi preso pela primeira vez pela polícia paulista no fim da década de 1990, por roubos a carros-fortes e bancos. Já na prisão, recebeu a condenação por formação de quadrilha, tráfico de drogas e homicídio.
Recentemente, a Justiça o condenou a 30 anos de prisão no processo da Operação Ethos, que investigou o setor jurídico da organização criminosa. Com essa decisão, o total das penas impostas a Marcola ultrapassa 300 anos.
Para justificar a transferência de Marcola do presídio de Presidente Venceslau ao presídio federal, promotores do Ministério Público de São Paulo afirmaram que o PCC planejava resgatá-lo.
De acordo com eles, foram gastos dezenas de milhões de dólares no plano, investindo em logística, compra de veículos blindados, aeronaves, material bélico, armamento de guerra e treinamento de pessoal.
Desconforto
Uma das consequências da transferência de Marcola para Brasília é o mal-estar na relação entre o governo local e o Ministério da Justiça. No entanto, um megaesquema de segurança montado pelo Depen, na última terça-feira (21), para levar Marcola ao Hospital de Base, associado a um possível plano de resgate em Brasília planejado pelo PCC, levou a discussão para outro patamar.
Conforme antecipou a coluna Grande Angular, o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, enviou documento ao ministro afirmando que “não se justifica esse ‘silêncio’ dos órgãos federais” sobre o perigo do Presídio Federal de Brasília.
No texto, o titular da pasta local pede esclarecimentos sobre o grau de ameaça ao qual a população da capital da República está exposta em razão da permanência de líderes do crime no presídio.
Por meio de nota, o ministério de Moro voltou a assegurar que não há riscos para a população do DF devido à presença de integrantes da cúpula de organizações criminosas, como Marcola. “Os criminosos ficam recolhidos dentro dos presídios, não fora”, argumentou a pasta. Pontuou ainda que somente o GDF reclama dessa questão.
“Republiqueta de Curitiba”
Na noite de quarta-feira (22), o governador Ibaneis Rocha (MDB) entrou no debate e reforçou o descontentamento com a unidade construída no DF.
“Quem tem responsabilidade com todas as autoridades que estão em Brasília sou eu. Quem responderá por qualquer problema com as representações diplomáticas sou eu. Sou o único responsável pela segurança pública da capital da República”, enfatizou.
Segundo lembrou o emedebista, Brasília reúne 180 organismos internacionais, recebe cinco mil prefeitos, acolhe deputados estaduais, federais e também senadores. Inconformado com o posicionamento da pasta do ministro Sergio Moro, Ibaneis reclamou do descaso com que a área federal tem tratado a situação.
“Ele veio da republiqueta de Curitiba, isso todo mundo sabe. Mas, agora, é ministro e precisa entender que não está mais lá. Ele mora na capital do país”, disparou o titular do Palácio do Buriti.
Presídio novo
O Presídio Federal de Brasília foi inaugurado em outubro de 2018. Os três primeiros detentos a ocuparem a penitenciária integram o PCC. O presídio conta com 50 celas individuais erguidas em uma estrutura de concreto armado e monitorada 24 horas por dia.
Na unidade prisional, que fica no Complexo Penitenciário da Papuda, há circuito de câmeras com transmissões em tempo real, além de sensores de movimento e alarmes. Segundo o Departamento Penitenciário (Depen), o sistema conta com equipamentos capazes de identificar drogas e explosivos nas roupas dos visitantes, detectores de metais e sensores de presença, entre outras tecnologias.
Cada preso fica em uma cela individual de 6 m² e tem direito a duas horas de banho de sol por dia. Advogados e amigos podem visitar os detentos no parlatório, enquanto os familiares contam com acesso ao pátio. É proibida a entrada de televisores, rádios e qualquer outro tipo de comunicação externa.
Os presídios federais cumprem determinações da Lei de Execução Penal (LEP) e começaram a ser construídos em 2006. As unidades recebem detentos, condenados ou provisórios, de alta periculosidade.
O isolamento individual é destinado a líderes de organizações criminosas, presos com histórico de crimes violentos, responsáveis por fugas e rebeliões, réus colaboradores e delatores premiados.
Além da Penitenciária Federal de Brasília, existem outras quatro de segurança máxima no país: Catanduvas (PR), Mossoró (RN), Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO).