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domingo 5 de janeiro de 2020 às 13:05h

Parlamento iraquiano aprova expulsão das tropas americanas do país

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O Parlamento iraquiano aprovou neste domingo (5) uma resolução que pede a retirada das tropas americanas do país. A medida é uma represália ao assassinato do general iraniano, Qassem Soleimani e do comandante militar iraquiano, Abu Mahdi al-Muhandis, mortos em um ataque realizado pelos Estados Unidos na sexta-feira no aeroporto internacional de Bagdá. Em paralelo, a Chancelaria do país convocou o embaixador americano e realizou reclamações formais à ONU contra a “perigosa violação de soberania iraquiana”.

Os EUA invadiram o Iraque em 2003 para derrubar Saddam Hussein, sob o falso pretexto de que ele tinha armas de destruição em massa, e oficialmente se retiraram em 2011. Posteriormente, foi feito um novo acordo específico para combater o Estado Islâmico, que a partir de 2014 ocupou várias cidades iraquianas. Os EUA mantêm atualmente cerca de 5 mil soldados no Iraque.

O acordo legal entre Bagdá e Washington afirma que as tropas americanas estão no Iraque “a convite” do governo local para combater o EI. Resoluções parlamentares, ao contrário de leis, não são vinculantes para o governo, mas parece improvável que Bagdá se recuse a acatar a medida aprovada neste domingo. Assim, na teoria, os americanos seriam forçados a retirar suas tropas do país.

“O governo iraquiano deve trabalhar para acabar com a presença de quaisquer tropas estrangeiras no solo iraquiano e proibi-las de usar seu território, espaço aéreo ou águas territoriais, por qualquer razão”, diz a resolução.

Convocada após o ataque contra Suleimani, a sessão parlamentar extraordinária foi aberta pelo primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi, que disse que pôr um fim a presença de soldados estrangeiros no país é o melhor para o Iraque, apesar das dificuldades internas e externas que isso pode causar.

Ele disse ainda o presidente americano, Donald Trump, o telefonou para pedir que mediasse a crise entre os EUA e o Irã e, em seguida, ordenou o ataque de drones que matou Soleimani e Mahdi al-Muhandis, vice-comandante das Forças de Mobilização Popular (FMP). Segundo Mahdi, o general iraniano estaria carregando a resposta para uma iniciativa saudita para aliviar as tensões quando foi morto.

Combate ao EI é afetado

A aprovação da medida, no entanto, foi antecedida por discussões. Facções vinculadas às FMP, coalizão de milícias xiitas pró-Irã formadas em 2014 para combater o Estado Islâmico no Iraque, defendiam a expulsão, enquanto muçulmanos sunitas e grupos curdos defendem a presença americana.

Os soldados americanos no país fornecem apoio essencial para as forças iraquianas que buscam combater milhares de integrantes do EI em areas rurais remotas, nos desertos e montanhas. Elas também são fundamentais no auxílio a outros parceiros militares da coalizão contra o EI, incluindo os países europeus.Sem a  vigilância, a Inteligência, o transporte e o suporte aéreo dos EUA, especialistas apontam, as operações militares iraquianas seriam detectadas rapidamente pelos insurgentes, dando-os amplo tempo de fuga e permitindo a reconstrução do grupo.

Até mesmo o pequeno contingente de mais de mil militares americanos que ainda combatem o Estado Islâmico na Síria não conseguiriam se sustentar sem o apoio das tropas dos EUA no Iraque. Alguns analistas argumentam que a diminuição do contingente americano na Síria teria, por si só, sido suficiente para deixar os militares restantes suscetíveis a ataques.

Há anos, Suleimani era visto pelos americanos como um grande inimigo: após a invasão do Iraque, em 2003, ele ajudou a formar milícias xiitas no Iraque que foram responsáveis pelos assassinatos de centenas de americanos. Ele, no entanto, se transformou em aliado de Washington em 2014  — na ocasião, cléricos xiitas do país persa e americanos haviam entrado em consenso sobre a necessidade de lutar contra os militantes do sunita EI. Suleimani foi um dos responsáveis pela construção da FMP, que realizava boa parte dos combates terrestres para expulsar insurgentes da Síria e do Iraque.

— Este é precisamente o tipo de Deus ex machina que a organização [o EI] precisava para permitir sua operação e escapar de sua marginalidade atual — disse Sam Heller, analista do International Crisis Group que estuda a luta contra o Estado Islâmico, ao New York Times.

Reclamações à ONU

Horas antes da resolução ser aprovada, a Chancelaria iraquiana convocou o embaixador dos Estados Unidos no país, Matthew Tueller, para denunciar “uma violação da soberania do Iraque” após o ataque que matou Soleimani, no aeroporto internacional de Bagdá. Segundo o Ministério, “as operações militares ilegítimas realizadas pelos Estados Unidos são ataques e atos condenáveis que podem causar uma escalada de tensões na região e constituem uma violação de soberania”.

A Chancelaria também enviou reclamações oficiais para o secretário-geral da ONU, António Guterres, e para o Conselho de Segurança, em razão dos “ataques americanos, agressões a posições militares iraquianas e o assassinato de comandantes de alto nível iraquianos e aliados no solo do Iraque”. Segundo o comunicado, os ataques são “uma perigosa violação da soberania iraquiana no que diz respeito à presença americana no Iraque.

Liderada pelos EUA, a coalizão internacional que combate o EI disse que interrompeu o treinamento e o apoio às forças de segurança iraquianas devido aos ataques aéreos contra as bases militares que abrigam suas tropas.

“Nossa prioridade é proteger todo o pessoal da coalizão comprometido com derrotar o EI. Repetidos ataques aéreos nos últimos dois meses realizados por elementos da Kataib Hezbollah causaram a morte de um funcionário das forças de segurança iraquianas e de um civil dos EUA”, diz o comunicado emitido pelo comando americano.

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