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Quem é o “homem mais solitário do mundo” filmado na Amazônia?

domingo 22 de julho de 2018 às 08:13h

Um vídeo extremamente raro mostra imagens do índio isolado que é considerado o “homem mais solitário do mundo”. Chamado de “índio do buraco”, ele tem por volta de 50 anos e vive sozinho na Amazônia brasileira há 22 anos, desde que os últimos membros de sua tribo foram assassinados – ele é o único sobrevivente.

O vídeo foi divulgado pela Funai (Fundação Nacional do Índia) no YouTube, na última quarta-feira (18). As imagens trêmulas e gravadas à distância mostram o homem cortando uma árvore com um machado.

A Funai evita o contato com grupos isolados e afirma que o índio do buraco já deixou claro que não quer ser perturbado, atirando flechas contra outras pessoas no passado. “Ele passou por uma experiência tão violenta e vê o mundo como um local muito perigoso”, afirma Fiona Watson, diretora da Survival International, uma organização sem fins lucrativos dedicada aos direitos de povos nativos, que já visitou a área onde vive o índio do buraco.

Uma cabana de palha chamada de "macolca", que o índio do buraco construiu e depois abandonou

“Imagine passar 22 anos observando uma só pessoa. Planejando ações de vigilância do território onde vive, garantindo sua proteção contra ameaças externas. Nenhuma palavra trocada. Todo contato consistindo em fornecer alguns objetos que poderiam ser úteis para a sua sobrevivência. É esse o trabalho realizado pela Funai na Terra Indígena Tanaru, onde vive o indígena isolado popularmente conhecido como o índio do buraco”, afirmou a Funai, na postagem no YouTube.

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A Funai tem monitorado o índio do buraco desde 1996. É preciso mostrar que ele ainda está vivo para manter a área onde vive sob proteção – em 2015, a interdição da Terra Indígena Tanaru foi prorrogada por mais dez anos, segundo a Funai. Localizado no norte do Estado de Rondônia, com cerca de 8 mil hectares, o local é circundado por fazendas e terras desmatadas.

“(A Funai) precisa provar continuamente que esse homem existe”, afirma Fiona Watson.

“Também há uma motivação política na divulgação do vídeo. O Congresso brasileiro é dominado por representantes do agronegócio. Já a Funai teve o seu orçamento reduzido. Há um grande ataque aos direitos indígenas no Brasil nesse momento”.

O que se sabe sobre o índio isolado?

Muito pouco. Apesar de já ter sido o foco de diversas pesquisas, reportagens e até de um livro (O último da tribo: a busca épica para salvar um homem solitário na Amazônia, do jornalista americano Monte Reel), o índio do buraco nunca foi contatado por alguém de fora de sua tribo (até onde se sabe).

Acredita-se que ele seja o único sobrevivente do seu grupo, depois que um ataque matou seis membros em 1995. Os responsáveis seriam fazendeiros locais. Segundo a Funai, ninguém foi punido pelo crime.

Sua tribo nunca recebeu um nome e não se sabe qual é a sua língua. O apelido de “índio do buraco” se deve ao fato de que ele deixa valas profundas na mata – provavelmente, são armadilhas para caçar ou locais de esconderijo.

No passado, ele também já abandonou cabanas de palha e instrumentos de uso manual, como tochas de resina e flechas.

Por que é um vídeo raro?

Até agora, havia apenas uma única foto borrada do índio do buraco. Foi tirada por um fotógrafo que acompanhava a Funai em uma viagem de monitoramento, e exibida muito rapidamente em um documentário brasileiro de 1998, Corumbiara.

Ativistas se disseram contentes – e surpresos – por ver que o indígena está, aparentemente, com boa saúde. “Ele está muito bem, caçando, mantendo algumas plantações de mamão e milho”, afirmou Altair Algayer, coordenador regional da Funai, em entrevistaao jornal inglês The Guardian.

Por que ele está em perigo?

Acredita-se que a maioria dos membros da sua tribo tenha sido dizimada entre as décadas de 1970 e 1980, após a construção de uma estrada perto da área onde viviam, o que aumentou o interesse por terras na região.

Ainda hoje, agricultores e madereiros ilegais cobiçam a área. Por isso, teme-se que o índio seja ameaçado por pistoleiros.

A Amazônia brasileira abriga a maior parte das tribos indígenas não contatadas do mundo, de acordo com a Survival International. O contato pode trazer riscos de morte até por doenças simples como gripe e sarampo.

“De certa forma, nós não precisamos saber de nada sobre ele. Mas ele é um símbolo do que estamos perdendo: uma grande diversidade humana”, conclui Whatson.

 

Por Vick B. Beker

 

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